Pegadas humanas de 900 mil anos são encontradas

Por , em 8.02.2014

Em um descoberta rara e incrível, cientistas encontraram as primeiras evidências de pegadas humanas fora da África na costa de Norfolk, no leste da Inglaterra.

Elas são a mais antiga prova direta dos primeiros seres humanos conhecidos no norte da Europa. “A descoberta vai reescrever a nossa compreensão da ocupação humana no início da Grã-Bretanha e também da Europa”, explicou o Dr. Nick Ashton, do British Museum (Museu Britânico).

As pegadas possuem mais de 800.000 anos de idade, provavelmente 900.000, e foram encontradas nas margens do oceano em Happisburgh. As 49 marcas em uma rocha sedimentar macia foram identificadas pela primeira vez em maio do ano passado, durante uma maré baixa.

O mar agitado da região corroeu a praia e revelou uma série de depressões alongadas. Por conta da atividade intensa da maré, as marcas logo desapareceram, não muito tempo depois de terem sido encontradas. Mas, felizmente, uma equipe de pesquisa foi capaz de capturá-las em vídeos e imagens antes que elas fossem lavadas pela maré.
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O estudo

Os cientistas fizeram varreduras em 3D das pegadas durante duas semanas. Uma análise detalhada das imagens feita pela Dra. Isabelle De Groote, da Universidade Liverpool John Moores, confirmou que as cavidades eram de fato pegadas humanas, possivelmente de cinco pessoas, incluindo um homem adulto e algumas crianças.

Foi possível identificar o calcanhar e até mesmo os dedos em algumas das marcas, sendo que a maior pegada seria de um tamanho de sapato 40 no Brasil.

“Esta parece ter sido feita por um homem adulto com cerca de 1,75 metros de altura, e a menor parece de alguém com um metro. As outras pegadas poderiam vir de jovens do sexo masculino ou de mulheres. Elas parecem ser um grupo familiar movendo-se junto”, afirma a Dra. De Groote.

As pegadas estavam bastante próximas umas das outras, por isso os especialistas pensam que os humanos estavam andando, em vez de correndo.

A partir da análise das impressões, os pesquisadores acreditam que o grupo provavelmente estava indo em direção ao sul. Na época, a Grã-Bretanha estava ligada à Europa continental por terra e Happisburgh estava situada nas margens de um vasto estuário a vários quilômetros da costa.
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O estuário teria proporcionado uma rica variedade de plantas, algas, crustáceos e moluscos. Fósseis de mamute, uma espécie extinta de cavalo e formas primitivas de ratazanas também foram encontrados em Happisburgh. Os primeiros seres humanos também poderiam ter caçado ou cultivado rebanhos pela sua carne.

Conforme mais partes do litoral são erodidas, os cientistas esperam que mais pegadas sejam descobertas na região e possam nos dar uma noção maior de quem foram aqueles humanos.

História antiga

Ancestrais humanos primitivos começaram a aparecer na África há cerca de 4,4 milhões de anos e só deixaram o continente cerca de 1,8 milhões de anos atrás. Cientistas não creem que eles chegaram à Europa até cerca de 1 milhão de anos atrás.

Espécies extintas, como os Neandertais, apareceram pela primeira vez entre 400.000 e 600.000 anos atrás, enquanto os seres humanos modernos – Homo sapiens – começaram a emergir da África cerca de 125.000 anos atrás, mas não chegaram na Europa até cerca de 40.000 anos atrás.

As pegadas recém-descobertas podem ter pertencido a uma espécie conhecida como Homo antecessor – um hominídeo extinto que pode ter tido um ancestral comum com ambos seres humanos modernos e Neandertais, embora tais teorias ainda sejam altamente controversas.
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O antropólogo do Museu de História Natural de Londres Chris Stringer, que trabalhou na equipe que analisou as marcas, disse: “Os seres humanos que fizeram as pegadas em Happisburgh podem muito bem ter sido relacionados a povos semelhantes da antiguidade que viviam em Atapuerca, na Espanha, atribuídos às espécies Homo antecessor”.

Segundo o estudioso, essas pessoas tinham uma altura semelhante a nós e eram plenamente bípedes. Elas parecem ter se extinguido na Europa cerca de 600 mil anos atrás, e foram talvez substituídas pela espécie Homo heidelbergensis, que viveu no Reino Unido 500 mil anos atrás.

Esses seres humanos evoluíram para Neandertais cerca de 400.000 anos atrás. Os Neandertais, por sua vez, viveram na Grã-Bretanha de forma intermitente até cerca de 40.000 anos atrás, momento que coincidiu com a chegada de nossa espécie, Homo sapiens.

O futuro pode reservar mais

Descobertas como essa são muito raras. As pegadas de Happisburgh são as únicas desta época na Europa, e existem apenas três outros conjuntos de pegadas mais velhas no mundo, todos os quais estão na África – um conjunto é de 3,5 milhões de anos e fica na Tanzânia, e outro de 1,5 milhões de anos está localizado no Quênia.
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“Esta descoberta nos dá provas ainda mais concretas de que havia pessoas [na Europa há quase um milhão de anos]”, disse Nick Ashton à BBC News. “E, se continuarmos procurando, vamos encontrar ainda mais evidência deles, espero que até mesmo fósseis humanos. Isso seria o meu sonho”. [BBC, Telegraph]

3 comentários

  • Cesar Grossmann:

    A sorte que foi encontrar e registrar estas pegadas antes que as marés as destruíssem…

    A maré tirou a areia, as pegadas foram vistas e registradas, e então a maré fez o que sempre faz com pegadas…

    • Regis Olivetti:

      Na verdade Cesar, as pegadas não são destruídas e sim cobertas novamente com areia.

    • Cesar Grossmann:

      O artigo aponta que as pegadas foram destruídas, pois se tratava de uma rocha sedimentar macia. O artigo do Telegraph aponta “Unfortunately the prints themselves were quickly eroded away by the sea and have now been lost.

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