Esta é a melhor maneira de reduzir o seu impacto no planeta: estudo

Por , em 1.06.2018

Segundo um novo estudo liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, evitar carne e produtos lácteos é a maneira mais eficaz de reduzirmos nosso impacto ambiental no planeta.

Os pesquisadores realizaram a análise mais abrangente dos danos que a agricultura causa no planeta e os resultados mostraram que, sem o consumo de carne e laticínios, o uso agrícola global poderia ser reduzido em mais de 75% – uma área equivalente aos EUA, China, União Europeia e Austrália juntos.

O estudo também mostrou que a perda de áreas selvagens para a agricultura é a principal causa da atual extinção em massa da vida selvagem.

Outra pesquisa compreensiva recente sobre a biomassa do planeta apontou ainda que 86% de todos os mamíferos terrestres existentes hoje são humanos ou animais de pastoreio (gado, aves e suínos criados para fornecer alimento a humanos).

Carne e laticínios: o pior custo-benefício

Os resultados provêm de um enorme conjunto de dados baseado em quase 40.000 fazendas em 119 países e cobrindo 40 produtos alimentícios que representam 90% de tudo o que é comido no mundo.

Os pesquisadores avaliaram o impacto total desses alimentos, do campo ao garfo, no uso da terra, nas emissões de gases que causam mudanças climáticas, no uso de água doce, na poluição da água (eutrofização) e na poluição do ar (acidificação).

A nova análise mostrou que, enquanto carne e laticínios fornecem apenas 18% das nossas calorias totais e representam 37% da nossa ingestão de proteína, seu cultivo usa a maior parte das terras agrícolas – 83% – e produz 60% das emissões de gases de efeito estufa provenientes da agricultura.

Os cientistas também descobriram que mesmo os produtos lácteos e de carne de menor impacto ainda causam muito mais danos ambientais do que o cultivo menos sustentável de vegetais e cereais.

O ideal

“Uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir seu impacto no planeta Terra, não apenas nos gases de efeito estufa, mas na acidificação global, eutrofização, uso da terra e uso da água”, disse o principal autor do estudo, Joseph Poore, da Universidade de Oxford.

Essa mudança de estilo de vida tem um impacto muito maior do que voar menos ou comprar um carro elétrico, por exemplo, já que estas ações cortam apenas as emissões de gases do efeito estufa.

“A agricultura é um setor que abrange todos os problemas ambientais. Realmente são produtos animais que são responsáveis por muitos [desses problemas]”, completou.

Dito isso, está claro que toda a população se tornar vegana é algo bastante utópico neste momento. Isso não significa que não há nada que possamos fazer.

Subsídios

A análise também revelou uma enorme variabilidade entre diferentes formas de produzir o mesmo alimento. Por exemplo, bovinos criados em terras desmatadas resultam em 12 vezes mais gases de efeito estufa e usam 50 vezes mais terra do que aqueles que são criados em pastagens naturais.

Apesar disso, a comparação de carne bovina com proteína vegetal, como ervilha, é bem mais gritante: até mesmo a carne bovina de menor impacto é responsável por seis vezes mais gases de efeito estufa e 36 vezes mais uso de terra.

Essa grande variabilidade no impacto ambiental de diferentes fazendas apresenta uma oportunidade para reduzirmos os danos sem precisar que a população mundial inteira se torne vegana. Se a metade mais prejudicial da produção de carne e leite fosse substituída por alimentos à base de plantas, isso ainda levaria a cerca de dois terços dos benefícios de se livrar de toda a produção de carne e laticínios.

Obviamente, cortar o impacto ambiental da agricultura não é fácil. De acordo com Poore, existem mais de 570 milhões de fazendas no mundo todo, que precisam de maneiras ligeiramente diferentes para reduzir seu impacto. É um desafio ambiental como nenhum outro no setor da economia, mas, tendo em vista que pelo menos US$ 500 bilhões são gastos todos os anos em subsídios agrícolas, “há muito dinheiro para fazermos algo realmente bom”, alertou o pesquisador.

Medidas

Por exemplo, as autoridades poderiam exigir que os produtos tivessem etiquetas revelando o seu impacto no meio ambiente, de forma que os consumidores pudessem escolher as opções menos prejudiciais.

Subsídios para alimentos sustentáveis e saudáveis no setor de carne e laticínios provavelmente também seriam necessários.

Uma surpresa do estudo foi o grande impacto da criação de peixes de água doce, que fornece dois terços dos peixes na Ásia e 96% na Europa. Esse tipo de criação era considerado relativamente sustentável, mas, de acordo com Poore, muitos excrementos de peixes e alimentos não consumidos ficam no fundo das lagoas, onde quase não há oxigênio, o que o torna o ambiente perfeito para a produção de metano, um potente gás de efeito estufa.

A pesquisa também descobriu que a carne bovina alimentada com pasto, considerada de impacto relativamente baixo, ainda é responsável por impactos muito maiores do que os alimentos à base de plantas. “Converter grama em [carne] é como converter carvão em energia. Vem com um imenso custo em emissões ”, disse Poore.

Conclusão

Segundo o professor Tim Benton, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, este é um estudo extremamente útil. Ele reúne uma enorme quantidade de dados, o que torna suas conclusões muito robustas.

“A maneira como produzimos, consumimos e desperdiçamos alimentos é insustentável do ponto de vista planetário. Dada a crise global da obesidade, mudar nossas dietas – comer menos gado e mais verduras e frutas – tem o potencial de tornar tanto os humanos quanto o planeta mais saudáveis”, argumentou.

O professor Peter Alexander, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, concorda. Ele também ficou impressionado com os resultados, mas observou: “Minha opinião pessoal é que devemos interpretar esses resultados não como a necessidade de nos tornarmos veganos do dia para a noite, mas sim de moderar nosso consumo [de carne]”.

Um artigo detalhando o estudo foi publicado na revista científica Science. [TheGuardian]

11 comentários

  • Miguel Sousa Bexiga:

    Este estudo seria mais útil se separasse os resultados por tipo de produto de origem animal, como por exemplo, carnes brancas, carnes vermelhas, peixe, ovos e produtos lácteos. Pelo artigo entendi que a proteína de vaca era responsável por 36 vezes mais uso de terra do que a proteína vegetal, mas será igual à proteína da galinha, ou dos ovos, ou do peixe?

    É que isso pode ser bastante relevante. E pelo que parece o estudo (ou este artigo) está viciado, pois apenas divulgou os resultados precisamente da carne que tem maior pegada ecológica.

  • Oliveiras:

    Concordo com você. Não adianta ter a técnica se ela não é utilizada/popularizada.

    Mas aí eu volto a um dos pontos iniciais do nosso debate: É necessário que todos parem de comer carne e laticínios para reduzir o nosso impacto ambiental no planeta? Não seria melhor fazer adequações na produção agropecuária, para torná-la menos impactante ao meio ambiente?

    Acho que esse é o caminho. E isso está sendo buscado.
    Ainda temos muito o que melhorar, mas estamos no caminho.

  • joseaguimaraes:

    Agradecendo aos pesquisadores pela excelente contribuição para a salvação do Planeta, recomendamos estimular aos mesmos e especialmente aos que fazem o Hyperciencia, a pratica de Constelação Familiar Sistêmica, Direito Sistêmico e especialmente a Educação Sistêmica. Para protegermos nossa Sustentabilidade de maneira autêntica, também precisamos de reportagens frequentes com o tema, Educação Sistêmica, visto ter sido comprovado que uma pessoa educada Sistemicamente, gradativamente vai praticando hábitos mais sustentáveis, sem sofrimentos.

  • Oliveiras:

    Eu desconfio desses estudos que querem fazer com que todos virem vegetarianos. O ser humano evoluiu comendo carne, ovos, etc… e quem tem acesso a esses alimentos tem acesso uma fonte massiva de nutrientes.
    Fazer com que todos comam capim definitivamente não é a única solução para a conservação do planeta. Nós somos mais inteligentes que isso, nós somos mais engenhosos que isso. Existem outras soluções.

    • Cesar Grossmann:

      Oliveiras, acho que você está usando a tua ideologia para descartar o que você não gosta. Ninguém disse que esta é a única solução, apenas que é a melhor. Outras soluções com certeza existem, mas por enquanto esta é a que mais reduz o impacto no planeta.

    • Oliveiras:

      Melhor? Melhor para quem?
      Se a questão é “planeta em primeiro lugar”, então vamos todos cometer suicídio e extirpar a raça humana do planeta.
      Não adianta querer arranjar soluções que não levam em conta o homem e seus hábitos.
      Quem quer impor uma ideologia para descartar o que não gosta são esses vegetarianos e cia. Demonizam quem consome carne.
      Eu não sou desse grupo e não gosto dessa gente que acha que vai mudar o planeta fazendo “xixi no banho”.

    • Cesar Grossmann:

      Menos, Oliveiras, menos. Ninguém está tentando impor nenhuma ideologia nem sugerindo que fazer “xixi no banho” vá salvar o planeta. A matéria é apenas um pouco de alimento para as ideias. O vegetarianismo realmente tem esta vantagem de ser melhor para o planeta, vai negar os fatos?

    • Oliveiras:

      Amigo,
      Existem diversos estudos que demonstram que a pecuária, sob certas condições (pastagens não-degradadas, em integração com a lavoura, em integração com silvicultura, etc…), possui baixo impacto para o meio ambiente. A pecuária extensiva, quando feita em área com pastagens não-degradadas, possui balanço de carbono positivo (a quantidade de carbono sequestrado pela pastagem é maior que o carbono emitido pela atividade).
      O impacto da agricultura e da pecuária nos pontos levantados pela pesquisa (uso da terra, emissões de gases que causam mudanças climáticas, uso de água doce, poluição da água, poluição do ar) ocorre quando essas atividades são feitas de forma errada. Para tudo isso, os nossos pesquisadores (eng. agrônomos, veterinários, zootecnistas) já encontraram solução.
      Portanto essas atividades podem ser feitas em harmonia com o meio ambiente. Quem acha que a agricultura e a pecuária são inimigas do meio ambiente deveria rever os seus conceitos.

    • Cesar Grossmann:

      Uma pergunta, o quão popularizadas estão estas técnicas ecologicamente corretas? Se a grande maioria dos agricultores e pecuaristas não adotou estas técnicas, então não tem jeito, a agricultura e pecuária são inimigas do meio ambiente.

      Não adianta ter a técnica se ela não é utilizada/popularizada. É como se não existisse.

    • Lionel Gonçalves:

      Balela é dizer que existem estudos que demonstram que a pecuária, blá blá blá. Todos os caminhos apontam na direção do veganismo tanto para a evolução física, mental e até espiritual. Eu também acreditava que não poderia viver sem carne e derivados de leite, mas todos estamos em processo de evolução, estagnação, ou regressão. Opte, Você tem o direito e livre arbítrio, vivemos em um país livre (por enquanto) . Mas não desmereça estudos científicos. Só um exemplo, você sabia que no Brasil tem mais bois que pessoas? Pesquise. Você sabia que um boi consome 25 litros de água (boa) por dia e um ser humano 2 litros? Você sabia que foi desmatado 1 campo de futebol por segundo em 2017, metade para criar gado e a outra metade para alimentar este gado? Se não sabia se informe antes de opinar. Estagnação é opção, mas ignorar a evolução é ignorância (do ato de ignorar).

    • Cesar Grossmann:

      E tenho um argumento básico contra o veganismo: ele não é saudável. Você precisa suplementos vitamínicos, por que tem nutrientes de origem animal que são essenciais para a saúde do corpo.

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