Fundamentalismo religioso poderá ser considerado doença mental

Por , em 4.04.2014

Dizem por aí que tudo que é exagerado faz mal. No caso do fundamentalismo religioso, esse exagero pode ser tão ruim a ponto de ser considerado uma doença. É o que defende a neurologista Katheleen Taylor, da Universidade de Oxford (Inglaterra).

Segundo ela, pesquisas desenvolvidas recentemente sugerem que em breve seremos capazes de tratar o fundamentalismo religioso e outras formas de crenças ideológicas potencialmente prejudiciais para a sociedade como uma forma de doença mental.

Ela fez essa afirmação durante uma palestra no Festival Literário Hay, que aconteceu no País de Gales, na última quarta-feira. De acordo com ela, as ideologias muito radicalizadas em breve poderão ser vistas não como uma escolha pessoal, feita com base no livre-arbítrio, mas sim como uma categoria de transtorno mental. Katheleen também disse que os novos estudos da neurociência poderiam considerar extremistas, por exemplo, os integrantes do Hamas (Movimento da Resistência Islâmica), como pessoas com doença mental, ao invés de criminosos terroristas.

Prevendo o choque da sociedade, a neurologista disse: “Uma das surpresas pode ser a de ver pessoas com certas crenças como pessoas que podem receber tratamento médico por conta disso”.

Muito além do islamismo…

Para Katheleen, o rótulo do que pode ser considerado “fundamentalismo” é um tanto abrangente, e pode ir além do que você imagina. “Eu não estou falando apenas dos candidatos óbvios, como o islamismo radical ou alguns cultos mais extremos. Estou falando sobre coisas como acreditar que bater nos filhos é normal. Essas crenças também são perigosas, mas normalmente não são categorizadas como doença mental”, afirma.

Complicações morais e éticas

A questão se torna complicada na hora de classificar e rotular coisas como o fundamentalismo. Afinal, o que é ser “fundamentalista”? Outra dificuldade é estabelecer um limite entre o que pode ser considerado uma escolha, consciente e feita com base no livre-arbítrio, e o resultado de uma lavagem cerebral, que pode ser diagnosticada como doença mental.

Do ponto de vista da mente ocidental, por exemplo, a tendência para equiparar “fundamentalismo” exclusivamente com o islamismo radical é muito tentadora, principalmente por conta do teor das notícias que estamos acostumados a ler sobre o que acontece no Oriente Médio. Mas fica a reflexão: quão menos “fundamentalista” que um Osama Bin Laden é uma nação capitalista que bombardeia impunemente regiões civis e urbanas de países como Laos, Camboja e Coreia do Norte?

Aliás, quão menos fundamentalista é uma pessoa que aceita vender todos os seus bens para entregar tudo o que tem a um pastor que garante a ela um terreno no céu?

Em uma escala muito maior, e potencialmente mais frutífera, está o reconhecimento de que todo o domínio das crenças religiosas, convicções políticas e fervor nacionalista patriótico poderiam ser considerados não só perigosos, mas uma ferramenta de manipulação em massa.

“Todos nós mudamos nossas crenças. Todos nós persuadimos uns aos outros para fazer certas coisas. Todos nós assistimos publicidade. Todos nós somos educados e temos experiências com religiões. E a lavagem cerebral, se você deixar, é o extremo disso. É forte, é coerciva, e é como um tipo de tortura psicológica”, declara Katheleen.

E você, o que acha de tudo isso?[Digital Journal]

Abaixo um vídeo onde Katheleen fala sobre o assunto (em inglês):

30 comentários

  • Héber Pelágio:

    Se ela incluir o marxismo nesse rol, eu assino embaixo!

  • Wellington Silva:

    Doença ou não, devemos combater todo tipo de crença que prejudica a humanidade.
    Todas religiões são um lixo e prejudicam a humanidade.

  • Tiago Maleico:

    O Hamas é doente mas o Netanyahu e o exército israelense são um exemplo de saúde né?

    • Cesar Grossmann:

      Existe gente doente e gente ruim. Os fanáticos são doentes, os outros são só gente ruim, má, cruel.

  • Rafael Sá:

    Não concordo que tratar o fundamentalismo como doença é uma forma de combatê-lo, isso se alcança com uma educação que consiga formar indivíduos pensantes, críticos, esclarecidos. Péssimo uso do conhecimento científico, esse pretendido por essa neurologista.

    • Roberto Lemes:

      Por mais que o senhor não concorde, é uma doença mental sim, pois a pessoa vive em um mundo paralelo do real e a verdade dela, na cabecinha dela, passa a ser a única e o resto está errado, por isso existem aquela famosa frase de Albert Einstein ” A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.
      E antes de sair criticando Rafael, estude primeiro, pois te garanto que o conhecimento dela está muito além do seu, isso eu lhe garanto. Ela tem conhecimento do que diz!!!

    • Alice Tonelotto:

      Não concordo com esta ideia da universalização dos conceitos, a educação não da conta de resolver grandes dilemas desta sociedade.

  • Flávio Rosario:

    Mas já passou da hora de ser considerado ate porque o é! Todos temo a liberdade de expressão. de ir e vir, no entanto, os religiosos da atualidade estão voltando aos tempos inquisição. Se você não faz parte da religião deles é considerado um endemoniado. Fazem uso da bíblia para impor sua filosofia a qualquer custo como se fosse somente ela a verdade única. Ferem sentimentos sem se importar com a dor alheia, tentam obstinadamente transformar as mentes em zumbis religiosos.

  • neutrino:

    O sistema tribal ainda persiste na humanidade.

    As pessoas se reúnem em grupos e não gostam de aceitar o
    pensamento divergente.

    Não adiante fazer a lei contra a discriminação.

    A violência e intolerância continua de outra forma.

    • Cesar Grossmann:

      Verdade, neutrino. É curioso como os jovens tem fama de serem revolucionários, mas na verdade são extremamente conformistas, se você não estiver seguindo alguma tribo, você é perseguido cruelmente.

  • Veronica Santos:

    Comportamento humano considerado fora do normal tratado como doença, isso me parece ferramenta de coerção. Os fundamentalistas devem ser julgados pelas consequências de suas ações, se forem negativas devem ser punidos e se forem positivas devem ser idolatrados. Gandi, Madre Teresa, Madela, Luther King, Betinho e muitos outros também foram fundamentalistas, entregaram a vida com paixão ao que acreditavam. E outros tantos anônimos como os que trabalham para o Médicos Sem Fronteiras, etc ..

    • Marcelo Ribeiro:

      Talvez ajude a responder sua pergunta: O altruísmo de Madre Teresa: mito ou realidade?

    • Cesar Grossmann:

      Esta parece ser a nova corrente da psicologia, ou uma das abordagens da psicologia (não sou psicólogo, posso estar falando besteira), se o sujeito tem alucinações (tem visões e ouve vozes) mas está integrado em sua comunidade, feliz, respeitado, então ele não está “doente”.

    • Aline Brum:

      Se o sujeito se sente integrado, não traz prejuízo a si e a sua comunidade, por que ele deveria ser tratado como doente?
      O mundo é que está doente.

    • Cesar Grossmann:

      Aline, se a sociedade chicoteia a mulher por ela dirigir automóveis e enfia balas na cabeça de meninas que querem ir estudar, isto não é uma sociedade doente, causada pela doença chamada “fundamentalismo”? Se a sociedade nega a ciência (mudança climática, evolução) e persegue quem é diferente (homossexuais, ateus, pessoas de outras religiões) não é uma sociedade doente causada pela doença chamada “fundamentalismo”?

      Que tipo de sociedade estamos falando? Intolerante, fanática, ignorante?

    • Alice Tonelotto:

      Estes pensadores, Gandhi, Madre Teresa, Mandela, King, eles não eram fundamentalistas religiosos, eles eram pensadores.

  • Diego Oliveira:

    Acho válido alguns pensamentos fundamentalistas serem taxados como algo “fora da razão”. Não é questão de escolha ou opinião, você não pode escolher educar seu filho contra a ciência. Não pode lhe ensinar com certeza algo em que ainda se tem dúvida. Se assim fosse, estaria ensinando ele a acreditar sem questionar, a mentir, entre outras coisas. Muitos confundem liberdade de expressão com a possibilidade de fazer coisas contrárias aos valores “corretos”. Se assim fosse, não teríamos leis.

  • Israel Henrique:

    EM BREVE acreditar em uma religião também vai ser considerado uma doença.

    • Marcelo Ribeiro:

      Talvez um distúrbio, apenas. 🙂

    • Gödel Téssera:

      Levando-se em consideração que deus não existe praticar uma religião judaico-cristã por exemplo, não deixa de ser uma leve esquizofrenia.

    • Fabio Miranda:

      Interessante comentário do Gödel. Na verdade, todo argumento tem seu argumento contrário válido. Por exemplo, “Levando em consideração que Deus existe, todo pensamento ateu não deixa de ser loucura!”. Isso me leva a considerar que a Dr. Katheleen é uma fundamentalista do seu próprio ponto de vista, porque considera que deve FORÇAR tratamento àqueles que tem um pensamento diferente do dela. O islamita mata quem pensa diferente e o psicólogo injeta droga pesada, todos são fundamentalistas.

    • Marcelo Ribeiro:

      Psicólogo não injeta nada e ninguém é obrigado a receber tratamento a não ser em questões extremas em que seja um risco para si mesma ou para os demais.

    • Tiago Pesce:

      talvez, nem todo mundo assumiu um senso crítico avantajado para sobrepujar a propaganda.

    • Alice Tonelotto:

      não é isto, agora levar a religião ao extremos, sim prejudicando a sociedade ai sim.

  • Henrique Telles Dos Santos:

    Sobre meu conhecimento de amplas crenças,todas possuem atos éticos que tende a buscar respostas sobre as amarguras da alma humana.o poblema é que existe pessoas que não usa isso com o objetivo moral mais sim como manipulação.Para mulçumanos,um cristãos ou um panteístas que segue os principios dogmaticos corretos de suas crenças sabe que o radicalismo e fanatismo não leva a lugar nenhum a não ser o pecado.

  • Cesar Grossmann:

    Acho que o fundamentalista, seja ele o criacionista dogmático, o literalista bíblico, o terrorista muçulmano, são assim por escolha própria. Não suportam um mundo com gradações de cinza, precisam de um mundo simples, onde tudo é preto ou branco, e onde as pessoas são classificadas entre aliados e inimigos, sem espaço para a discussão das posições, ou para uma posição moderada.

    A diversidade os apavora, é esta a verdade.

    • mwcarval:

      tratar o fundamentalismo como doença é uma forma de combate-lo sem ferir aquela velha ideia de liberdade de expressão.
      Concordo com o que você diz César, porém essas “escolhas próprias” estão mergulhadas em tantas influências e interferências sociais, econômicas e educacionais que fica difícil muitas vezes defender que essa pessoa realmente escolheu isso.
      Será que esse medo do novo, da diversidade e de perder o controle da situação não são genéticos, algo que nos acompanha desde as…

    • virus:

      Essa ideia de livre arbítrio eu acho um tanto complexa. Qual é o poder de escolha de uma pessoa que nasce dentro de uma comunidade fundamentelista, visto que ela não teve a oportunidade de construir uma visão critica(externa) de sua própria cultura? Qual é a realidade dessas pessoas, como acontece com os homens-bomba, que ainda jovens e crianças são vendidas aos grupos para receberem sua ”formação”?, o livre arbítrio esta limitado os conhecimento de mundo.

    • Marcelo Ribeiro:

      Parece que você está certo.

    • Fabio Miranda:

      Não existe fundamentalismo apenas nas sociedades religiosas. Existe nas agremiações políticas, futebolísticas, …, e até científicas. Eu acho que tratar o fundamentalismo como doença serve para fingir que se mantém a liberdade de expressão!
      Há fundamentalista que não agride a sociedade, deixe-os na sua região de conforto. É preciso tratar como crime as ações fundamentalistas violentas. Muito mais adequado do que tratar como doença.

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