Punhal encontrado no túmulo de Tutancâmon é feito de meteoro

Por , em 5.06.2016

Um novo estudo aponta que o faraó Tutancâmon foi enterrado com um punhal feito de um ferro que literalmente veio do espaço. Usando uma espectrometria não invasiva de fluorescência raio-X portátil, uma equipe de pesquisadores italianos e egípcios confirmaram que o ferro do punhal colocado junto à coxa direita do corpo mumificado do rei menino tem origem meteórica.

A equipe, que inclui pesquisadores do Politécnico de Milão, da Universidade de Pisa e do Museu Egípcio, no Cairo, detalhou os seus resultados na revista Meteoritics and Planetary Science.

A arma, agora em exposição no Museu Egípcio, foi descrita em 1925 por Howard Carter, que três anos antes tinha descoberto o túmulo repleto de tesouro, como “um punhal de ouro altamente ornamentado com um botão de cristal”.

Feita de metal não oxidado e homogêneo, a lâmina finamente fabricada de forma manual possui uma alça de ouro decorada. É completada por uma bainha de ouro decorada com um motivo floral de lírios de um lado, e com um padrão de penas do outro, terminando com uma cabeça de chacal.

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Níquel e cobalto

Agora, melhorias tecnológicas decisivas permitiram aos pesquisadores determinar a composição da lâmina. “Ferro meteórico está claramente indicado na composição pela presença de uma alta porcentagem de níquel”, disse Daniela Comelli, autora principal do estudo, do Departamento de Física da Politécnica de Milão, à Discovery News.

Na verdade, meteoritos de ferro são feitos principalmente de ferro e níquel, com pequenas quantidades de cobalto, fósforo, enxofre e carbono. Enquanto artefatos produzidos com minério de ferro possuem cerca de 4% de níquel, no máximo, a lâmina de ferro do punhal de Tutancâmon contém cerca de 11%.

Outra confirmação de origem meteórica da lâmina veio de vestígios de cobalto. “A relação de níquel e cobalto na lâmina do punhal é consistente com a de meteoritos de ferro que preservaram a relação condrítica primitiva durante a diferenciação planetária no início do sistema solar”, explica Comelli.

A origem

Comelli e seus colegas também investigaram a possível fonte da lâmina de ferro. “Levamos em consideração todos os meteoritos encontrados dentro de uma área de 2.000 km de raio centrado no Mar Vermelho, e acabamos com 20 meteoritos de ferro”, afirma a pesquisadora. “Apenas um, chamado Kharga, acabou por ter de níquel e cobalto que são possivelmente consistentes com a composição da lâmina”, acrescenta.

O fragmento de meteorito foi encontrado em 2000 em um planalto de calcário em Mersa Matruh, um porto marítimo a cerca de 240 km a oeste da antiga Alexandria.

O estudo mostra que os antigos egípcios atribuíam grande valor ao ferro de meteoritos para a produção de objetos preciosos, possivelmente entendendo esses pedaços de ferro caindo do céu como uma mensagem divina.

Fixação recorrente

Os mais antigos artefatos de ferro egípcios, nove pequenas esferas escavadas de um cemitério ao longo da margem oeste do Nilo, no túmulo Gerzeh, e datados de cerca de 3200 aC, também são feitos de ferro originário de meteoros martelado em folhas finas.

“Seria muito interessante analisar mais artefatos anteriores à Idade do Ferro, como outros objetos de ferro encontrados no túmulo de Tutancâmon. Poderíamos ter informações preciosas sobre tecnologias de metal no antigo Egito e no Mediterrâneo”, aponta Comelli.

Ela observou que a alta qualidade da lâmina da faca do faraó mostra que a metalurgia já era bem sucedida no século 14 aC.

A lâmina do punhal não é o único objeto celeste encontrado na tumba do rei menino. Seu peitoral, ou colar, apresenta um amuleto de escaravelho que não é de “calcedônia amarelo-esverdeada”, como Carter havia notado, mas de vidro de sílica do deserto da Líbia.

O vidro foi produzido pelo impacto sobre a areia de um meteorito ou cometa. Tal vidro natural existe apenas na remota e inóspita região do Great Sand Sea (“grande mar de areia”, na tradução livre) do Egito – o Deserto Ocidental. A fim de produzir o escaravelho, os antigos egípcios teriam de percorrer cerca de 800 km no deserto. [Live Science]

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