Acreditar em horóscopo não é inofensivo: como a astrologia pode te fazer mal

Por , em 29.06.2014

Muita gente diz não acreditar em horóscopo, mas gosta de lê-lo de vez em quando, e reclama que essa “diversão” é inofensiva. De fato, não parece que crer em signos afeta o mundo negativamente, não é mesmo? Mas a questão é que pode.

A ciência simplesmente não admite a astrologia. Não há absolutamente nada que explique ou prove que o alinhamento dos planetas pode influenciar nossas psicologias ou o desdobramento do universo.

Na verdade, toda a premissa por trás astrologia baseia-se em parâmetros bastante frágeis; o que chamamos de “meses” são, na verdade, construções de tempo culturais, e não cosmológicas. Além disso, o nosso universo em expansão e tudo o que está dentro dele está em um constante estado de fluxo.

Independente das inúmeras evidências de que a astrologia não é verdadeira, o foco deste artigo é explicar porque ela pode fazer mal para você.

Pensamento acrítico

Uma pesquisa recente da National Science Foundation dos EUA mostrou que mais de 40% dos americanos acham que a astrologia é uma ciência (e não, não foi porque os entrevistados confundiram astrologia com astronomia). A NSF usa essa pesquisa como um tipo de métrica para “a capacidade do público de distinguir ciência de pseudociência”.

Outros estudos têm mostrado que as mulheres são mais atraídas para a astrologia do que os homens. Uma pesquisa do Gallup de 2005 revelou que 28% das mulheres acreditam em astrologia, contra 23% dos homens, nos EUA. No Canadá 33% das mulheres são crentes da astrologia.

Julia Hemphill, socióloga da Universidade de York (Canadá), afirma que há mais por trás dessa estatística do que o aparente: a mídia popular especificamente visa as mulheres no que diz respeito a fazê-las crer em astrologia.

“A astrologia é uma epistemologia não empírica que é impingida às mulheres como uma forma de entender a si mesmas e o mundo. Tudo o que você tem a fazer é abrir uma revista feminina, e você inevitavelmente vai ver pelo menos uma ou duas páginas dedicadas a astrologia”, explica Hemphill. Por isso, a socióloga diz que é razoável questionar o grau em que as mulheres são, em última análise, impedidas de conhecer e se envolver em ciência de verdade, já que são agressivamente bombardeadas com pseudociência.

Com o pouco incentivo que já existe para a mulher na ciência – o que é péssimo, pois elas são tão capazes quanto os homens nesse campo -, certamente esse comportamento da mídia não ajuda em nada o avanço da sociedade.

Mas o mais grave problema que a crença em astrologia causa é outro: de acordo com o astrônomo Phil Plait, ela dá origem ao pensamento acrítico.

“Quanto mais nós ensinamos as pessoas a simplesmente aceitar histórias anedóticas, boatos, dados escolhidos a dedo (usando o que apoia suas reivindicações, e ignorando o que não) e, francamente, mentiras, mais difícil fica para as pessoas pensar com clareza. Se você não pode pensar claramente, não pode funcionar como um ser humano. Pensamento acrítico está destruindo esse mundo, e enquanto a astrologia pode não estar no centro de tudo isso, ela tem o seu papel”, argumenta.

De fato, pensamento crítico tem o poder de mudar o mundo para melhor, enquanto seu oposto só leva a más decisões.

Fatalismo

E os perigos não acabam por aí.

A crença na astrologia implica uma crença em uma predestinação cosmológica. Ao oferecer um “significado cósmico” para nossa rotina, a astrologia sugere um fatalismo perigoso: se nossas vidas são controladas por um conjunto de sinais no céu, por que tentar mudar alguma coisa?

Esse negócio de “destino” e “escrito nas estrelas” impede as pessoas de pensarem nas consequências de seus atos, no seu livre-arbítrio, ignorando a natureza aberta do futuro e ofuscando o papel da natureza e da criação no desenvolvimento de nossas psicologias.

Preconceito e viés cognitivo

Astrologia também é ruim para nossas relações, porque nos diz para pré-julgar as pessoas de acordo com seus signos astrológicos. Quão sem noção é isso? Não é muito diferente de outros preconceitos, como o racismo.

“Tanto a astrologia quanto estereótipos raciais são baseados em uma estrutura de crença que basicamente diz: ‘Mesmo sem conhecê-lo, eu acredito em algo sobre você’. Esperamos ver um tipo específico de comportamento ou traço (teimosia, preguiça, arrogância, etc) em membros de certo grupo específico de pessoas (judeus, negros, Áries, Peixes etc). Essa lista pré-existente de suposições (preconceitos) sobre essa pessoa e seu comportamento, personalidade e caráter faz com que as pessoas procurem confirmar suas expectativas”, afirma o escritor e cético americano Benjamin Radford.

A astrologia também leva as pessoas a serem vítimas do efeito de seleção observacional, um viés cognitivo no qual observamos os traços que queremos ou esperamos perceber em outras pessoas, enquanto ficamos cegos a suas demais características.

Por exemplo, se alguém me pergunta meu signo e eu respondo “Virgem”, ela automaticamente responde: “Por isso você é tão organizada e perfeccionista”. Sim, eu sou organizada, mas eu sou muitas outras coisas também. Além disso, não sou organizada por sou de Virgem.
Esse viés ou “preconceito” leva as pessoas a avaliarem as outras de um jeito tipicamente tendencioso que em última análise pode causar uma impressão errada.

Influências negativas

Por fim, as pessoas que acreditam cegamente na astrologia podem tomar decisões baseado em uma coisa que nem sequer é verdade. Nos piores casos, pode levar a uma profecia autorrealizável, que é quando as pessoas mudam suas personalidades, comportamentos e processos de tomada de decisão para eles fiquem de acordo com suas expectativas astrológicas.

É simplesmente muito perturbador que alguém use signo astrológico ou horóscopo para tomar decisões importantes na vida. O que é precisamos fazer é levar em conta nossas predisposições “naturais” e usar nosso próprio pensamento crítico para saber o que é melhor para nós mesmos. [io9]

16 comentários

  • Yuyu M.A:

    Uma razão explica isso: o horóscopo é uma forma de ganhar dinheiro.

  • Cristian Avencurt:

    Excelente texto, muito esclarecedor!

  • Ayrton:

    O cérebro humano é uma “máquina” produtora de crenças. Existem crenças para todos os crédulos.

  • Fernanda Peralta:

    Se os meses são, na verdade, construções de tempo culturais, e não cosmológicas, como explicar o período menstrual a cada 21 dias? Ou a gestação em nove meses? Ou as estações do ano mudando exatamente no mesmo período do ano?

    • Marcelo Ribeiro:

      A semana é baseada no calendário lunar, só isto. O ciclo menstrual e os meses não tem relação direta já que oferecem variação de mulher para mulher e algumas são mais regulares que as outras, mas a regularidade não é necessariamente regra. A gestação humana é medida oficialmente em semanas e oferece a data média em que o bebê vai nascer, nunca exata.

    • Cesar Grossmann:

      Fernanda, tem mulheres com ciclos menstruais mais curtos e outras com o ciclo menstrual mais longo. A média é 28 dias (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_menstrual )

      A gestação não dura 9 meses, mas 40 semanas em média, e isto é quase 9 meses (seria 10 meses se a gente considerar 4 semanas um mês, mas os meses tem 4 semanas e alguns dias, exceto o mês de fevereiro, que tem 4 semanas exatas). (https://pt.wikipedia.org/wiki/Gravidez_humana )

      Você acertou parcialmente a questão do ano e das estações, mas considere o seguinte: a duração do ano, medida em dias, dá um número “quebrado” (por isto temos os anos bissextos). O número de luas em um ano também não é inteiro (por isto a páscoa está sempre mudando). A divisão do ano em meses e os meses em semanas é totalmente arbitrária. E mesmo a data do início das estações é arbitrária, os gauleses, por exemplo, consideravam como início da estação as datas que ocorrem entre solstícios e equinócios, sendo estas datas, solstícios e equinócios, sendo consideradas “meio da estação”. (https://en.wikipedia.org/wiki/Gaelic_calendar )

    • Yuyu M.A:

      Pq o tempo que temos na Terra, só existe na Terra, fora do planeta existem outras formas de “tempo”, por exemplo, júpiter precisa de uma quantidade o dobro maior de meses que a Terra para formar um ano completo, como um Universo sem Tempo pode controlar um planeta de tempo oposto, é uma ideia complexa, mas vc pode saber mais estudando física e astrologia, não dá pra falar mt em poucos caracteres.

    • Cesar Grossmann:

      Tem gente pensando em calendários para usar em planetas alienígenas de forma a ter uma relação inteira de anos-calendário entre a Terra e aqueles planetas.

      http://www.webexhibits.org/calendars/calendar-future.html
      http://zyxyvy.wordpress.com/2013/01/27/calendars-for-other-solar-system-planets/

    • Bruna Santos:

      Periodo menstrual e gravidez são questões biológicas. E estações do ano têm muito a ver com astronomia e geografia, não astrologia.

  • Chico Lobo:

    O preconceito gerado pela crença em astrologia é um dos maiores males que essa mística causa.

    Já vi noivados sendo desmanchados por conta de suposta “incompatibilidade de signos”

    Já vi trabalhadores sendo rejeitados na seleção de trabalho por conta de seu signo.

    Eu acredito que todas as pessoas que sofreram alguma discriminação por conta de serem considerados os seus respectivos signos, deveriam processar CRIMINALMENTE as entidades ou místicos que assim induziram a esse preconceito

  • Cesar Grossmann:

    Tem empresas que estão deixando de contratar pessoas que nasceram na “época errada do ano”.

    • Thanure Raposo:

      Como é? kkkk pelamor… É difícil acreditar que ainda tem gente que acredita piamente nesse conto de fadas!

    • Felipe Silvino:

      Lamentável, como uma pseudociência baseada em afirmações errôneas e de poucas evidências podem afetar até a política de uma empresa . Alias, é lamentável como certas pessoas alimentam e dão crédito a esse tipo de ciência, vale destacar também o papel negativo da mídia e da sociedade cultural na divulgação da Astrologia como uma ciência real. É preciso realmente buscar o conhecimento real e a ciência física, baseada em fatos evidentes e que passam por julgamento passível de falseabilidade.

    • Jeferson Victoriano:

      Falta de conhecimento das empresas.

    • Eneida Prado:

      Absurdo dirigir a vida sob sugestionam ventos de astrologia! Precisamos e ter cultura, e aprender sempre mais, nos aperfeicoarmos com novas descobertas científica s, tecnológicas! Para tal não ha idade, sexo, raça… Só vontade e esclarecimento.Ler é uma grande opção, aprender sempre . melhor ainda!!

  • Felipe Nascimento Martins:

    Excelente, Natasha! Vou mostrar seu texto pra minha mãe, mas tenho poucas esperanças que isso resulte em mudança de sua crença em astrologia. Seria bom se tivéssemos professores de ensino fundamemntal preparados para explicar isso (e os conceitos científicos em geral) às crianças. Parabéns pelo texto!

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