Quanto tempo o ser humano sobrevive sem água ou comida?
Em 2011, Rita Chretien, uma mulher canadense, sobreviveu depois de ficar presa dentro em um veículo por 48 dias comendo apenas uma mistura de grão e doces e bebendo água de um riacho. Aparentemente, ela e seu marido estavam seguindo as instruções do GPS a caminho de Las Vegas e saindo de British Columbia quando pegaram uma estrada rural que, essencialmente, se transforma em um pântano nos meses de inverno.
Eles ficaram presos na lama no meio do nada, e ambos esperaram por ajuda por 3 dias sem avistar ninguém. Neste ponto, Albert Chretien, o marido, foi procurar ajuda, enquanto Rita permaneceu dentro do veículo. Quando ela foi encontrada por um grupo de caçadores, estava quase morta e tinha perdido cerca de 14 quilos. O corpo do marido também foi encontrado depois por caçadores, a cerca de 11 quilômetros de onde tinham ficado presos.
Esta é uma das histórias que destacam a capacidade humana de sobreviver por longos períodos de tempo sem alimentos.
Escassez de informação
Conforme explica o pesquisador Peter Janiszewski, devido a preocupações éticas óbvias, não há uma abundância de dados científicos credíveis sobre o tema da inanição e sobrevivência. Em vez disso, há muitos relatos de casos, quer voluntários ou involuntários, de inanição completa ou quase completa, que nos permitem tirar algumas conclusões muito gerais.
Um dos mais conhecidos casos de inanição voluntária é a greve de fome de Mahatma Ganhdi. Durante seu protesto, Gandhi não comeu absolutamente nenhum alimento e só tomou alguns goles de água durante 21 dias – e sobreviveu. O extraordinário sobre esse caso é o fato de que Gandhi era muito magro quando começou a sua greve de fome, assim, não tinha muita reserva de energia desde o início. Além disso, deve notar-se que é relatado que, durante sua vida, Gandhi teria realizado um total de 14 greves de fome.
Em um editorial de 1997, no “British Medical Journal”, Michael Peel revisou brevemente a literatura disponível sobre a fome humana. Geralmente, parece que os seres humanos podem sobreviver sem qualquer alimento durante 30 a 40 dias contanto que estejam adequadamente hidratados. Sintomas graves de fome começam em torno de 35 a 40 dias e, como destacado pelos grevistas da Maze Prison, em Belfast, na década de 1980, a morte pode ocorrer em aproximadamente 45 a 61 dias.
A causa mais comum de morte nestes casos extremos de inanição é enfarte do miocárdio ou falha de órgãos, e sugere-se que isso ocorra mais frequentemente quando o índice de massa corporal de uma pessoa (IMC) atinge cerca de 12,5 kg/m².
Caso a caso
Obviamente, seria de esperar uma acentuada variabilidade entre dois indivíduos em sua capacidade de suportar a fome. Como sugerido em um artigo da “Scientific American” por Alan Lieberson, o período de sobrevivência sem alimentos é grandemente influenciado por fatores como peso corporal, variação genética, outros aspectos de saúde e, mais importante ainda, a presença ou ausência de desidratação.
“A composição corporal também desempenha provavelmente um papel fundamental; para o mesmo peso corporal, o indivíduo com uma maior percentagem de gordura corporal tem uma maior capacidade de armazenamento de calorias”, aponta Janiszewski. “Além disso, uma menor massa muscular, em geral, é associada com o consumo calórico reduzido. Isto, por extensão, poderia de sugerir que as mulheres podem ter uma vantagem de sobrevivência sobre os homens devido às suas relativamente maiores reservas de gordura”.
Para sobreviver é preciso de água, muita água
O fator mais importante, no entanto, parece ser a hidratação.
No exemplo do início do texto, Rita Chretien sobreviveu a sua provação 48 dias, em grande parte devido à disponibilidade de neve derretida para beber. Caso não houvesse água disponível, Rita poderia não ter se saído tão bem. Em exemplos de indivíduos hospitalizados que estão em um estado vegetativo persistente e que são tirados da sustentação artificial, a morte acontece dentro de 10 a 14 dias.
É importante lembrar que estes indivíduos estão em coma e completamente imóveis, consumindo a menor quantidade de energia possível. Assim, pode-se supor que nas mesmas condições (sem alimentos ou água), o processo aconteceria muito mais rápido em uma pessoa pelo menos um pouco ativa e que poderia transpirar.
Por isso, se você gosta de explorar a natureza, vale sempre ter em mãos uma oferta razoável de água. Além disso, como fica em evidência pelo exemplo de Christopher McCandless (cuja história virou filme em “Na Natureza Selvagem”), evitar comer plantas e arbustos desconhecidos também pode ser uma estratégia-chave de sobrevivência. [Medical Xpress, The Globe and Mail]
2 comentários
só uma correção, Christopher McCandless não morreu por desconhecer a planta mas sim por, na época, não haver informação suficiente a respeito da mesma. Se o guia que McCandless tinha sobre plantas comestíveis advertisse que as sementes Hedysarum alpinum continham uma neurotoxina que poderia causar paralisia, ele provavelmente teria saído desta região selvagem no final de agosto, com mais dificuldade do que quando ele entrou, em abril, mas ainda assim estaria vivo hoje.
Que legal, matamos os pacientes comatosos por inanição, depois falam de crueldade de eutanásia.