Cientistas “crescem” novas orelhas em 5 crianças, a partir de suas próprias células

Por , em 31.01.2018

Cientistas chineses reconstruíram as orelhas de cinco crianças que nasceram com deformações utilizando as próprias células desses indivíduos, em um tratamento inédito para microtia.

Essa condição congênita, nas crianças de 6 a 9 anos que participaram do estudo, era unilateral. Ou seja, afetava apenas um lado do seu corpo, de modo que os cientistas puderam criar modelos 3D detalhados de alta resolução de suas orelhas saudáveis a fim de corrigir as outras.

A pesquisa foi conduzida por cientistas das universidades Shanghai Jiao Tong University School of Medicine e Wei Fang Medical College, com afiliações com o Centro Nacional de Engenharia de Tecidos da China e com a Academia Chinesa de Ciências Médicas. Um artigo foi publicado na revista científica EBioMedicine.

O método

No primeiro passo da pesquisa, células da cartilagem chamadas condrócitos foram colhidas das orelhas não deformadas das crianças. Em seguida, foram usadas para criar uma nova orelha para o outro lado da cabeça através de um processo de cultivo celular.

Com a ajuda de tomografia computadorizada das orelhas saudáveis, foi criada uma estrutura impressa em 3D a partir da qual a nova orelha poderia se expandir. Ao longo do tempo, as células naturais substituíram quase toda a estrutura artificial.

Finalmente, as novas orelhas foram anexadas e a reconstrução foi completada, com alguns procedimentos de cirurgia estética pequenos feitos posteriormente.
Esse tipo de tecnologia biológica não é novo, mas esta foi a primeira vez em que foi usado de forma tão eficaz em seres humanos.

Em alguns países, 17,4 a cada 10.000 pessoas chegam a ter microtia, o que afeta tanto sua audição quanto sua autoconfiança. O primeiro implante do estudo foi feito há 30 meses, de forma que a equipe provou que a técnica pode funcionar e oferecer uma nova vida para as pessoas com microtia ou outras condições semelhantes.

Abrindo caminhos

O novo estudo indica que esse procedimento de engenharia de tecido para a reconstrução da orelha e outros tecidos cartilaginosos se tornará uma realidade clínica muito em breve.

  • Nova técnica faz com que o tecido cardíaco se repare sozinho

    Tratamentos atuais para microtia incluem substituição por uma orelha artificial ou a criação de uma nova orelha usando cartilagem da costela, mas essa nova abordagem supera as demais em termos de aparência e diminuição do dano ao corpo do paciente.

No entanto, existem algumas ressalvas para a pesquisa. Embora dois anos e meio seja um bom período para analisarmos seus resultados, partes artificiais da orelha ainda não se degradaram completamente, de forma que é preciso um acompanhamento de até 5 anos antes de termos certeza de que este é um sucesso total. Além disso, dois dos casos apresentaram pequenas distorções no crescimento das orelhas, que os cientistas terão que monitorar cuidadosamente.

Nada disso significa que o estudo não é promissor. “Nós conseguimos projetar, fabricar e regenerar orelhas externas específicas de um paciente com sucesso. Mais esforços continuam a ser necessários para eventualmente traduzir este protótipo em práticas clínicas de rotina”, escreveram os autores da pesquisa em seu artigo. [ScienceAlert]

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