Cientistas conseguem implantar falsas memórias em ratos

Por , em 12.03.2015

Já está com saudades de Joseph Gordon-Levitt, Leonardo Di Caprio e sua estante sem nenhum Oscar? Então você vai ficar feliz com um dos últimos trabalhos dos pesquisadores do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, que traz para a vida real o conceito explorado em “Inception” de implantação de memórias falsas.

Mesmo os melhores cérebros têm memórias imperfeitas. Muitas vezes esquecemos coisas, e várias pessoas se lembram, por vezes, de coisas que não aconteceram, episódios conhecidos como falsas memórias. Apesar de sabermos que é possível implantar tais recordações fabricadas em nossas mentes simplesmente através da sugestão, os cientistas estão começando a demonstrar que também é possível fazer isso com a ajuda de tecnologia sofisticada – embora apenas em animais, não humanos. No ano passado, por exemplo, pesquisadores conseguiram fazer camundongos associar erroneamente um ambiente com uma experiência desagradável de um lugar diferente, utilizando uma combinação de edição de gene e estímulo de luz das células cerebrais.

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Agora, dando um passo adiante, o novo estudo implantou com sucesso memórias artificiais nas mentes de ratos adormecidos, um fato inédito na neurociência. Além disso, essas memórias falsas persistiram e realmente afetaram o comportamento do animal quando eles estava acordado. Este feito notável está ajudando a promover nossa compreensão do papel desempenhado pelo sono na consolidação da memória e poderia talvez um dia levar ao desenvolvimento de formas para tornar os seres humanos menos suscetíveis a falsas memórias, o que pode ser um problema sério em processos criminais.

A fim de enganar o cérebro dos animais, os pesquisadores inseriram eletrodos que foram projetados para ter como alvo duas áreas diferentes: um componente crítico do nosso sistema de recompensa, o feixe prosencefálico medial (FPM), e parte do nosso eixo de aprendizado e memória, o hipocampo. Mais especificamente, a parte desta última região a qual eles afetaram é conhecida por conter neurônios chamados células de lugar. Esses nervos, uma descoberta que levou a um Prêmio Nobel no ano passado, são células que se tornam ativadas, ou disparam, quando um animal está em uma localização específica no ambiente, conhecida como campo de lugar. Em combinação com outro tipo de neurônio, essas células constituem um “GPS interno” do nosso cérebro que é necessário para a navegação espacial.

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Para identificar estas células de lugar, os pesquisadores permitiram que os animais explorassem seu ambiente enquanto gravavam sua atividade neuronal. Depois de ver quais células disparavam quando um rato entrava em um determinado campo de lugar, os pesquisadores começaram a estimular o FPM enquanto estas células de lugar estavam ativas durante a vigília. Isto levou à geração de uma falsa associação positiva entre uma área particular e uma recompensa ou experiência prazerosa. Consequentemente, os ratos passavam muito mais tempo explorando estas áreas em comparação com os animais de controle em que a estimulação neuronal foi aleatória.

Uma vez que se sabe que os neurônios no hipocampo repetem as experiências do dia durante o sono, os pesquisadores continuaram a monitorar a atividade do cérebro enquanto os animais estavam tirando uma soneca. Com a ajuda de uma interface cérebro-computador, o FPM foi automaticamente estimulado sempre que uma célula de lugar específica disparava espontaneamente. Novamente, quando os animais estavam acordados, eles gastaram até cinco vezes mais tempo explorando a área associada com a atividade das células de lugar em comparação com os animais que receberam a estimulação aleatória do FPM, sugerindo que eles tinham uma memória consciente de que algum tipo de recompensa estava nesta localização particular.

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É claro que, uma vez que esta técnica envolve implantes cerebrais, é altamente improvável que ela irá ser repetida em humanos. Ainda assim, os cientistas estão esperançosos de que os resultados poderiam representar um passo importante para ajudar pessoas com certos problemas de memória ou distúrbios de saúde mental nos quais a memória desempenha algum papel. [IFLS]

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