Salvamentos na Antártida são MUITO perigosos
Um avião Twin Otter fez um resgate de um membro doente da equipe da base científica americana Amundsen-Scott no Polo Sul no último dia 21 de junho.
Uma missão deste tipo é muito rara. O inverno na Antártida é bastante solitário. A cada ano, apenas algumas pessoas permanecem no continente para manter as estações de pesquisa em funcionamento. No geral, eles precisam se virar, mesmo se tiverem de repente um problema médico.
Inclusive, pesquisadores e funcionários já tiveram que lidar com condições que variam de câncer de mama a acidente vascular cerebral sem recorrer a evacuações imediatas. Isso porque o perigo de aterragem de um avião no inverno antártico não pode ser subestimado.
Sucesso
O mais recente resgate na estação Amundsen-Scott evacuou um membro cujo nome e condição não foram revelados. No entanto, as duas experiências passadas de evacuação sugerem que a situação deve ter sido grave.
O avião conseguiu pousar no Polo Sul com segurança, mais tarde retornando à estação britânica Rothera, a cerca de 2.400 quilômetros de distância.
Desafios
Quarenta e oito pessoas estão passando o inverno na estação Amundsen-Scott. O frio é inimaginável: de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, foi de menos 62 graus Celsius às 14:00 EDT no dia 22 de junho.
Essa temperatura é um desafio para qualquer piloto esperando pousar no Polo Sul. Isso porque o combustível do avião pode congelar. O fluido hidráulico começa a virar gel em torno de menos 58 graus Celsius. Twin Otters, os aviões usados para fazer estas missões de resgate de risco, têm peças que são quase inteiramente mecânicas, ajudando-os a evitar bloqueios hidráulicos.
Além disso, não há sol no Polo Sul agora. O último pôr do sol foi em março e o próximo nascer do sol só vai espreitar acima do horizonte em setembro. A escuridão é mais um dos grandes desafios para quem quer colocar um avião no chão no inverno antártico.
Durante o primeiro pouso do meio do inverno no Polo Sul, em abril de 2001, o trajeto da aeronave foi iluminado por duas fileiras de queima de lixo em barris ao lado da pista, de acordo com o livro “Amazing Flights and Flyers” (Frontenac House, 2010, sem tradução em português).
E mais desafios
Como se frio e escuridão não fossem suficientes, os invernos da Antártida são notoriamente inconstantes.
“O clima é muito extremo. Quero dizer, pode ir até menos 84 graus Celsius. Os ventos podem ter força de furacão e muitas vezes têm, especialmente no inverno”, disse o coronel Ronnie Smith, que já participou de missões de resgate e reabastecimento com a Força Aérea americana nas regiões polares, ao portal Live Science.
O vento nem sequer precisa ser forte para tornar o voo impossível. Rajadas de apenas 20 nós, ou cerca de 37 km/h, podem obscurecer a visibilidade. Com as baixas temperaturas, “a estrutura cristalina da neve muda de forma que ela fica como areia”, explica Smith. “É leve, é seca e facilmente se levanta no ar com uma brisa”.
Para agravar o problema, dados meteorológicos são irregulares no Polo Sul. Os satélites não orbitam diretamente sobre os polos, de maneira que os dados atmosféricos ficam disponíveis apenas durante uma parte do dia, enquanto tempestades podem aparecer em uma questão de horas na região.
“A partir do momento que o avião decola em Rothera, tudo pode mudar no momento em que finalmente chega ao Polo Sul”, afirma Smith sobre o voo de 10 horas.
Outros dois resgates
O primeiro resgate em um inverno no Polo Sul, em 2001, foi para uma evacuação de um médico seriamente doente com cálculos biliares e pancreatite. Uma aeronave Twin Otter equipada com esquis para a aterragem na neve foi utilizada nessa missão, bem como na atual.
Apesar do mau tempo, o pouso de 2001 foi relativamente suave, mas a decolagem se provou um desafio. As abas operadas hidraulicamente congelaram, exigindo um reparo imediato na pista. Os esquis do avião também congelaram. Dois trabalhadores de manutenção tiveram que balançar as pontas das asas para libertar a aeronave.
Houve pelo menos mais um resgate em pleno inverno antártico, de um engenheiro com colite ulcerosa na base Scott da Nova Zelândia, em 1991.
Mas, dados os riscos, salvamentos são raros. Para evitar missões de evacuação, muita gente precisou se virar nos 30 na Antártida.
…E quem se ferrou
Em 1999, uma médica tratou seu próprio câncer de mama na estação Amundsen-Scott, um processo que incluiu a fazer sua própria biópsia e tratar-se com medicamentos de quimioterapia derrubados na região por um avião.
A paciente, Jerri Nielsen FitzGerald, acabou sendo resgatada somente em outubro, no início da primavera antártica, e morreu em 2009 depois de uma recorrência de seu câncer.
Em 2011, um engenheiro no Polo Sul teve que esperar dois meses para resgate depois de ter um acidente vascular cerebral.
E, em 2002, anestesistas e cirurgiões ortopédicos de Boston ajudaram o único médico da estação Amundsen-Scott a fazer uma cirurgia no joelho de um meteorologista da estação, usando transmissões de voz e de vídeo para orientá-lo através da reparação de um tendão danificado.
Ou seja: é melhor não ficar doente no meio da Antártida. [LiveScience]