Estado do Colorado faz milagre ao reduzir gestações em adolescentes

Por , em 13.04.2017

Todo investidor ficaria com os olhos brilhando se soubesse de uma oportunidade de investimento em que cada dólar investido significasse uma economia de US$5,85 nos três anos seguintes. Tudo isso enquanto a saúde e qualidade de vida dos seus clientes melhora.

Foi exatamente isso que o estado do Colorado (EUA) conseguiu fazer entre os anos de 2009 e 2014, quando implementou um programa de planejamento familiar pioneiro. Os resultados foram tão bons que outros estados, como de Delaware, estão copiando a fórmula chamada de milagrosa.

O “Caso Colorado”


Quase metade das mulheres que estavam grávidas no Colorado em 2008 afirmaram que a gestação aconteceu antes do que elas desejavam ou que elas simplesmente não queriam engravidar. A média nacional nos EUA é semelhante, e o que tem frustrado especialistas da área é que esta proporção não tem diminuído desde a década de 1960.

A gravidez não planejada é classificada como uma epidemia no mundo, porque é muito comum e causa consequências importantes na saúde física, mental e no desenvolvimento da criança. Uma cascata de benefícios acontecem quando essas gestações são reduzidas: as mulheres têm melhor saúde e educação, dão melhor segurança financeira para suas famílias, têm bebês mais saudáveis e há menos pressão em serviços públicos que se dedicam a atender famílias com baixa renda.

Resultados


Depois da implantação do programa, as gestações e abortos em adolescentes de até 19 anos caíram pela metade. As duas situações também caíram 20% entre mulheres de 20 a 24 anos. Até então, 80% das gestações de adolescentes eram indesejadas e 70% de jovens solteiras entre 20 e 29 anos não queriam engravidar naquele momento.

Segundas ou terceiras gestações de adolescentes também caíram 58%. Como efeitos indiretos, partos de alto risco e nascimentos prematuros também diminuíram.

As famílias pobres foram as que mais se beneficiaram com o programa, já que a gestação indesejada é quatro vezes mais comum e os nascimentos indesejados são sete vezes mais frequentes entre mulheres de baixa renda do que entre todas as mulheres.

Com menos famílias enfrentando as dificuldades que um parto indesejado traz, o estado economizou entre US$66 e 70 milhões em assistência pública, de acordo com um grupo de economistas da Universidade do Colorado.

Como isso foi feito


Como o Colorado conseguiu resultados tão impressionantes? A maior parte da melhoria veio da revolução tecnológica dos meios contraceptivos. Casais deixaram de usar métodos pouco eficazes de planejamento familiar – como pílulas e preservativos, que devem ser usados diariamente ou a cada relação sexual – para usar métodos de longo prazo, como DIU e implante subcutâneo.

Esse métodos custam menos quando comparados ao uso frequente da pílula e são entre 20 e 50 vezes mais eficientes que a pílula. Quando a mulher decide engravidar, o processo de retirada dos dois métodos é rápido, e a fertilidade retorna quase que imediatamente.

Um estudo entre 9 mil mulheres conduzido pela Universidade de Washington em St. Louis demonstrou que contraceptivos de longo prazo reduzem dramaticamente o número de gestações não planejadas e abortos. Ele também mostrou que as mulheres preferem estes métodos quando barreiras como alto preço são removidas.

Para tornar disponível DIUs e implantes no estado, agências de saúde precisaram atualizar o sistema de saúde para atender as mulheres. O Departamento de Saúde Pública do Colorado, em parceria com uma fundação filantrópica anônima, lançou um processo de reforma das clínicas estaduais para fornecer atendimento de última linha. Juntos, eles expandiram o alcance das clínicas que oferecem cuidados contraceptivos, realizou re-treinamento dos funcionários e psicólogos e atualizou práticas de agendamento e de cobranças.

As quatro estratégias do Colorado:

1. Melhorar acesso a serviços de qualidade

O sistema de “nenhuma porta é errada” foi adotado, o que significa que qualquer mulher que pedisse ajuda a qualquer funcionário das clínicas tinha que receber informações sobre como proceder. Enfermeiras, médicos residentes e outros funcionários de 100 centros públicos, inclusive em escolas públicas e em zonas rurais, receberam treinamento que permitiu a deles inserir e remover implantes e DIUs. Esses centros também adotaram horário de funcionamento mais flexível, para que as mulheres com empregos inflexíveis pudessem procurar atendimento. O planejamento familiar foi integrado aos setores de pré-natal, parto e pós-aborto.

2. DIUs e implantes foram tornados mais disponíveis

Todos os métodos foram disponibilizados sem que as pacientes precisassem pagar uma taxa, uma prática que foi adotada pelo Obamacare (que está sendo desmantelado na nova presidência). Implantes e DIUs são mais baratos do que várias cartelinhas de pílulas, mas o investimento deve ser feito de uma só vez, afastando mulheres que não têm todo o dinheiro guardado.

3. Promoção de decisões saudáveis e planejamento

As agências de saúde fizeram um grande trabalho de educação sexual nas escolas, na tentativa de tornar o assunto natural. Afinal de contas, não adianta nada disponibilizar os métodos contraceptivos se as pessoas não sabem como usá-los.

Jovens latinas nos EUA estão entre as que mais engravidam, por isso foram criados programas no contra-turno escolar de discussão sobre o assunto voltados para elas. Os educadores receberam treinamento para abordar o tema em sala de aula. As aulas e campanhas foram preparadas com focos específicos para diferentes faixas etárias.

4. Políticas públicas foram melhoradas

Todos participaram: legisladores, agências públicas e ONGs. Uma lei foi atualizada para permitir que mulheres recebam o DIU imediatamente após o parto se desejarem. Apesar de enfrentar objeções de grupos religiosos, o estado decidiu atualizar as leis e os serviços de saúde. [Alternet]

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