Os escritórios estão em extinção?

Por , em 30.05.2012

Uma tendência que tem sido muito debatida ultimamente é a de trabalhar em casa. Isso não é mais “suposição”: pesquisas mostram que, de fato, os números de trabalhadores remotos estão aumentando.

E isso é muito bem-visto pelas pessoas. Seja para fugir dos enormes engarrafamentos urbanos, seja pela flexibilidade ou mesmo pelo conforto, cada vez mais queremos trabalhar remotamente (em casa ou em algum local distante do empregador, ou seja, não em um escritório).

Uma recente pesquisa nos EUA informou que o dobro de americanos está trabalhando remotamente esta década comparada com a passada.

A pesquisa americana também descobriu que babás, escritores, autores e representantes de vendas são os profissionais que mais trabalham remotamente. As aéreas de coleta, seguros, advocacia e desenvolvimento de software são os que mais aumentaram o número de trabalhadores remotos durante a última década.

Já no Brasil, uma reportagem da CBN de março deste ano indicou que existem mais de 20 milhões de profissionais que trabalham remotamente no país, também chamados de “teletrabalhadores”.

Esse número é o dobro do divulgado na mesma semana pelo Jornal da Globo, que exibiu uma série de reportagens sobre as mudanças que a tecnologia trouxe para o mercado de trabalho, incluindo o trabalho à distância (remoto). Segundo o jornal, dez milhões de brasileiros trabalham à distância pelo menos uma vez por semana atualmente, em comparação com 173 milhões de teletrabalhadores no mundo todo.

Sejam 10 ou 20 milhões de brasileiros, é muita gente, não?

“Uma confluência de fatores, liderada pela expansão rápida de tecnologias sofisticadas de comunicação, seguras e relativamente baratas, provocou uma revolução silenciosa de onde e como muitos fazem seu trabalho”, disse Amy Lui Abel, diretora de pesquisa de capital humano do The Conference Board e coautora do relatório americano.

E a ideia agrada a muitos. Pesquisas feitas pela TeamViewer apontam que as pessoas fariam de tudo para trabalhar em casa, inclusive deixar de tomar banho diariamente e se divorciar. Apesar dos extremos, nesse ritmo, não vai demorar para termos muito mais do que 173 milhões de teletrabalhadores no mundo.

Pegadinhas

O fim do escritório, no entanto, pode vir com algumas armadilhas. Para tirar o máximo de proveito das oportunidades proporcionadas pelo trabalho remoto, empregadores e empregados precisam “estabelecer expectativas e responsabilidades que vêm com essa nova cultura de local de trabalho”, explica Amy Lui.

Muitos acreditam que a desvantagem de trabalhar em casa é se distrair facilmente pela falta de cobrança e acabar não fazendo nada. Pois, para os verdadeiros teletrabalhadores, o contrário ocorre: eles dizem ter aumentado a produtividade como resultado da capacidade de se concentrar sem as distrações de um escritório e da adequação das tarefas, graças à capacidade de mudar sua programação para acomodar as demandas conforme elas ocorrem.

Segundo uma pesquisa realizada pela Regus, empresa especializada em fornecimento de espaço para trabalho flexível, é isso mesmo que é verificado: os trabalhadores remotos são os mais produtivos.

Entre os 46% dos profissionais brasileiros levam trabalho para terminar em casa mais de três vezes por semana (contra a média mundial de 43%), os profissionais brasileiros remotos são os que trabalham extra com mais frequência: 59%, contra 22% dos funcionários com local de trabalho fixo.

O diretor-geral da Regus no Brasil, Guilherme Ribeiro, disse que não é só o fato de “trabalharem mais”: os profissionais remotos são de fato mais produtivos. “As empresas que possibilitam aos seus funcionários trabalharem mais perto de casa e administrarem seu tempo com mais independência irão conseguir uma diminuição do estresse. E, com isso, ganharão uma equipe mais produtiva, comprometida e saudável”, afirma.

Porém, como comentamos acima, isso pode se tornar uma verdadeira armadilha. Você se muda para casa para trabalhar com mais conforto, e acaba trabalhando mais. Também fica mais difícil “escapar do trabalho”, já que as tecnologias não deixam você mentir sobre o que está fazendo, ou ficar inacessível. Tudo isso pode levar ao esgotamento dos teletrabalhadores.

Também, não estar em um ambiente de trabalho pode significar não ter ajuda de colegas e gestores, o que é uma desvantagem.

Sei que muitos diriam: “ainda assim, prefiro trabalhar em casa”. E é verdade, porque mesmo esses probleminhas podem ser facilmente resolvidos. Confira algumas dicas de Amy Liu voltadas aos empregadores sobre diretrizes e regras para os trabalhadores remotos:

  • Construir relacionamentos fortes de equipe que reúnam teletrabalhadores;
  • Construir uma forte comunidade de teletrabalhadores que podem compartilhar experiências e oferecer conselhos online ou pessoalmente;
  • Promover uma cultura organizacional que reconheça as necessidades e talentos de teletrabalhadores;
  • Refinar sistemas de desempenho e recompensa para maximizar a iniciativa individual e minimizar problemas de confiança;
  • Estabelecer períodos sem reuniões ou contato para aliviar a sobrecarga de informações e evitar que teletrabalhadores “trabalhem o tempo todo”;
  • Implementar políticas flexíveis e adaptadas às necessidades da família para a retenção de profissionais talentosos.

Se tudo isso for aplicado, o teletrabalhador poderá fazer seu trabalho com flexibilidade e conforto, sem ser interrompido ou sobrecarregado, se tornando mais produtivo, e tanto a empresa quanto o teletrabalhador, que terá seu salário valorizado, sairão lucrando. [LiveScience, VireiHome, GPPortal]

5 comentários

  • Henrique Cardoso:

    Sem generalizar, mas muitos brasileiros são preguiçosos, acomodados,sempre dão um jeitinho de se aproveitar do momento, sempre arranjam uma forma de distração. Será que daria certo isso aqui no Brasil?

  • Rafael2:

    É claro que é algo que depende muito da natureza do trabalho, mas o mais interessante é o misto entre o trabalho presencial e o teletrabalho. Há tarefas que desempenho muito melhor em casa, dispensado do trabalho, do que no tumultuado ambiente que me é oferecido. É necessário o comprometimento, entretanto, na conclusão das tarefas que, muitas vezes, parecem mais complexas do que são idealizadas, retendo o profissional no computador além do esperado. O foco, também, é essencial, pois os computadores nos inundam com uma infinidade de distrações.

  • Marte:

    Tenho dúvidas sobre esse formato. Ele é muito conveniente para as empresas, que estão poupando milhões, para os cofres delas.

    Os supostos benefícios para o trabalhador são frágeis e mesmo assim, não atingem a todos. É um engôdo.

    Esse formato só serve para mostrar que há algo de muito errado com o mundo, com o sistema, e que isso não vai acabar em boa coisa.

  • Vielmond:

    Como consultor, desenvolve a maioria de minhas atividades no meu gabinete em casa.
    # como vantagens : menos perda de tempo , maior produtividade, maiores possibilidades de gerenciar minha agenda, mais tempo para ficar em dia com as notícas gerais e profissionais.
    # aspectos negativos : maior tempo “abraçado” com o computador (raramente me desligo antés da meia noite) , como consultor sinto a falta do corpo a corpo e dificuldades no ambiente familiar (apesar de ficar isolado no meu escritório)

  • pardal:

    Faço parte desse meio. Sai de um ambiene regrado e muito policiado para trabalhar em casa com projetos.
    Me livrei do deslocamento que tinha um custo alto , sem contar com os perigos do trânsito e assumi o custo com equipamentos e manutenção.
    A sobrecarga ocorre, assim como em certos momentos a falta de serviço, mas é uma questão de adequação.
    Recebo propostas para voltar a trabalhar em escritório, mas estou contente em casa e pretendo continuar assim, tendo a possibilidade de ampliar a área de atuação,
    Acho válido em todos os sentidos….

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