Como um tiro na cabeça curou o TOC de um jovem de 19 anos
Em 1988, as revistas cientificas Physician’s Weekly e British Journal of Psychiatry relataram o caso de um jovem de 19 anos que tentou se suicidar com um tiro na cabeça por causa de seu transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), que atrapalhava enormemente sua vida.
Não só o homem sobreviveu à lesão cerebral, como se curou do TOC sem causar qualquer outro dano permanente. Como assim?!
O caso ocorreu cinco anos antes da sua publicação, em 1983. Naquela época, o jovem, chamado apenas de “George”, estava atormentado por sua aflição mental e abertamente expressava pensamentos de que preferia morrer a sofrer de suas compulsões. Sentindo que não tinha outra opção, George atirou em si mesmo com um rifle calibre 22.
A bala ficou alojada no lobo frontal esquerdo do cérebro de George. Em um golpe de sorte, essa era a mesma área do cérebro responsável por seus sintomas de TOC.
Em alguns casos graves de transtorno obsessivo-compulsivo, os médicos podem decidir remover uma parte do lobo frontal esquerdo como um último recurso. Na época, cirurgias desse tipo ocorriam de 10 a 30 vezes por ano nos Estados Unidos. Os resultados destas cirurgias não eram sempre bem sucedidos, mas, no caso de George, mexer no seu lobo frontal funcionou, ainda que sem querer.
Os cirurgiões conseguiram retirar a bala da cabeça do jovem, mas não conseguiram extrair todos os fragmentos. Mesmo assim, ele não ficou com sequelas e voltou a ter uma vida completamente normal, inclusive mais normal do que era antes do tiro.
TOC é um transtorno psicológico que faz com que as vítimas tenham pensamentos repetitivos e compulsões que afetam muito suas vidas diárias. Antes de sua tentativa de suicídio, George tinha que lavar as mãos e tomar banho incontáveis vezes por dia.
Três semanas após a cirurgia, suas compulsões tinham desaparecido quase que completamente. Além de checar a janela duas vezes para ver se estava mesmo trancada e lavar a louça com cuidado extra, George se libertou da maioria de seus desejos compulsivos.
Além disso, testes de QI de antes e depois do incidente não mostraram nenhuma mudança no intelecto de George. Ele não perdeu nenhuma função cerebral.
O caso desse jovem é semelhante a outros casos de lesão cerebral, como o de Phineas Gage, o trabalhador ferroviário que sofreu um acidente no trabalho quando uma carga explosiva fez um ferro atravessar seu crânio.
Gage sobreviveu ao acidente e voltou ao trabalho depois de alguns meses. Tornou-se evidente, no entanto, que algo havia mudado. O homem uma vez bem-educado tinha se tornado irreverente e mal-humorado. Este estudo de caso foi o primeiro de seu tipo, mostrando uma correlação entre a função dos lobos frontais do cérebro e personalidade.
Felizmente para George, o incidente teve um resultado final mais positivo para ele, já que a mudança que ocorreu foi para melhor. [KnowledgeNuts]