Por que nós provavelmente não vamos prever o próximo terremoto

Por , em 21.03.2011

Há poucas áreas da ciência nas quais especialistas estão dispostos a fazer declarações definitivas de que algo é impossível. Ainda assim, esse é exatamente o caso da previsão de terremotos.

O recente terremoto de magnitude 8,9 japonês fez renascer esse debate. Porém, as grandes incertezas em torno desse evento natural continuam as mesmas.

Os terremotos ocorrem quando a energia é liberada de repente dentro da crosta do planeta, criando ondas sísmicas que viajam por todo o interior da Terra, e provocando agitação e rupturas na superfície ou em torno da falha entre as placas tectônicas. A liberação de energia de deformação elástica armazenada que se acumula ao longo dos limites das placas tectônicas é o que causa a maioria dos terremotos.

Sendo assim, a previsão de terremotos depende da previsão do próximo lançamento repentino de energia. Até certo ponto, isso é fácil de responder. Afinal de contas, ocorrem cerca de 500.000 terremotos por ano, e cerca de 100.000 desses tremores podem ser sentidos na superfície.

Isso significa que há praticamente um terremoto a cada minuto, a maioria agrupado nas diversas regiões que se encontram nas linhas de uma falha ativa. Na verdade, basta dizer a seus amigos que haverá um tremor de magnitude 5 ou 6 em Los Angeles (não se esqueça de não especificar quando), que haverá um tremor de magnitude 6 ou maior nas próximas duas semanas (só não mencione onde), e que um terremoto atingirá o sul da Califórnia nas próximas 48 horas (só não diga o quão forte), e você nunca vai estar errado.

É claro que não queremos saber desses tremores, e sim queremos prever aqueles que realmente podem causar sérios danos. Cerca de uma dúzia de terremotos a cada ano são de magnitude 7,0 ou superior, que é aproximadamente quando os terremotos começam a causar mais danos.

Isso significa que temos de ser capazes de descobrir, entre 500.000 tremores, cerca vinte terremotos graves em um determinado ano. Isso é mais ou menos como encontrar uma agulha no palheiro – um palheiro caótico.

Terremotos são, aparentemente, completamente aleatórios. Algumas teorias apontam sua previsão para fenômenos mais facilmente compreensíveis, como padrões climáticos, ciclos solares, e até mesmo quando um terremoto ocorreu pela última vez. Infelizmente, todas essas teorias são furadas.

Os terremotos se correlacionam com alguma fase da Lua? Não. Tendem a ocorrer durante um determinado tipo de clima? Não. E quanto à época do ano? Nenhuma específica. Eventos sísmicos anteriores? Pode ser. Mas pode não ser. Manchas solares, ciclos solares? Não.

Não importa quanto tempo se passou desde o último terremoto ao longo de um trecho específico de falha geológica. Não importa o que as pressões de fluidos subterrâneos estão fazendo: subindo, caindo ou flutuando. Não importa o que a condutividade elétrica do solo está fazendo. O comportamento das falhas de terremoto é um mistério. Sua previsão pode exigir o desenvolvimento de ferramentas matemáticas completamente novas e teóricas; e não devemos esperar um progresso significativo nessa direção em um futuro próximo.

Mas nem tudo está perdido. Sim, os terremotos são naturalmente caóticos, porém a teoria do caos tem uma matemática muito rigorosa, na qual é possível modelar todo o sistema caótico com grande precisão.

Podemos usar a matemática do caos para determinar a liberação total de energia nas diferentes placas tectônicas, e com isso podemos saber quais áreas do mundo estão em maior risco a longo prazo. Previsões de curto prazo continuam a ser um sonho, entretanto. Não podemos saber quando o “grandão” vai surgir, mas só o conhecimento de que ele provavelmente vai acontecer em algum momento no futuro, dá a cidade uma chance de se preparar.

Em 1974, a secretaria nacional de terremotos chinesa tomou duas decisões cruciais: a de que um grande terremoto atingiria o país nos próximos dois anos, e que o estranho comportamento animal e outros fenômenos bizarros poderiam ser um preditor útil de um evento sísmico.

Mais de 100.000 “observadores” foram treinados para ficarem atentos ao comportamento de animais (quando eles ficavam com medo ou ansiosos), à água que de repente escurecia e criava bolhas, e a relâmpagos aleatórios em céu claro, entre outras coisas.

Pouco depois de um terremoto menor, em dezembro de 1974, e após uma série de pequenos tremores em fevereiro de 1975, as autoridades chinesas tomaram a decisão de evacuar as pessoas de Haicheng, uma cidade do norte chinês com uma população de mais um milhão.

Um dia depois da evacuação, um terremoto de 7,3 graus na escala Richter atingiu o local, e especialistas calculam que mais de 150.000 pessoas teriam sido mortas ou feridas se o governo não tivesse tomado tal decisão precisa no momento certo.

Essa é considerada a única previsão de terremotos bem sucedida na história. Em 28 de julho de 1976, dois terremotos de 7,8 graus atingiram o norte da cidade chinesa de Tangshan, e desta vez houve pouco ou nenhum aviso prévio. O terremoto deixou cerca de 250.000 mortos e 164.000 gravemente feridos. Os métodos de previsão chineses haviam sido inúteis em Tangshan, o que questionou se seu “sucesso” inicial foi apenas uma coincidência espetacular.

Um dos problemas é que a sismologia ainda está em sua infância. A previsão do tempo, por exemplo, antes de se tornar amplamente aceita, teve de ser estudada por décadas. Cientistas pesquisaram sobre climatologia, dinâmica de fluidos e leis físicas que regem o oceano e a atmosfera em todas as escalas.

Também foi necessário recolher quantidades imensas de dados históricos e configurar satélites para monitorar o sistema oceano-atmosfera. Se as previsões de terremoto quiserem se tornar tão eficazes quanto às climáticas, os cientistas precisam levar a sismologia a um nível comparável.

A sismologia ainda está engatinhando nesse sentido. Muita pesquisa está sendo construída em torno do conceito de estresse mecânico, e tentando aplicar o comportamento de objetos à atividade sísmica. Alguns resultados foram positivos, mas ainda é cedo para saber se serão realmente eficientes.

Alarmes falsos também podem ser desastrosos. Uma série de previsões ruins pode levar a uma menor ênfase em uma coisa construtiva, que é a preparação. Esta é uma constatação dos geólogos após mais de um século de previsões falhas, algumas das quais destruíram carreiras antes brilhantes.

O renomado geólogo americano Bailey Willis criou um pânico em massa em 1925, quando previu um grande terremoto a ocorrer nos próximos cinco a dez anos. Ele teve que abandonar a sismologia de vez, embora um terremoto relativamente menor em 1933 lembrasse as pessoas de que ele não estava totalmente errado.

Também, em 1976, um pesquisador americano chamado Brian Brady reivindicou que seus experimentos de laboratório previam terremotos devastadores nas águas ao largo da costa do Peru entre 1981 e 1982, provavelmente criando um tsunami mortal.

Enquanto os sismólogos duvidavam que qualquer experimento de laboratório pudesse fazer tal previsão, as pessoas na América do Sul foram ficando compreensivelmente ansiosas sobre tal anúncio, e mesmo depois que Brian negou sua previsão, uma equipe de cientistas norte-americanos teve que visitar a América do Sul para resolver o que havia se tornado um incidente diplomático.

Não é divertido admitir que a ciência tem limites fundamentais, especialmente quando tantas vidas humanas estão em jogo. Mas é essencial que se entenda essas limitações e se reconheça também o potencial do que podemos fazer.

Se não pudermos prever terremotos, manteremos em mente o foco principal, algo realmente concreto e importante, que é a preparação. Preparação para terremotos, especialmente quando auxiliada por previsões de longo prazo, é o que realmente pode nos dar melhores chances de minimizar a extensão da destruição desses eventos. [io9]

3 comentários

  • Mario:

    nem quero que saibam

  • Edilson Lima:

    Carso, estamos vivendo no seculo 21 , as guerras tecnologica. Procurem saber sobre o projeto: H A R R P.

  • Rodrigo Paim:

    Pois é, esses bichinhos vão continuar dando trabalho por muito, muito, muito tempo.

    Só nos resta usar tecnologia de construção anti-terremoto, sistemas de avisos à população de risco, uma boa resposta da defesa civil, o básico que o Japão tem ( e mesmo assim o Japão se lascou, ok, foi mais por causa do tsunami que pelo terremoto, mas mesmo assim é fogo hein ).

    O máximo que se pode fazer é o que o japão faz, monitorar o solo para saber exatamente quando o tremor ocorre, alertando a população e dando um tempo extra de no máximo 1 minuto até que a onda de choque chegue.

    Apesar disso, o método de ver quando o último ocorreu, é bem útil. Não é preciso, mas já acertou algumas vezes, é o melhor que podemos fazer por enquanto.

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