A experiência de ter um filho pode mesmo te fazer muito feliz. No entanto, a parentalidade provoca mudanças profundas no casamento das pessoas e na sua felicidade geral… e não para melhor.
Essa foi a conclusão do livro “Great Myths of Intimate Relationships: Dating, Sex, and Marriage” (em tradução livre, “Grandes mitos das relações íntimas: namoro, sexo e casamento”), de Matthew D. Johnson, professor de psicologia da Universidade de Binghamton e da Universidade Estadual de Nova Iorque, que examinou décadas de estudos sobre os efeitos psicológicos de ter um filho.
Infelicidade
Conforme a ligação de uma mãe e de um pai com uma criança cresce, é provável que seus outros relacionamentos se deteriorem. Quando as pessoas se casam, elas ficam muito felizes imediatamente depois. Passa um pouco o tempo, e as coisas tendem a mudar.
Em média, a satisfação dos casais declina durante os primeiros anos de casamento e, se o declínio é particularmente íngreme, o divórcio se segue.
A relação entre os cônjuges sofre ainda mais se crianças entram na equação. De acordo com Johnson, escrevendo no site The Conversation, pesquisadores descobriram que a taxa de declínio na satisfação com o relacionamento é quase duas vezes mais íngreme para casais que têm crianças do que para casais sem filhos. No caso de uma gravidez não planejada, os pais experimentam impactos negativos ainda maiores sobre seu relacionamento.
A ironia é que, mesmo que a satisfação conjugal dos novos pais diminui, a probabilidade de se divorciar também diminui. Então, ter filhos pode tornar os casais infelizes juntos.
Pior ainda, esta diminuição da satisfação conjugal provavelmente leva a uma mudança na felicidade geral, porque o maior preditor de satisfação geral com a vida é a satisfação com o seu cônjuge.
Tudo muda
A crença de que ter filhos irá melhorar a união é um mito tenaz e persistente. De fato, a chegada de filhos muda a forma como os casais interagem. Mas nem sempre para melhor.
Os pais muitas vezes se tornam mais distantes. Ao invés de ter conversas sobre assuntos relevantes, ou de trocar mensagens de amor, eles conversam e discutem apenas sobre os filhos.
Estas mudanças podem ser profundas. Mesmo em casais do mesmo sexo, a chegada dos filhos prevê menos satisfação com o relacionamento e sexo. Além da intimidade sexual, os novos pais tendem a parar de dizer e fazer as pequenas coisas que agradam seus cônjuges.
Se você tem filhos com alguém, mas não é casado, isso não muda nada. Independentemente do estado civil, orientação sexual ou nível de renda, o relacionamento romântico sofre.
Pior para elas
Não surpreendentemente, são as mães que assumem o fardo mais pesado de se tornarem responsáveis por um filho. Mesmo quando ambos os pais trabalham fora de casa e até mesmo em casamentos em que ambos os cônjuges desempenham tarefas domésticas, as mulheres são mais propensas a se tornar o “pai de plantão”, aquele que se levanta no meio da noite ou que é chamado pela diretora da escola.
Novas mães muitas vezes reclamam de seu isolamento social, de ficarem desconectadas de amigos e familiares. Todas essas mudanças levam a efeitos fundamentais e duradouros sobre círculo de apoio das mulheres.
O estresse conjugal está associado com problemas de saúde física graves, bem como sintomas de depressão e outros problemas de saúde mental. A ligação entre problemas psicológicos e conjugais é forte o suficiente a ponto de os pesquisadores já terem concluído que a terapia de casais é uma das maneiras mais eficazes de tratar depressão e outras doenças mentais.
Mas melhora
Se a chegada das crianças é difícil para os casamentos, a saída dos filhos de casa é boa para os casamentos?
Alguns de fato melhoram quando as crianças crescem e deixam o ninho, segundo Johnson. Em outros casos, isso leva os cônjuges a descobrirem que têm poucos interesses em comum e que não há nada que os mantenha juntos mais.
Apesar do quadro sombrio da maternidade e da paternidade pintada por pesquisadores, a maioria dos pais diz que ter um filho é a sua maior alegria. Muito parecido com o parto, onde quase todas as mães acreditam que a dor e o sofrimento valeram a pena, a maioria dos pais acredita que as recompensas de ver seus filhos crescerem vale o custo que isso teve junto aos seus relacionamentos românticos. [TheConversation]