Descoberta arqueológica histórica prova que Heródoto, historiador mais famoso da Grécia Antiga, estava certo

Por , em 21.03.2019

Heródoto foi um dos mais famosos historiadores gregos. Em um de seus livros, conhecido simplesmente como Histórias de Heródoto, o primeiro livro em forma de narrativa que se tem notícia, publicado por volta de 450 aC, o historiador, que estava escrevendo sobre sua viagem ao Egito, descreve um tipo de barco de carga viajando pelo Nilo, chamado baris. Segundo seu relato, a embarcação era construída com alvenaria, forrada de papiro e possuía um leme que passava por um buraco na quilha.

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Esse sistema de direção havia sido visto em representações e modelos durante o período faraônico do Egito, mas não havia nenhuma evidência arqueológica de sua existência. Até agora. Um navio naufragado com estas características foi encontrado no fundo do rio Nilo. A embarcação pode ter ficado imperturbada por mais de 2.500 anos, mas agora está finalmente revelando seus segredos – os cientistas acreditam que o achado mostra detalhes da estrutura descrita por Heródoto, cuja existência tem sido debatida há séculos.

A embarcação, chamada de Navio 17, foi encontrado na cidade portuária de Thonis-Heracleion, agora submersa, perto da Boca Canópica do Nilo, datada do Período Tardio, entre 664 e 332 aC. Neste local, os pesquisadores já exploram mais de 70 naufrágios, descobrindo inúmeros artefatos que revelam detalhes impressionantes sobre o antigo centro comercial e sua cultura.

Semelhanças

A parte acima mostra os restos do navio observados pelos arqueólogos, enquanto a parte de baixo é uma projeção do restante da embarcação. Foto:
Christoph Gerigk/Franck Goddio/Hilti Foundation

Embora esteja na água há pelo menos 2.000 anos, ele está incrivelmente preservado – os arqueólogos foram capazes de observar 70% do casco. As observações mostram que o barco exibe vários elementos descritos por Heródoto em sua visita ao Egito. “Foi só quando descobrimos esse naufrágio que percebemos que Heródoto estava certo”, diz em entrevista ao jornal The Guardian o arqueólogo Damian Robinson, do Centro de Arqueologia Marítima de Oxford.

Um artigo de 2013 já falava sobre as possíveis coincidências da embarcação encontrada no fundo do rio com aquela descrita pelo historiador grego. “As articulações das tábuas do Navio 17 são escalonadas de uma forma que lhe dá a aparência de uma ‘camada de tijolos’, como descrito por Heródoto. As tábuas do Navio 17 são montadas transversalmente por espigões (pedaços de madeira usados para conectar partes) notavelmente longos que podem chegar a 1,99m de comprimento e que passam por até 11 estacas. Essas estacas correspondem às ‘estacas longas e próximas’ da narrativa de Heródoto. Heródoto também menciona a quilha do baris e o Navio 17 tem uma quilha que é duas vezes mais espessa que a tábua e se projeta de dentro do casco”, escreveu o arqueólogo Alexander Belov, do Centro de Estudos Egiptológicos da Academia Russa de Ciências.

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Em 450 aC, Heródoto testemunhou a construção de um baris. Ele observou como os construtores “cortavam tábuas de dois côvados de comprimento [cerca de 100 cm] e as organizavam como tijolos. Nos fortes e longos espigões [pedaços de madeira] eles inserem as tábuas de dois côvados. Há um leme passando por um buraco na quilha. O mastro é de acácia e as velas de papiro”, descreveu o historiador.

Descoberta histórica

Nem tudo é exatamente como descrito pelo historiador, porém. Existem algumas inconsistências. A embarcação que Heródoto descreve teria estacas mais curtas, que agiam como “nervuras” que seguravam as tábuas de acácia do casco. Além disso, os baris de Heródoto não tinham armações de reforço, enquanto o Navio 17 possui várias.

Estas diferenças podem ser explicadas se o Navio 17, com cerca de 27 metros de comprimento, for maior que os baris que Heródoto viu em sua viagem ao Egito.

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Mesmo com estas pequenas incongruências, porém, os arqueólogos estão extremamente satisfeitos de ter encontrado uma embarcação que se encaixa quase perfeitamente na descrição milenar do historiador grego. “Heródoto descreve os barcos como tendo longas “costelas” internas. Ninguém realmente sabia o que isso significava. Essa estrutura nunca foi vista arqueologicamente antes. Então descobrimos essa forma de construção neste barco em particular e é exatamente como Heródoto disse”, Robinson diz ao The Guardian. [Science Alert, The Guardian]

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