Cientistas implantaram memórias falsas em pássaros, fazendo-os cantar músicas que nunca tinham aprendido

Por , em 7.10.2019

Pesquisadores americanos conseguiram implantar memórias falsas em pássaros, fazendo-os cantar músicas que eles nunca tinham ouvido ou aprendido antes.

O estudo pode ter um papel importante na nossa compreensão do desenvolvimento da fala humana.

O experimento

Os pássaros envolvidos no experimento, conhecidos como mandarins, normalmente aprendem canções a partir de familiares, como pais e outros adultos.

Usando optogenética, os pesquisadores conseguiram fazê-los cantar músicas que eles nunca tinham ouvido antes, efetivamente implantando falsas memórias nas aves.

A optogenética é uma técnica que usa luz para controlar tecido vivo. No caso, os cientistas a utilizaram para manipular regiões cerebrais a fim de estimular os animais a reproduzir sílabas nunca aprendidas antes.

“Essa é a primeira vez que confirmamos regiões cerebrais que codificam memórias de objetivos comportamentais – aquelas que nos guiam quando queremos imitar qualquer coisa, da fala ao aprendizado do piano. As descobertas nos permitiram implantar memórias nos pássaros e orientar o aprendizado de seu canto”, explicou o neurocientista Todd Roberts, da Universidade do Texas (EUA), ao portal Science Alert.

Em detalhes

Os pesquisadores escolheram manipular regiões cerebrais dos pássaros que anteriormente já haviam sido associadas a funções motoras e sensórias, no caso, vias neurais entre o nucleus interfacialis e o HVC (“high vocal centre”, ou “centro superior vocal”).

Eles descobriram que ambas foram essenciais para formar as memórias falsas de canções.

“Não ensinamos aos pássaros tudo o que eles precisam saber – apenas a duração das sílabas em seu canto. As duas regiões cerebrais que testamos neste estudo representam apenas uma peça do quebra-cabeça”, afirmou Roberts.

Futuramente, os cientistas querem estudar outras áreas cerebrais dos pássaros que possivelmente passam informação ao HVC, o que pode levar a uma manipulação de tom, combinação e duração de sílabas nas aves.

Linguagem

Ainda que possa parecer o caso, a motivação por trás do estudo não era criar novos pássaros domésticos que saibam cantar de The Beatles a Metallica passando por Banda Eva, nem imitar um mundo à la “A Origem”.

O que os pesquisadores queriam era entender como a linguagem é desenvolvida, tanto em pássaros jovens como possivelmente em bebês, que também aprendem seus primeiros sons com pais e indivíduos mais velhos.

Com o tempo, quem sabe eles sejam capazes de corrigir problemas de linguagem usando as mesmas técnicas do estudo.

É claro que esse experimento, por mais promissor que seja – uma vez que o aprendizado vocal do mandarim é parecido com o aprendizado da linguagem humana em vários aspectos –, é inicial, e aplicar as informações descobertas a seres humanos ainda levará muito tempo.

“O cérebro humano e os caminhos associados à fala e à linguagem são imensamente mais complicados do que os circuitos dos pássaros canoros”, resumiu Roberts. “Mas nossa pesquisa fornece pistas importantes sobre onde procurar insights sobre distúrbios do desenvolvimento neurológico”.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Science. [ScienceAlert]

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