Centopeia com 750 patas é descoberta

Por , em 19.11.2012
Imagem de rastreamento de elétrons das antenas da cabeça da Illacme plenipes

Esse animal, menor do que nosso dedo mindinho, é uma centopeia que mede entre 1 e 3 centímetros de comprimento e tem 750 pernas.

Embora conhecida desde 1928, a espécie animal com mais pernas conhecida, nomeada Illacme plenipes (latim para “o apogeu de pernas abundantes”), é rara e não tinha sido vista desde então.

Apesar de considerada extinta, recentemente, o entomologista Paul Marek, da Universidade do Arizona (EUA), avistou alguns exemplares perto do Vale do Silício.

Segundo Marek, para quem estuda tais criaturas, encontrar a Illacme plenipes seria incrível. Por isso, desde 2005, ele começou a procurar o lendário invertebrado em uma aérea de 7,3 quilômetros quadrados ao redor de São Francisco, na Califórnia (EUA).

Mais de três anos depois, Marek e sua equipe descobriram 17 espécimes em vários estágios de desenvolvimento, sempre agarrados a rochas de arenito.

Estranhos milípedes

Milípedes são uma classe de artrópodes com corpo comprido, cilíndrico e segmentado. Os segmentos igualmente espaçados evoluíram na história dos milípedes mais de 400 milhões de anos atrás. Por consequência, ter bastantes “pernas” fornecia mais impulso em cada segmento para sua locomoção.

Os milípedes ficam em segundo lugar, depois das minhocas, na capacidade de quebrar matéria vegetal morta, dando a bactérias e fungos uma chance de consumir esses materiais orgânicos.

Graças à pesquisa de Marek, o elusivo milípede Illacme plenipes foi descrito cientificamente pela primeira vez, incluindo alguns detalhes de sua anatomia estranha.

As fêmeas da espécie têm até 750 pernas, enquanto os machos têm mais de 550. Segundo Marek, a maioria das espécies milípedes tem entre 80 e 100 pernas cada.

Illacme plenipes também pode fabricar seda que cobre suas costas, criando assim uma espécie de “roupa própria”.

Os animais vivem no subsolo (10 a 15 centímetros abaixo do solo), portanto, suas pernas são adaptadas para possuir garras. Os cientistas sugerem que essas garras ajudam os milípedes a se agarrar às rochas subterrâneas.

As patas da Illacme plenipes em microspópio de rastreamento de elétrons

Outras características anatômicas surpreendentes do animal incluem uma antena grande em relação à escala de seu corpo, que a centopeia usa para “sentir” o seu caminho através da escuridão, um exoesqueleto irregular e translúcido, e pelos do corpo que produzem um tipo de seda que pode ajudar os animais a aderirem à parte inferior dos pedregulhos.

Ao contrário de outras centopeias, a boca desta espécie é especificamente estruturada para perfurar e sugar tecidos vegetais.

Apesar de todas essas peculiaridades, a espécie tem pelo menos uma coisa em comum com outros milípedes: um nome que é basicamente um equívoco, já que nenhuma centopeia conhecida tem mil pernas, embora Marek admita que uma criatura com tantos apêndices possa existir.

Preservação

Os parentes mais próximos desses animais estranhos ficam na África do Sul. Segundo os pesquisadores, os milípedes possivelmente moravam do outro lado do supercontinente Pangea, que começou a quebrar-se cerca de 200 milhões de anos atrás, separando a Califórnia da África do Sul. Essa especulação explicaria por que espécies semelhantes existem em locais tão distantes.

Além de estudar e descrever o animal, os cientistas também sequenciaram um gene chamado “citocromo c oxidase I” para dar a criatura uma impressão digital, ou código de barras, único, assim tornando fácil para outros cientistas identificarem a Illacme plenipes no futuro.

Imagem de rastreamento de elétrons das antenas da cabeça da Illacme plenipes

“O estudo evoluiu de identificar o animal e seus traços corporais a acrescentar dados moleculares, de comportamento e de reconstrução das regiões ecológicas onde este animal pode existir, para diagnosticar a espécie incomum”, explica Michael Brewer, pós-doutorando na Universidade de Berkeley (EUA).

A centopeia está sob ameaça de extinção, por causa da invasão do desenvolvimento humano na região, e das mudanças climáticas que vaporizam a névoa que mantém a umidade do habitat natural das criaturas.

Agora, os pesquisadores pelo menos têm uma chance de estudar os fatores que podem influenciar como este animal persistirá ou não no futuro, para evitar seu desaparecimento.

“Nós não sabemos muito sobre a biologia destes organismos, de modo que, se eles se extinguissem antes de entendermos que papel podem desempenhar no ecossistema, ou mesmo o que poderiam proporcionar à humanidade, seria uma tristeza enorme”, afirma Brewer.[NG, LiveScience, BBC, ScienceDaily]

Consulte o trabalho científico feito por Marek e publicado no periódico ZooKeys sobre a nova espécie aqui (em inglês).

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