Neandertais foram extintos muito antes do que pensávamos (e com nossa ajuda)
Um novo estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirma que os neandertais desapareceram da Terra cerca de 10.000 anos antes do que pensávamos. A chegada dos humanos modernos na Europa pode ter sido o estopim para a extinção de nossos antigos primos da Idade da Pedra.
De acordo com o principal autor da pesquisa, Tom Higham, novas datações de fósseis sugerem que os neandertais foram isolados em partes da Europa e logo desapareceram, o que coincide com a chegada dos primeiros humanos modernos nesses pedaços de terra.
As evidências
Os neandertais viviam por toda a Europa, da Espanha a Sibéria. A espécie começou a aparecer no registro fóssil mais de 230 mil anos atrás, e acreditávamos que haviam se extinguido cerca de 30.000 anos atrás.
Os novos resultados sugerem que, enquanto a Europa era uma fortaleza neandertal cerca de 45.000 anos atrás, a espécie desapareceu dentro de 5.400 anos em seguida.
A nova descoberta se baseia em 196 amostras de ossos de animais, conchas e carvão retiradas de 40 sítios arqueológicos neandertais localizados do Gibraltar ao Cáucaso. Grande parte dos ossos de presas, como veados, bisões e mamutes, trazem marcas de corte de um tipo de lâmina de pedra que os neandertais usavam.
A datação desses ossos sugere que os neandertais foram submetidos a uma diminuição da população cerca de 50.000 anos atrás, o que os deixou isolados em certas regiões mais ou menos na época em que os humanos modernos apareceram.
A pressão competitiva entre esses primeiros europeus, que caçavam muitas das mesmas espécies de presas, pode ter levado (ou ajudado a levar) os neandertais a se isolar, acelerando a extinção dessa espécie que havia resistido anteriormente a eras glaciais.
“Eu acho que a maioria dos meus colegas concorda que os seres humanos modernos desempenharam algum papel no desaparecimento dos neandertais”, disse Higham.
Não fizemos tudo sozinhos
A competição com os novos humanos pode ter sido um fator que levou a extinção dos neandertais, mas não foi o único.
Um grande vulcão que entrou em erupção na Itália na época do desaparecimento neandertal pode ter prejudicado as duas populações – nós e eles.
Em cima disso, um evento climático de resfriamento em torno de 40 mil anos atrás na Europa pode ter “dado o golpe de misericórdia na população neandertal, que já estava baixa em número e diversidade genética, e tentando lidar com a concorrência de grupos de Homo sapiens”, sugere Chris Stringer, do Museu de História Natural em Londres.
Prós e contras
Nem todo mundo concorda que a pesquisa é um destaque ou prova que os neandertais desapareceram antes do que pensávamos.
O paleontólogo Erik Trinkaus, da Universidade de Washington em St. Louis (EUA), é um dos que acha que partes do estudo estão “erradas” e argumenta que algumas das suas amostras não vêm verdadeiramente de cavernas neandertais em sítios rupestres.
“Não é nada novo ou interessante”, disse Trinkaus. “Há muito tempo sabemos que o desaparecimento do homem de Neandertal foi um processo longo, lento e complexo”.
A coautora e especialista em datação por radiocarbono Rachel Wood, da Universidade Nacional Australiana, em Canberra, defendeu as amostras, observando que as cavernas estão em conformidade com medições feitas de forma independente de cinzas vulcânicas.
Também, a paleontóloga Katerina Harvati, da Universidade de Tuebingen, na Alemanha, argumenta que datação mais precisa tem geralmente mostrado que a espécie se extinguiu antes dos 30.000 anos atrás, de forma que os novos resultados parecem razoáveis. “Na minha opinião, este trabalho representa a base de uma estrutura cronológica uniforme para os estudos neandertais”, afirmou. [NatGeo]