Botox agora pode ser usado para prevenir enxaqueca
Foi-se o tempo em que aplicação de botox se resumia às vaidades de mulheres de meia idade à procura de uma testa mais lisinha. As autoridades federais de saúde dos Estados Unidos aprovaram recentemente o uso de injeções de botox para a prevenção da enxaqueca crônica em adultos – um avanço descrito por especialistas como “modesto”.
Em comunicado, a Administração de Alimentos e Drogas recomendou que o produto seja injetado aproximadamente a cada três meses em torno da cabeça e do pescoço do paciente que sofre de enxaqueca para entorpecer os sintomas dor de cabeça futura.
O medicamento – cujo nome genérico é onabotulinumtoxinA – não foi comprovada contra enxaquecas que ocorrem durante14 dias ou menos por mês, nem foi mostrado eficiente no combate a outras formas de dor de cabeça, de acordo com o comunicado.
Sofrer de enxaqueca na maioria dos dias “é uma das formas de dor de cabeça mais incapacitantes”, avalia Russell Katz, da Divisão de Produtos de Neurologia no Centro do AAD para a Avaliação de Droga e Pesquisa. “Esta condição pode afetar negativamente a família, o trabalho e a vida social, por isso é importante ter uma variedade de opções de tratamento disponíveis e eficazes”, completa.
De acordo com médicos – e pacientes –, a enxaqueca é uma pulsação intensa ou dor latejante em uma área da cabeça que vem muitas vezes acompanhada por náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e som. Enxaquecas crônicas são definidas como aquelas que ocorrem em 15 dias ou mais mensais, durante mais de quatro horas por dia. O medicamento a partir do botox, fabricado pela Allergan SA, de Irvine, Califórnia, foi aprovado no mês passado na Grã-Bretanha para a mesma finalidade.
Os dois estudos envolveram 1.384 adultos de 122 locais de estudo na Europa e América do Norte. Eles descobriram que, após seis meses, os pacientes que tomaram o remédio tiveram 7,8 e 9,2 dias a menos, respectivamente, de enxaqueca do que tinham antes de os estudos terem iniciado. Aqueles que receberam injeções de placebo (pílula de açúcar) tiveram 6,4 e 6,9 dias a menos de dor de cabeça.
Ao longo desses seis meses, os pacientes que receberam a droga vivenciaram 107 e 134 horas a menos de dor de cabeça, contra uma redução de 70 e 95 horas para aqueles que receberam placebo. “Os benefícios são modestos quando você olha para os resultados globais,” opina Elizabeth Loder, professora de neurologia na Escola de Medicina de Harvard e chefe da divisão de dores de cabeça no Departamento de Neurologia do Hospital Brigham, em Boston.
Ela acrescentou que o novo tratamento é positivo aos pacientes, já que eles possuem poucas formas de tratamento disponíveis atualmente. “Quando você está lidando com um problema como esse, uma modesta melhoria pode significar a diferença entre ser capaz de ir para trabalho e ter de ficar em casa, incapacitado”, completa.
As reações adversas mais comuns relatadas por pacientes com enxaqueca crônica tratados com botox foram dor de garganta e dor de cabeça. Apenas cerca de 1% dos pacientes tratados com a droga (contra 0,3% daqueles que receberam placebo) descobriram que suas enxaquecas pioraram a ponto de terem de ser hospitalizados. Em geral, porém, o botox foi bem tolerado. Os médicos administraram um total de 155 unidades de botox para cada paciente de enxaqueca em 31 injeções nos músculos da cabeça e pescoço. O tratamento foi repetido em intervalos de três meses.
Estima-se que 3,2 milhões de estadunidenses tenham de enxaqueca crônica, embora cerca de 80%. No Brasil, cerca de 20% das mulheres sofrem de enxaqueca (não necessariamente crônica), o que significa quase 20 milhões de mulheres.
As mulheres são três vezes mais propensas que homens a sofrer de enxaquecas, que também são ligados à depressão e ansiedade. A Organização Mundial de Saúde classifica a enxaqueca como a 19a doença mais incapacitante. O botox é vendido para os médicos em frascos de 200 unidades que custam 1.050 dólares. No ano passado, a droga teve vendas de US$ 1,3 bilhão apenas nos Estado Unidos.
A droga é a mesma entidade química que foi aprovado há 21 anos para o tratamento de estrabismo e blefaroespasmo, dois distúrbios do músculo do olho.Desde então, as autoridades reguladoras em 80 países tenham aprovado seu uso em 21 diferentes indicações, incluindo o tratamento de dores de garganta a males de ordem física e muscular. [CNN]