Será que grãos como quinoa são mais saudáveis que trigo?

Por , em 9.12.2015

Você deve ter notado que os chamados “grãos antigos”, como quinoa e teff, estão na moda. Mas será que eles são uma opção mais saudável do que os grãos mais comuns com os quais estamos acostumados, como o trigo ou milho?

Hum… Não exatamente. A comercialização de grãos antigos é simplesmente um excelente truque de marketing que implica o que não se pode dizer na etiqueta do produto: que ele é mais saudável.

Como outros termos na moda, há uma certa verdade por trás da implicação. Grãos antigos têm fibra, têm proteína e tudo o mais, mas os grãos “modernos” também têm. Uma embalagem verde e um preço mais caro não devem ser sinônimos de “esta é uma comida orgânica provavelmente natural e saudável”.

Os grãos antigos

“Grãos antigos” têm esse nome porque não foram criados seletivamente na mesma extensão que culturas básicas modernas. Um grão de teff (planta nativa da Etiópia cuja farinha tem chamado atenção) crescido hoje é mais semelhante aos seus ancestrais selvagens do que um grão de trigo hoje em relação às culturas das quais descende.

Os grãos antigos também são, simplesmente, menos populares e, portanto, mais exóticos do que grãos mais comuns como milho, arroz e trigo, que compõem a maior parte da produção de grãos do mundo.

Alguns dos grãos antigos são variedades de trigo, tornando-os “grãos de cereais” assim como seus primos convencionais. Outros, como quinoa, são considerados pseudocereais, por serem parecidos, mas não fazerem parte da família das gramíneas.

Confira alguns dos frutos popularmente considerados “grãos antigos”:

  • Amaranto: cultivado cerca de 8.000 anos atrás pelos astecas;
  • Farro: um antepassado do trigo moderno, cultivado também cerca de 8.000 anos atrás. O nome farro se aplica a uma versão crescida na Itália;
  • Freekeh: trigo verde assado. É muitas vezes considerado um grão antigo, mas é na verdade da mesma espécie que o trigo moderno;
  • Trigo de Khorasan ou kamut: uma variedade de trigo de marca registrada que é parente do trigo moderno;
  • Milhete: cultivado pela primeira vez na China, e agora também comum na Índia e vários países africanos, incluindo a Nigéria;
  • Quinoa: cultivado pelo menos 3.000 anos atrás na América do Sul, e agora tão popular nos EUA que está causando grandes mudanças econômicas para os produtores bolivianos;
  • Espeta ou trigo-vermelho: outro parente do trigo, crescido na Europa em tempos medievais;
  • Teff: uma gramínea com sementes minúsculas, cultivada na Etiópia.

Nutricionalmente, estes grãos são semelhantes ao trigo. No teor de proteínas, por exemplo, 100 gramas de grãos crus variam no conteúdo de proteínas de 11 gramas (milho) até 15 gramas (kamut). O quinoa tem proteína de “alta qualidade”, mas é um erro confundir isso com uma grande quantidade de proteína. Quinoa tem mais que o arroz, mas aproximadamente a mesma quantidade que o trigo, por exemplo.

Enquanto cada grão tem um perfil nutricional ligeiramente diferente – o teff, por exemplo, é rico em cálcio -, nenhum é muito melhor do que o trigo. Todos são alimentos muito semelhantes, diferindo mais no preço e disponibilidade do que em qualquer detalhe nutricional.

Vale a pena comprar um alimento integral, seja qual for

Não estamos dizendo que você não deve comê-los. Apesar de grãos antigos não serem tão especiais assim em comparação com grãos comuns como trigo, eles ainda podem ser muito nutritivos.

Grãos antigos normalmente possuem farelo e gérmen intacto, o que significa que são grãos integrais. Grãos integrais são cheios de fibras, vitaminas e minerais, o que os torna definitivamente interessantes.

Em outras palavras, grãos antigos são excelentes, mas vários alimentos mais baratos, como aveia e pão de trigo integral, oferecem os mesmos benefícios. Então, ao invés de procurar um produto exótico com a ideia errônea de que ele é intrinsecamente melhor, vale mais a pena procurar um alimento integral – afinal de contas, é isso que faz a diferença.

O que há de errado com trigo?

Em alguns círculos, o trigo é considerado um vilão. Mark Sisson argumenta que o trigo moderno tem menos selênio do que os grãos antigos, e que tem mais de um componente supostamente prejudicial de glúten.

Essas afirmações não têm evidências científicas para suportá-las. Deficiência de selênio é extremamente rara, quer você coma trigo ou não. Além disso, o trigo moderno não tem mais glúten do que costumava ter no passado.

Evitar trigo só faz sentido se você tem doença celíaca ou se você não se sente bem quando consome alimentos com glúten. Sensibilidade ao glúten (para os que não possuem doença celíaca) é controversa, mas seus sintomas são reais, e é totalmente razoável evitar trigo se você acha que faz mal para você.

Se o seu problema for glúten, evite também farro, kamut e espelta, todos os parentes próximos do trigo que também contêm a substância.

Não caia em golpes publicitários

Quando falamos em consumir grãos, devemos lembrar que eles são comercializados de forma industrializada. Não é como se você colhesse trigo do seu jardim para usar no jantar.

Então, você não pode se esquecer nunca de que as pessoas que fazem e vendem alimentos no mercado tentam te enganar. É a vida. Isso acontece bastante na comercialização de grãos antigos, onde seu valor para a saúde fica “implícito”, sem quaisquer alegações específicas.

Nos EUA, um bom caso para servir de exemplo é de empresas de cereais como “Cheerios”. Em comparação com seus produtos originais à base de aveia, a versão com grãos antigos tem a mesma quantidade de proteína (3 gramas por porção) e menos fibra (2 gramas, em vez de 3).

É também “levemente adoçado” com 5 gramas de açúcar, em vez da grama única do produto mais convencional. Do ponto de vista puramente nutricional, é melhor comprar os Cheerios mais comuns. A empresa só está comercializando cereais de grãos antigos para capitalizar em cima de uma tendência de mercado – a de achar que esses grãos são sempre mais saudáveis.

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