Prescrição ruim? Estratégias para melhorar disparidades raciais de saúde podem dar errado

Por , em 27.12.2023

Técnicas adotadas por profissionais de saúde para promover o envolvimento de pacientes brancos americanos em informações sobre saúde mostram-se eficazes, mas podem ter efeitos negativos quando aplicadas a pacientes afro-americanos.

Um estudo recente da Universidade de Michigan aponta que iniciativas de saúde direcionadas podem não ser a solução para o problema da baixa participação em questões de saúde entre afro-americanos. Com frequência, esses pacientes sentem-se julgados pelos provedores de informações com base na sua raça.

Essa pesquisa, divulgada na revista Science e baseada em estudos publicados na edição de outubro do Journal of Communication, foi realizada pela psicóloga Allison Earl, da Universidade de Michigan, e por Veronica Derricks, da Indiana University-Purdue University Indianapolis. Elas exploraram as consequências negativas não intencionais do direcionamento de informações em sua abordagem de comunicação, especialmente em relação a grupos raciais sub-representados.

Allison Earl, professora associada de psicologia, declarou: “Direcionar informações para grupos raciais específicos que se sentem marginalizados leva a uma diminuição da atenção, confiança e disposição para participar de atividades relacionadas à mensagem para afro-americanos que vivenciam ameaças à sua identidade social.”

No entanto, tem havido pouco sucesso na obtenção de apoio para políticas voltadas à correção desses desequilíbrios, ressaltando a necessidade urgente de estratégias eficazes para mudar comportamentos.

O setor de saúde enfrenta vários desafios que impedem grupos minoritários de acessar informações de saúde precisas. Por exemplo, alguns profissionais médicos podem ter preconceitos raciais que afetam suas decisões clínicas, conforme apontou Allison Earl.

Além disso, políticas podem impactar negativamente o acesso dos afro-americanos a um atendimento de saúde de qualidade. Isso inclui a distribuição desigual de recursos, como vacinas, e a limitação de locais e horários de clínicas.

Na pesquisa de outubro, Derricks e Earl observaram que afro-americanos que receberam comunicações de saúde específicas sobre HIV ou gripe demonstraram menos interesse na mensagem e menos confiança em quem as transmitia. Por outro lado, esse tipo de mensagem direcionada não produziu uma reação semelhante entre os americanos brancos.

Apesar das persistentes disparidades de saúde, Earl ressaltou a falta de interesse de políticos, formuladores de políticas e do público em geral em tomar medidas decisivas para abordar essas desigualdades. Em alguns casos, pode até haver esforços para manter essas disparidades.

Ampliando a discussão, é importante considerar como o contexto social e cultural influencia a percepção e a recepção de informações de saúde. Diferentes comunidades têm suas próprias experiências, crenças e valores, que devem ser respeitados e entendidos pelos profissionais de saúde ao comunicar informações sobre saúde. Isso significa que abordagens de “tamanho único” podem não ser eficazes e, em alguns casos, podem até ser prejudiciais.

Além disso, há uma necessidade de maior representatividade e inclusão na área da saúde. Profissionais de saúde de diferentes origens e comunidades podem oferecer perspectivas valiosas e ajudar a criar mensagens de saúde mais relevantes e eficazes para diversos grupos populacionais.

Outro ponto crítico é a educação e formação de profissionais de saúde no que diz respeito à diversidade cultural e sensibilidade racial. É essencial que os profissionais de saúde sejam treinados para reconhecer e superar seus próprios preconceitos, e que sejam capazes de fornecer cuidados que respeitem as diferenças individuais e culturais.

Em suma, a pesquisa de Earl e Derricks ressalta a complexidade e a importância de considerar as nuances culturais e raciais na comunicação de informações de saúde. Abordagens mais personalizadas, sensíveis à cultura e inclusivas podem não apenas melhorar a eficácia da comunicação em saúde, mas também ajudar a construir confiança e melhorar os resultados de saúde em comunidades diversas. [Medical Express]

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