Detonando o mito do som maravilhoso dos violinos antigos (que custam milhões de dólares)

Por , em 9.04.2014

É uma conclusão dada como certa no mundo do violino: os melhores foram feitos há cerca de 300 anos por mestres italianos como Stradivari e Guarneri del Gesù. Claro, existem excelentes violinos modernos, mas nada que se compare com a magia de um Stradivarius que vale milhões. Certo?

Errado. Quando as luzes se apagam e os músicos vestem óculos escuros, a primeira escolha dos solistas é de longe um instrumento novo. Esse foi o resultado de um estudo feito por Claudia Fritz, da Universidade Pierre e Marie, na França, em conjunto com Joseph Curtin, um fabricante de violino americano.

Na pesquisa, violinistas internacionalmente reconhecidos não conseguiram distinguir entre instrumentos antigos e novos (acertam 31 das vezes, erraram 33 das vezes, um resultado ao acaso), e muitos escolheram um novo instrumento como seu favorito durante o “concerto às cegas”.

Em duas partes

Em 2010, os pesquisadores pediram que 21 músicos colocassem um óculos que obscurecia a visão e experimentassem três novos violinos e três velhos, durante uma competição internacional em Indiana (EUA). Treze escolheram um novo violino como seu favorito; o menos favorito dos seis foi um Stradivarius.

Os resultados levaram a muitas queixas de violinistas, que disseram que as condições de teste foram irrealistas – por exemplo, que os violinos foram tocados em um quarto de hotel.

Para o novo estudo, muitas melhorias foram feitas. Havia 12 instrumentos, seis antigos e seis novos, com os novos modificados para parecer mais velhos. Os violinistas, 10 solistas profissionais, tiveram mais tempo: 75 minutos em uma sala de ensaio e 75 minutos em uma sala de concertos com 300 lugares, ambas em Paris.

Eles usaram seus próprios arcos, compararam os violinos do teste com o seu próprio, e puderam optar por ter um ouvinte fornecendo feedback e um piano acompanhante. Em um certo ponto, uma orquestra acompanhou-os; os resultados desse segmento serão publicados em um estudo posterior.

Seis solistas escolheram um novo violino para uma turnê teórica. Um novo violino em particular, com um som alto e assertivo, foi favorecido por quatro, talvez porque, como solistas, eles pensavam em projetar o som através de uma orquestra.

Os solistas avaliaram os novos violinos de forma superior, em média, em quesitos como tocabilidade, articulação e projeção.

“As qualidades que eles estão procurando no instrumento realmente se dividem igualmente entre novos e velhos”, disse Curtin.

Ainda assim, vários violinistas, incluindo os participantes do estudo, afirmaram que seria simplista concluir que um violino novo pode ser igual a um velho, cheio de história.

Yi-Jia Susanne Hou, do Canadá, escolheu um novo violino durante a maior parte do estudo. Ainda assim, ela disse que preferia os velhos porque eles “ressoavam com o som de cada músico [que já o tocou]” ao longo dos séculos.

Elmar Oliveira escolheu um novo violino, convencido de que era um Stradivarius. Embora ele toque regularmente um instrumentos moderno que custa modestos US$ 10.000 (cerca de R$ 20 mil), diz que “a única coisa que você não pode colocar em um novo violino é que ele tenha sido tocado por 300 anos – estes instrumentos mudam e se desenvolvem”.

Já Giora Schmidt, outro participante do estudo, disse que o frescor de novos violinos é justamente seu apelo. “Instrumentos mais velhos às vezes podem soar cansados só pelo grande número de anos que tem sido tocados. Com um novo violino, você pode colocar a sua impressão digital nele imediatamente, porque ele não tem essas camadas”, comentou.

Ninguém duvida que instrumentos modernos têm suas qualidades, mas o estudo, apesar de bastante rigoroso, não conseguiu convencer os violinistas a abandonar sua antiga crença na superioridade dos consumados violinos italianos (até porque não era uma crença científica, e sim quase “mágica”, como apontado no primeiro parágrafo desse texto).

“Eu não conheço nenhum grande solista que tem um Strad ou Guarneri que pensa em trocar para um novo instrumento”, afirmou Earl Carlyss, um membro de longa data do Quarteto de Cordas da Juilliard School.

Segundo a pesquisadora principal, Claudia Fritz, o objetivo do estudo não era destruir o Stradivarius, que é claramente um belo instrumento. A ideia era mostrar que jovens solistas podem fazer carreira sem ter um instrumento de idade. “Você pode tocar incrivelmente bem sem ter um Strad”, diz. [NYTimes, Phys]

1 comentário

  • Ronaldo Soares:

    É apenas uma questão de glamour, se alguém viesse tocar um Stradivari ou um Guarneri del Gesùde de 300 anos que custa 5 milhões já é por si só uma boa publicidade.

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