Um dos barulhos mais altos dos oceanos vem de uma orgia gigante de peixes

Por , em 21.12.2017

Ainda que o fundo do mar seja um lugar bastante silencioso para padrões humanos, o acasalamento da corvina do Golfo do México (Cynoscion othonopterus) é tão alto que pode ensurdecer golfinhos. Segundo um artigo de Brad Erisman, da Universidade do Texas em Austin, e de Timothy Rowell, da Universidade da Califórnia San Diego, publicado no periódico “Biology Letters”, a orgia promovida pela espécie está entre os barulhos mais altos dos oceanos.

Todos os anos, durante a primavera, mais de um milhão de exemplares da espécie migram para para um pequeno pedaço do Golfo da Califórnia para se reproduzirem. Juntas, eles emitem sons que podem chegar a 202 decibéis – o que mais alto que uma serra elétrica e o suficiente para danificar ouvidos humanos.

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Assim como sapos e cigarras, as corvinas machos produzem cantos de acasalamento para atrair parceiras. Essa balada romântica chega a competir com o canto de algumas baleias e o volume é tão alto que está na faixa que poderia danificar a audição ou até mesmo causar surdez em pinípedes (focas, leões-marinhos, morsas e lobos-marinhos) e cetáceos (baleias, golfinhos e toninhas). Por isso, os pesquisadores se surpreenderam ao perceber que leões-marinhos e golfinhos eram frequentemente vistos se alimentando na mesma área, apesar do risco.

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O estudo foi realizado quando os pesquisadores usavam uma técnica desenvolvida por eles que estima o número de peixes em uma aglomeração de acasalamento baseando-se na intensidade dos sons emitidos por eles. Os cientistas concluíram que, na ocasião, havia mais de 1,5 milhões de corvinas, espalhadas por uma faixa de 27 quilômetros do Golfo da Califórnia, no ponto onde o rio Colorado desagua no oceano. Esse é o único lugar em que essa espécie se reproduz.

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Segundo o biólogo marinho e ecologista de peixes da Universidade de Exeter Stephen Simpson, que não estava envolvido na pesquisa, considera que o fato desta espécie de corvina se reunir em um único lugar todos os anos a torna altamente vulnerável à sobrepesca. “Porém, também é fácil de gerenciar [a pesca] evitando atingir [o local] durante a época de desova”, apontou, em entrevista à “Scientific American”.

Ainda de acordo com a revista, pelo menos dois milhões desta corvina são pescadas por ano e, ao longo dos últimos cinco anos, o tamanho médio do seu corpo diminuiu progressivamente, assim como a área que ocupam durante o acasalamento.

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“Os sons dos peixes são cada vez mais valorizados pela informação que transmitem sobre a biologia, comportamento e tamanho populacional deles, mas a persistência, no futuro, de eventos acústicos altos, como os criados pela corvina, tem valor intrínseco digno de conservação devido à sua singularidade e justificam sua inclusão entre os espetáculos da vida selvagem”, concluem os pesquisadores. [Scientific American, Biology Letters]

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