Estudo: a erupção do Monte Vesúvio foi tão quente que o cérebro de um homem se transformou em vidro

Por , em 24.01.2020

Fragmento de material preto vítreo encontrado no crânio de uma vítima do Monte Vesúvio

Um novo estudo da Universidade de Nápoles (Itália), do Centro de Engenharia Genética – Biotecnologia Avançada (Itália), da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e da Universidade de Roma Tre (Itália) descobriu que o calor da erupção do Monte Vesúvio, em 79 dC, foi tão extremo que não só vaporizou os fluidos corporais e explodiu os crânios de diversos habitantes, como até transformou o cérebro de um homem em vidro.

A erupção

O Monte Vesúvio fica localizado na cidade de Nápoles, na Itália. Em 79 dC, quando entrou em erupção, liberou uma quantidade de energia térmica equivalente a cerca de 100.000 bombas atômicas como as lançadas em Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.

O evento afetou principalmente as cidades de Pompéia e Herculano, que acabaram ficando “imortalizadas” no tempo – as cinzas e lama da explosão transformaram as construções, objetos e os até seres humanos em “moldes” ou “esculturas”, o que fez com que fossem encontrados da mesma maneira como foram atingidos pela erupção muitos anos depois, em 1748.

Desde então, diversos arqueólogos têm estudado o sítio, hoje aberto à visitação.

Fluidos evaporam, crânios explodem

Diversos achados interessantes – e sombrios – foram feitos durante as análises dos corpos das vítimas da erupção.

Um estudo de 2001, publicado na revista Nature, por exemplo, estimou que a temperatura da explosão foi de 300°C Celsius, o suficiente para os fluxos piroclásticos matarem em frações de segundo os habitantes que não conseguiram fugir do local.

Já em 2018, o arqueólogo Pierpaolo Petrone, da Universidade de Nápoles – que também foi um dos autores do estudo de 2001 -, examinou cerca de 100 esqueletos de Herculano utilizando, entre outras técnicas, espectroscopia Raman.

Os corpos continham resíduos pretos e vermelhos e altas concentrações de ferro, indicativas de fluidos corporais humanos, embora os pesquisadores não pudessem confirmar de que a fonte era sangue humano. Os ossos também continham muitas fraturas, outra evidência de exposição a temperaturas extraordinárias.

Por fim, havia indicações de fraturas e até de “explosões” de alguns crânios. Estes exibiam o mesmo padrão circular visto em casos forenses de explosão cranial devido ao calor extremo.

Os pesquisadores concluíram que os fluxos piroclásticos “ferveram” o tecido mole do cérebro e evaporavam os fluidos corporais dessas vítimas, a ponto de seus crânios literalmente explodirem.

O cérebro vitrificado

Agora, a mesma equipe liderada por Petrone completou uma análise de um estranho crânio encontrado na década de 1960 no sítio arqueológico de Herculano, enterrado em cinza vulcânica.

Havia evidências de matéria cerebral no crânio deste homem, mas, ao invés de estar saponificada pelo calor extremo (normalmente, este tipo de substância vira “sabão”, ou glicerol e ácidos graxos), ela estava na verdade vitrificada.

Um exame do material vítreo dentro do crânio da vítima revelou traços de ácidos graxos comuns no cérebro humano e componentes de cabelo humano.

Baseado em evidências obtidas a partir de madeira carbonizada no local, os cientistas estimam que as temperaturas poderiam ter chegado a 520° Celsius no local onde a vítima foi encontrada.

Isso fez a equipe concluir que o enorme calor foi capaz de inflamar a sua gordura corporal e vaporizar os tecidos moles, bem como preservar o tecido cerebral em vidro.

Ressalvas

Vale observar que a conclusão do novo estudo é contestada por alguns pesquisadores, como o antropólogo forense Tim Thompson, da Universidade Teesside (Reino Unido).

Thompson não aposta na teoria da vaporização, mas sim crê que os corpos de Herculano foram “cozidos” por um calor de baixa intensidade.

Um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista científica New England Journal of Medicine. [ArsTechnica]

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