Ressuscitando os mortos: empresa de biotecnologia ganha permissão para tentar

Por , em 10.05.2016

Em um movimento no mínimo controverso, uma empresa de biotecnologia dos EUA recebeu permissão para recrutar 20 pacientes clinicamente mortos e tentar trazer o seu sistema nervoso central de volta à vida.

Se eles puderem reanimar com êxito partes da medula espinhal superior, onde o tronco cerebral inferior está localizado, há uma possibilidade de que eles possam fazer voltar a funcionar funções vitais do corpo, como respiração e batimentos cardíacos – algo que estes pacientes só podem fazer com a ajuda de máquinas.

“Isso representa o primeiro estudo desse tipo e mais um passo para a eventual reversão da morte em nossa geração”, animou-se o CEO da Bioquark Inc., Ira Pastor, em entrevista ao jornal The Telegraph.

A equipe da Bioquark, a quem foi concedida a permissão de um Conselho de Revisão Institucional dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da Índia para iniciar os ensaios clínicos assim que estiverem prontos, diz que pretende começar a recrutar pacientes para o seu chamado Projeto ReAnima imediatamente.

O ensaio clínico de fase 1 é descrito como uma prova de conceito não randomizada para determinar se é possível reverter a morte cerebral usando uma combinação de técnicas, incluindo a administração de drogas, estimulação de nervos e terapia a laser.

Esse é o melhor cenário – se falhar em uma reanimação real do sistema nervoso central, a equipe irá investigar se eles podem afetar qualquer alteração nas meninges do cérebro – camadas de tecido que ficam entre o crânio e a superfície do cérebro.

Em particular, a equipe vai procurar melhorias no pulso dos pacientes, a saturação de oxigênio no sangue, pressão arterial e respiração.

Uma vez que tenha sido concedida a permissão das famílias, os pesquisadores vão tratar seus 20 pacientes clinicamente mortos ao longo de um período de seis semanas no Hospital Anupam, em Rudrapur, Índia. Depois disso, eles serão monitorados por vários meses para ver se ocorreram quaisquer alterações.

“Esperamos ver resultados dentro dos primeiros dois a três meses”, prevê Pastor.

Caminhos para o milagre

Mas como a Bioquark pretende trazer de volta os mortos? A equipe administrará quatro diferentes tipos de tratamentos:

  • Injeção de peptídeos (cadeias simples de proteína) na medula espinhal, numa base diária;
  • Injeção de células-tronco no cérebro duas vezes por semana;
  • Terapia a laser transcraniana, um tratamento não invasivo que utiliza a luz para penetrar o crânio para ativar os processos de recuperação naturais do corpo e que já foi testado em acidentes vasculares cerebrais, enxaqueca e em pacientes com Parkinson no passado;
  • Estimulação dos nervos – outra técnica não invasiva que envolve a entrega de impulsos elétricos ao nervo mediano do membro superior.

“Para realizar uma iniciativa tão complexa, estamos combinando ferramentas biológicas de medicina regenerativa com outros dispositivos médicos existentes normalmente utilizados para a estimulação do sistema nervoso central, em pacientes com outras doenças graves de consciência”, diz o CEO.

Os pesquisadores vão testar se essa combinação de tratamentos pode ajudar a alavancar o processo de regeneração celular nas suas 20 cobaias, assim como as células das salamandras são capazes de regenerar automaticamente e criar novas células de tecido e de músculos para reconstruir membros inteiros.

Mortos-vivos

Os pacientes com “morte cerebral”, ou clinicamente mortos, são mantidos vivos apenas através do trabalho das máquinas de suporte de vida, o que significa que eles não podem respirar ou muitas vezes circular o próprio sangue por conta própria, e seus cérebros tiveram todas as funções completamente desligadas.

Muitos mantêm determinadas funções vitais, porém, como o processamento de resíduos, digestão de nutrientes, cura de feridas, crescimento e envelhecimento – algumas mulheres com morte cerebral podem até mesmo gestar um bebê. Se pudermos descobrir como fazer seus cérebros trabalharem de novo, há esperança de que eles possam recuperar alguma forma de vida.

Mas há um longo caminho pela frente – e isso se esta tentativa encontrar quaisquer resultados positivos. Por enquanto, os pesquisadores estão dando um passo de cada vez.

“É uma visão de longo prazo nossa de que uma recuperação total nestes doentes é uma possibilidade, embora não seja o foco deste primeiro estudo – mas é uma ponte para essa eventualidade”, salienta Pastor.

“Através de nosso estudo, nós ganharemos uma visão única para o estado de morte cerebral humano, que terá ligações importantes para o desenvolvimento terapêutico futuro para outras condições graves de consciência, tais como coma, estado vegetativo e estados minimamente conscientes, bem como uma gama de condições degenerativas, incluindo Alzheimer e Parkinson”, acrescentou o fundador e presidente da Bioquark Inc., Sergei Paylian.

Nesta fase, devemos tratar isso como um tiro no escuro, mas se tem uma coisa que a ciência faz bem é surpreender, por isso vamos ter que esperar e ver o que acontecerá. [Science Alert]

3 comentários

  • Rodolfo Jose Andrello:

    Contratem as rezas do waldomiro santiago pra administrar como placebo.

  • EvandroJGC:

    Mas, falando sério, se der certo, isso vai abrir diversas oportunidades de tratamentos, como para morte cerebral, coma etc., o que é ótimo!

  • EvandroJGC:

    Pelo que vi no filme que estragou uma boa história do Lovecraft, o Re-Animator, pode dar bem errado…

Deixe seu comentário!