Teríamos um negador do Aquecimento Global como MINISTRO DA CIÊNCIA?

Por , em 11.01.2015

Não preciso dizer para ninguém que a política é uma ciência complicada. E, muito mais do que a gente gostaria, não chega nem perto de ser exata. Digo isso especialmente porque o presidente (ou presidenta) de qualquer democracia tem uma tarefa complicadíssima na hora de eleger seus ministros.

Um dos motivos que deixa essa seleção de “braços direitos” tão difícil é que muita vezes essas escolhas são feitas com o objetivo de fortalecer algumas alianças com outros partidos e, dessa forma, fazer aquele tradicional meio de campo em uma série de círculos eleitorais. O que, em outras palavras, quer dizer que nem sempre os cargos recebem as pessoas mais capazes.

Recentemente, o jornal estadunidense The New York Times publicou uma matéria falando que, mesmo compreendendo que a política muitas vezes funciona assim, “é realmente difícil entender como a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que tem sido repetidamente pressionada por forte ação global para frear a mudança climática, poderia justificar a sua escolha de Aldo Rebelo como seu novo ministro da ciência, tecnologia e inovação”.

Por que Aldo Rebelo não seria a melhor escolha para o cargo?

Segundo o jornal estadunidense, Rebelo não tem o embasamento científico que se espera de uma pessoa que ocupe esse cargo.

Outra acusação do jornal são seus “ataques até mesmo aos aspectos mais básicos estabelecidos da ciência, como evidências de que o agravamento do aquecimento global é causado pelos seres humanos”.

A matéria embasa suas acusações em declarações de Steve Schwartzman, do Fundo de Defesa Ambiental, que tem estado imerso na ciência ambiental e florestal brasileira, bem como em nossa política, durante décadas.

De acordo com The New York Times, as críticas de Schwartzman começam com o papel principal de Rebelo na elaboração de revisões controversas ao Código Florestal do país. E, em seguida, centra-se neste excerto de uma carta aberta que Rebelo enviou em julho passado para Márcio Santilli, um congressista ex-ambientalista respondendo às suas críticas (ênfase nossa):

O cientificismo positivista que você opõe à minha devoção ao materialismo dialético como uma ciência da natureza não terá o condão de me converter à doutrina de fé que é a teoria do aquecimento global, ela sim incompatível com o conhecimento contemporâneo. Ciência não é oráculo. De verdade, não há comprovação científica das projeções do aquecimento global, e muito menos de que ele estaria ocorrendo por ação do homem e não por causa de fenômenos da natureza. Trata-se de uma formulação baseada em simulações de computador. De fato, por minha tradição, filio-me a uma linha de pensamento cientifico que prioriza a dúvida à certeza e não deixa a pergunta calar-se à primeira resposta. A par dos extraordinários avanços e conquistas que a Ciência tem legado ao progresso da Humanidade, inserem-se em sua trajetória inumeráveis erros, fraudes ou manipulações sempre tecidas a serviço de interesses dos países que financiam determinadas pesquisas ou projeções. Tenho a curiosidade de saber se, os que hoje acatam a teoria do aquecimento global e suas afirmadas causas antropogênicas como um dogma pétreo, são os mesmos que há alguns anos anunciavam, como idêntica certeza divina, o esfriamento global.

Depois de a ONU fazer avisos alarmantes sobre o agravamento do aquecimento global e lermos tantas notícias de que o mundo está aquecendo mais rápido do que pensávamos, você pode imaginar a forma como Santilli reagiu a nomeação de Aldo Rebelo.

Em uma entrevista com Simon Romero para uma matéria no The Times, ele disse: “No começo eu pensei que era algum tipo de engano, que ele estava brincando de dança das cadeiras e sentou na cadeira errada… Infelizmente, lá está ele, supervisionando a ciência brasileira em um momento muito delicado, quando as emissões de carbono do Brasil estão em ascensão novamente”.

Para Schwartzman, Dilma Rousseff fez uma outra escolha que também é um “mau presságio” para a floresta amazônica e seus habitantes indígenas. Ele defende que a nova ministra da Agricultura, Katia Abreu, foi a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (associação nacional de grande e de médio porte latifundiários e pecuaristas). Como senadora, ela privilegiou poderosos proprietários de terras anti-ambientalistas, anti-indígenas e ganhou, entre os ambientalistas, o título de “rainha motosserra”.

No Bloomberg View, um dos principais provedores mundiais de notícias sobre o mercado financeiro, Mac Margolis, que anteriormente era um correspondente na América Latina para a Newsweek e escreveu um livro na fronteira da Amazônia há 22 anos, acrescentou seu ponto de vista sobre Aldo Rebelo estar ocupando o cargo de Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação:

Negar a mudança climática não é única contribuição de Rebelo ao obscurantismo político. Como um parlamentar em 1994, quando o Brasil estava começando a modernização do serviço público, ele exigiu que o governo abandonasse a ‘tecnologia inovadora de economia de trabalho’, como computadores e elevadores automáticos. A proposta foi discretamente engavetada, por conta do medo de criar, entre outras monstruosidades, ‘uma burocracia assustadora’. Ele teve mais sucesso mais tarde ao parar as bombas de combustível de auto-atendimento nos postos de abastecimento brasileiros, poupando assim um exército de empregados mal pagos vestidos em seus macacões.

Então, em 2001, ele procurou proibir o uso de termos da língua inglesa, como ‘drive-in’ e ‘software’. Destemido, Rebelo está de volta, exótico como sempre, desta vez com um cargo mais expressivo. Como ele se encaixa na missão de Rousseff para tornar o Brasil uma nação moderna e ambientalmente sustentável, é uma questão que permanece em aberto. Mas ela poderia começar com a mudança de gabinete.

Pagamos a gasolina ainda mais caro, para sustentar trabalho pouco qualificado de frentistas. Postos automatizados são proibidos no Brasil para dar emprego, mas são norma em países desenvolvidos.

Vai ser interessante ver se Rebelo acompanha Rousseff para a próxima grande rodada de negociações do tratado climático em Paris, que acontece em dezembro. Esperamos que, independente de partidos, as melhores decisões sejam tomadas. [The New York Times]

9 comentários

  • Luís Pelin Martins:

    Até que enfim um pouco de razão, por que caso vocês não saibam não existe mesmo aquecimento global causado por seres humanos.

    • Marcelo Ribeiro:

      Caso não saiba, você está falando bobagem. 97% dos cientistas da área, que estudam e publicam sobre o assunto, concordam que existe.

    • Cesar Grossmann:

      Luís, não é o que as pesquisas apontam. Claro, você não precisa acreditar na ciência. Mas tem que ser coerente e rejeitar toda ela…

  • Aliane Demezuk:

    Pagamos gasolina cara não por causa dos salários dos frentistas e sim por causa da enorme carga tributária, roubos, desvios…

    • Marcelo Ribeiro:

      Pagar salário para os frentistas é uma das causas são. Mas ninguém afirmou aqui que é a única.

  • Rodrigo Franz:

    Acho que há um preconceito, não podemos afirmar que ele não tenha mudado o seu ponto de vista.

    • Marcelo Ribeiro:

      Se mudou deveria torná-lo público pelo cargo que ocupa.

  • samuel.martins:

    Este cara como ministro é uma piada. Quando ministro dos esportes seus argumentos defendendo a construção de estádios eram risíveis.

  • Marcello Sevach:

    A única escolha boa que a presente fez foi o presidente do banco Central o resto não entendi nada dos cargos que exercem.

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