Centenas de pessoas se voluntariam para ser infectadas com coronavírus

Por , em 23.04.2020

Centenas de jovens dos Estados Unidos estão pedindo para participar de uma modalidade de estudo que acelera as etapas do desenvolvimento de novas vacinas. Eles querem receber a vacina em desenvolvimento e depois ser expostos ao coronavírus para testar a eficácia dela.

Praticamente todos os testes de novas vacinas em humanos acontecem em diferentes fases. Primeiro há os testes pré-clínicos, em que aspectos de segurança são testados in vitro e/ou em animais de experimentação. Quando a vacina está pronta para ser testada em pessoas, há quatro fases diferentes de estudo clínico: I, II, III e IV.

Na fase I, a vacina é usada em poucas pessoas saudáveis, com objetivo de verificar a segurança. Na fase II, um número maior de indivíduos participa do estudo, com objetivo de estabelecer a imunogenicidade da vacina. Na fase III ainda mais pessoas participam, com objetivo de demonstrar a eficácia da vacina.

Se for considerada segura e eficaz, a vacina é disponibilizada ao mercado durante a fase IV, mas o acompanhamento continua para identificar possíveis efeitos colaterais desconhecidos.

Infecção natural x provocada

Quando se testa uma vacina em humanos, os participantes são divididos em dois grupos: um recebe um placebo e o outro recebe a vacina. Depois, ao longo dos meses seguintes, os pesquisadores acompanham os participantes para descobrir quantos dos dois grupos pegaram a doença de forma natural, e não induzida.

O que os 1500 jovens voluntários querem é ser expostos propositalmente ao vírus depois de tomar a vacina, para acelerar a pesquisa. A proposta se chama 1Day Sooner e não tem ligação com nenhuma empresa que desenvolve uma vacina contra o coronavírus.

Os voluntários estão cientes dos riscos de um teste desse tipo, mas acreditam que acelerar a obtenção da vacina seria um benefício tremendo para a humanidade e portanto justifica qualquer perigo em uma escala individual.

Discussão ética

O co-fundador do 1Day Sooner, Josh Morrison, espera mostrar que há um grande apoio popular para esse tipo acelerado de teste que em situações normais não é aprovado por comitês de ética. Outras doenças que já passaram pelo teste clínico proposto foram influenza e malária.

A proposta está ganhando movimento político. Ela foi defendida por 35 membros do Congresso americano, que apelaram ao diretor do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar.

Um grande investidor de pesquisas biomédicas em Londres, a Wellcome, tem discutido os aspectos éticos e logísticos de um teste clínico acelerado para uma vacina contra o COVID-19. Charlie Weller, uma das líderes da Wellcome, diz que não há provas incisivas de que esse tipo de teste aceleraria o desenvolvimento da vacina.

“Acho que há potencial. Mas temos tantas perguntas para resolver e entender se isso poderia ajudar na linha de tempo que temos”, explica Weller. Por isso, os debates continuam. [Nature, Instituto Butantan]

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