Pseudociência: conheça o que foi provavelmente o golpe mais longo dessa “ciência”
Ao longo dos anos, muitas pessoas disseram ter inventado uma máquina de movimento perpétuo.
John Keely foi uma dessas pessoas, que obviamente não inventou nada sequer semelhante a isso, mas que foi muito mais esperto que todos os outros golpistas e conseguiu enganar as pessoas ao longo de mais de 25 anos.
Sua história
Órfão em tenra idade e criado por seus avós, Keely lentamente fez seu caminho pelo mundo. Ele começou a trabalhar como camelô de parques de diversões, entretendo pessoas com shows. Conseguiu chegar até o mundo teatral e arrumou um emprego em uma orquestra teatral, que acabou perdendo.
Vendo que sua carreira como artista não ia dar em nada, Keely decidiu mudar de marcha e procurar um emprego como mecânico.
Não demorou muito para que seu lado dramático florescesse, no entanto. Aliando a mecânica com seu dom para entretenimento, ele começou um golpe de enorme sucesso que durou 26 anos.
Em 1872, Keely criou a empresa Keely Motor Company. Logo, começou a dizer que havia inventado um motor que poderia funcionar, essencialmente, para sempre, e que só precisava de um pouco de dinheiro para tornar a tecnologia prática para uso.
Pseudociência e seus alvos
Keely se reuniu com acionistas ricos e chegou a dar uma demonstração do motor. O aparelho, que usava apenas um pouco de água como combustível, era feito de ferro e funcionava por semanas sem parar.
O golpista disse aos investidores que o motor usava uma “vibração liberada a partir do ar e da água em um éter inter-atômico”. Também disse que descobriu esta força enquanto tocava música e observava as vibrações do diapasão (instrumento metálico em forma de forquilha). Os investidores deram-lhe o equivalente a milhões de dólares para que desenvolvesse a máquina.
Quatorze anos depois, eles começaram a ficar um pouco impacientes com a falta de progresso. A invenção de Keely, que funcionava admiravelmente cada vez que os investidores o visitavam, por alguma razão nunca estava pronta para uso industrial.
Fim para o mestre da enganação?
Não. A paciência dos investidores tinha acabado, mas as fontes possíveis de renda não. Keely foi bater em outras portas. Especificamente, na de uma rica viúva.
Clara Jessup Bloomfield Moore tinha muito dinheiro e interesses. Como muitas pessoas na década de 1800, o espiritismo era um desses interesses. Esta foi uma época em que a população era bem versada em sessões espíritas e comunicados de civilizações antigas. Keeley se aproveitou disso para “vender” sua máquina de movimento perpétuo, desta vez abandonando os jargões científicos sobre átomos e éter e discursando sobre “força sideral”.
Esta força, Keely alegou, em primeiro lugar tinha sido descoberta pelos antigos moradores de Atlântida. Eles eram misteriosos além das palavras – e as passaram para Keely enquanto ele fazia coisas como tocar gaita para sua máquina.
Curiosamente, Keely foi relativamente “justo” com Moore. Ele afirmou, quase de imediato, que a força sideral era do “plano astral” e que “nunca seria permitido servir aos propósitos de comércio ou tráfego”.
A humanidade, segundo ele, estava “centenas de milhares de anos” longe de estar pronta para essa força. Moore teria que apoiar Keely para o mero objetivo do avanço da humanidade a um plano mais nobre da existência.
Isso, ela parecia feliz em fazer. Moore enviou outro casal de cientistas para conversar com Keely, que lhe avisaram que ela estava sendo enganada, mas isso só a fez diminuir – e não parar – seu investimento em Keely ao equivalente a US$ 7.000 por mês nos anos 1880 (cerca de R$ 16.000).
Keely morreu enquanto ainda estava sendo patrocinado por Moore. Sua grande invenção acabou por ter sido alimentada, o tempo todo, por ar comprimido.
Como ele aperfeiçoou duas maneiras de atirar areia nos olhos das pessoas – jargão cientifico e jargão espiritual -, ninguém nunca precisou saber disso. [io9]