Verificação de temperatura está cada vez mais comum e pode causar mais danos do que ajudar

Por , em 22.07.2020
Medição de temperatura para conferir se há febre e potencial infecção por coronavírus na entrada de um supermercado
Imagem: Rodrigo Pessoa/TribunaPR

Verificações de temperatura para medir a febre para o Covid-19 estão se tornando lugar comum em diversos estabelecimentos pelo país. Se você estiver com febre (temperatura estiver acima de 38°C) você não poderá entrar. Inúmeros decretos estaduais e municipais pelo país recomendam ou obrigam estabelecimentos a realizar este procedimento nos clientes ou funcionários. Outros fazem como medida preventiva. Mas pesquisadores alertam que o procedimento não é apoiado por evidências científicas e, na realidade, pode ajudar o coronavírus a infectar mais pessoas.

“Nunca houve dados que demonstrem que isso impediu qualquer transmissão [de COVID-19]. A verificação da temperatura não tem valor. Deveria ser abandonada.”

Eric Topol, vice-presidente executivo do Scripps Research em entrevista para o Popular Science.

Talvez medir a febre tenha sido útil

As verificações de temperatura surgiram para barrar pessoas durante a epidemia de Sars, nos anos 2000. A utilidade da iniciativa ainda é tema de debate. No entanto temperatura corporal era uma indicação boa de possível infecção por SARS, já que 86% dos infectados desenvolviam febre.

No entanto o SARS-CoV-2, o coronavírus causador de Covid-19, é diferente do vírus daquela epidemia em aspectos fundamentais que “tornam as verificações de temperatura quase inúteis agora”, afirmou Mara Aspinall, professora de diagnóstico biomédico da Arizona State University (EUA) e presidente de uma empresa de biotecnologia, para o PopSci.

Porque medir a temperatura nos estabelecimentos não funciona contra o Covid-19

Os dados coletados até o momento sobre o Covid-19 indicam que menos de 50% dos pacientes tem febre. E as pessoas que são contagiosas transmitem antes da temperatura subir.

É pouco provável que aquelas pessoas com maior chance de transmitir o vírus de maneira assintomática (geralmente jovens) e aqueles mais vulneráveis (acima de 65 anos de idade e os imunocomprometidos) tenham febre.

Os mais jovens podem carregar o vírus sem demonstrar qualquer sinal de Covid-19 enquanto os idosos e imunocomprometidos podem não ter saúde suficiente para desenvolverem febre, de acordo com Andrew Morris, professor de medicina da Universidade de Toronto, entrevistado pelo PopSci.

Porque a medição de temperatura contra o coronavírus deve ser abolida

Mara também disse que “há muitas outras doenças que se apresentam com febre, tornando este um teste de triagem ineficaz. Uma medida que não é sensível nem específica não é uma boa medida. Isso também pode dar às pessoas uma falsa sensação de segurança”. Pessoas com falsa sensação de segurança podem se arriscar mais, mesmo que inconscientemente, ao descuidar de outros aspectos importantes para prevenir o coronavírus como uso adequado de máscaras, lavar as mãos com frequência, etc.

Ela também disse que mesmo que uma pessoa tenha Covid com febre é fácil de reduzir a temperatura com um simples paracetamol e passar pela triagem. Portanto: as verificações de temperatura para coronavírus nos estabelecimentos não ajudam e tem o potencial de causar mais danos. [PopSci]

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