População de índios da amazônia teria relação genética com povos da Australásia

Por , em 23.07.2015

Uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui professores Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de São Paulo e Universidade Federal do Paraná, verificou que povos de índios da Amazônia possuem uma inesperada conexão genética a povos da Australásia. A descoberta sugere que uma onda de migração às Américas até então desconhecida aconteceu milhares de anos atrás.

Os resultados foram publicados na última terça-feira, dia 21, na revista “Nature”, e sugerem que há um conjunto mais diverso de populações ancestrais na América do que até então se conhecia. A descoberta surpreendeu os pesquisadores, que anteriormente trabalhavam com um modelo que indicava uma única origem comum a povos nativos das Américas Central e do Sul.

É consensual que todas as populações nativas americanas descendem de uma onda migratória oriunda da Ásia que chegou à região através do estreito de Bering há mais de 15 mil anos. Alguns dos grupos da América do Norte e Árticos têm adicionalmente ancestrais de migrações mais recentes. A grande novidade neste estudo é a constatação de que algumas populações da América do Sul têm, além da origem asiática, ancestrais possivelmente ainda mais antigos, compartilhados com populações da Australásia.

A equipe comparou a genética dos índios da América do Sul e América Central com os dados de outras populações. Alguns povos indígenas da Amazônia, incluindo os Suruí e Karitiana (de Rondônia) e os Xavante (de Mato Grosso), têm um ancestral mais próximo a povos da Oceania (nativos da Austrália, Nova Guiné e das Ilhas Andamão) do que a qualquer outro povo atual.

Novidade

A população ancestral foi nomeada pelos pesquisadores de “População Y”, por causa da palavra em Tupi para ancestral, “Ypykuéra”. Esses resultados mostram que o cenário dos ancestrais dos povos indígenas americanos é mais complexo do que se pensava.

Segundo os estudiosos, cerca de 2% da ascendência destes povos amazônicos de hoje vem dessa linhagem da Australásia, que, por sua vez, não está presente da mesma forma em outros lugares nas Américas. No entanto, isso não estabelece quanto de sua ascendência vem da População Y. Se a População Y fosse feita 100% de australasianos, isso significaria que eles contribuíram com 2% do DNA dos amazônicos de hoje. Porém, se a População Y tivesse se misturado com outros grupos, como os primeiros americanos antes de chegar no nosso continente, a quantidade de DNA com a qual contribuíram para os povos amazônicos atuais poderia ser muito mais de alta, chegando até a 85%.

Para responder a essa pergunta, os pesquisadores precisariam de uma amostra de DNA, que ainda não foi obtida, extraída dos restos de uma pessoa que pertenceu a essa População Y. Entretanto, um possível lugar onde ela poderia ser encontrada é nos esqueletos dos primeiros nativos americanos – a maioria encontrada no Brasil – cujos crânios, de acordo com alguns pesquisadores, têm características da Australásia.

A equipe inclui, ainda, pesquisadores da Harvard Medical School e do Broad Institute of Harvard and MIT. [Phys.org, UFPR, Nature]

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