5 falhas psicológicas que distorcem sua visão do mundo

Por , em 19.09.2013

Essa poderosa “máquina” de raciocínio localizada entre suas orelhas infelizmente não está livre de falhas e, embora diversos desses defeitos já sejam conhecidos pela ciência (como você lerá a seguir), é difícil contorná-los. Confira:

5. Você enxerga menos do que imagina

falhas psicológicas
A visão humana é impressionante, mas, acredite se quiser, é extremamente limitada no que diz respeito a foco: seus olhos só conseguem focalizar áreas pequenas, quando a luz refletida por elas atinge uma região específica da retina (a fóvea). O resto é um monte de borrões.

Apesar disso, a maioria das pessoas consegue ter uma boa ideia do que ocorre ao seu redor, graças à sua visão periférica. O segredo está na capacidade do cérebro de focar no que você observa diretamente e “adivinhar” o resto, com base em informações prévias – você reconhece uma garrafa d’água e uma cadeira mesmo que apareçam borradas, por exemplo.

Contudo, nem sempre o cérebro acerta, e o que você achou que fosse um cachorro na verdade era um arbusto, e o que você achou que era apenas uma sombra era um assaltante.

Outro problema com a visão humana é que nossa memória seletiva pode falhar – seu cérebro descarta informações relevantes por julgar que não precisaria mais delas. Isso pode acontecer, por exemplo, quando somos apresentados a alguém e, mesmo que a pessoa tenha acabado de dizer seu nome, nós esquecemos logo em seguida, achando que nunca mais vamos vê-la.

O vídeo abaixo mostra outro caso em que nossa visão é comprometida por causa de memória seletiva: um pesquisador se aproxima e pede informações a uma pessoa na rua; em seguida, troca de lugar com outro. Em metade dos casos, o participante (que não sabia da pesquisa) sequer notou a troca, e continuou a conversa como se nada tivesse acontecido.

Os olhos viram, mas o cérebro não guardou a informação.

4. Você é mais tendencioso do que imagina

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Existem fenômenos conhecidos como “viéses cognitivos”, falhas que as pessoas cometem quando pensam sobre algo – e, para nosso azar, existem centenas deles.

Um exemplo é a “falácia do apostador“, que é a tendência de acreditar que eventos passados podem influenciar eventos futuros independentes – como achar que, depois de tirar “cara” cinco vezes seguidas no cara ou coroa, com certeza vai tirar “coroa” na próxima jogada.

Existe também o “viés de retrospecto”, que faz a pessoa acreditar que um evento passado aleatório era totalmente previsível (“Ah, eu SABIA que isso ia acontecer!”).

Outro viés é o “efeito da vítima identificável”: temos uma tendência maior a nos importar com crimes em que há poucas vítimas (cujo rosto podemos ver) do que com crimes em que há muitas vítimas (“sem rosto”).

3. Você cria muitos modelos simplistas

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Fenômeno agravado pela obrigação social de “ter opinião sobre tudo”, o simplismo é um recurso que usamos com frequência para lidar com assuntos com os quais estamos pouco familiarizados.

Um exemplo clássico é o de acreditar que uma empresa está em péssima situação simplesmente porque o preço de suas ações caiu muito. Quem sabe “mais do que um pouco” sobre economia reconhece que a queda de ações não significa, necessariamente, que uma empresa está faturando pouco ou está a ponto de falir.

Não é segredo que muitas pessoas opinem sobre acontecimentos sem realmente saber o que há por trás deles.

O pior é que isso não acontece apenas em relação a eventos: também podemos ser simplistas em relação a pessoas, pressupondo que elas tomaram determinadas atitudes por causa de traços de sua personalidade (ou, melhor, por causa de traços que acreditamos que elas tenham – egoísmo, preguiça, orgulho, prepotência, generosidade, humildade), e não por conta de fatores externos.

Pensamos, por exemplo, “ah, Fulano não me telefonou porque não se importa comigo” ao invés de “talvez Fulano não tenha me telefonado porque aconteceu algo com ele ou com a família dele”. “Beltrana está atrasada porque é preguiçosa e deve ter acordado tarde” ao invés de “Beltrana provavelmente está atrasada porque ficou ‘presa’ no trânsito”.

Quantas vezes você se surpreendeu com a atitude de alguém porque achava que ela era metida, egoísta ou algo do tipo? O problema não está em enxergar os defeitos alheios, mas em achar que toda uma personalidade pode ser resumida em poucas ações ou palavras.

2. Você não (necessariamente) aprende com seus erros

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Em 2009, cientistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts – EUA) monitoraram o cérebro de macacos durante uma série de desafios. Resultado: o aprendizado (medido pela formação ou pelo reforço de conexões entre neurônios) era mais intenso quando os animais eram bem-sucedidos, em comparação com os momentos em que falhavam. Por conta da semelhança entre o cérebro dos macacos e o nosso, é possível que esse fenômeno também ocorra com seres humanos.

No lugar de “aprendemos com os nossos erros”, talvez seja mais seguro dizer “aprendemos com nossas tentativas” (supondo, claro, que vamos evitar cometer os mesmos erros mais de uma vez).

1. Você tem excesso de autoconfiança

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Certa vez, o célebre cientista Charles Darwin disse que “a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento”. Esse fenômeno, conhecido no meio acadêmico como “efeito Dunning-Kruger”, faz com que uma pessoa, justamente por falta de conhecimento, acredite que é melhor numa atividade do que de fato é, e não note suas próprias falhas. É como não saber as regras de um jogo, mas acreditar que é um bom jogador.

Para piorar, o excesso de confiança também pode atingir pessoas que são muito boas no que fazem: com o passar do tempo, um médico ou um piloto de avião, por exemplo, podem abandonar certas medidas de cautela que adotavam quando eram menos experientes.

O melhor remédio para esse problema é a adoção de protocolos e checklists – um dos segredos por trás do baixo número de acidentes aéreos (centenas de detalhe são verificados antes, durante e após os voos, para evitar falhas). Pode ser chato (especialmente ao longo do tempo), mas é seguro. [Cracked]

5 comentários

  • VALDEMIR:

    Eu só gostaria de saber qual é a falha psicológica que leva 50 % da população de um país a idolatrarem um homem que prega o ódio, a tortura e a violência como se fosse um deus. Existe algo de muito errado, doentio mesmo, no psicológico do povo brasileiro…

  • Nilton Flávio Silva:

    Realmente faz parte da natureza humana “simplificar” as coisas. Talvez seja uma imperfeição ou simplesmente um mecanismo de defesa, uma forma de evitar aprofundar o pensamento em algo que não intendemos ou temos medo. Geralmente, tememos o que não conhecemos. Pessoas que conseguem ver cada novidade como um desafio, são as que mais tem facilidade para desenvolver-se e conseguem se destacar acima da média. Esse é a principal característica dos que são chamados de “gênios loucos”

  • pmahrs:

    Ótima matéria. Mas se deixarmos de ter falhas deixamos de ser humanos; isto que nos faz tão diferentes e a buscar respostas tantos científicas quanto espirituais. O que seria do mundo sem loucos como Einstein, Bill Gates, Steve Jobs, Gandhi, Mandela, Cristo.

    • pmahrs:

      A falha de modelos simplistas é o que mais políticos e mídias usam no Brasil e muitos absolvem como verdade sem analises mais profundo. EX: A décadas políticos e partidos colocam como seus “grande segredo” para mudar o país, melhorar e investir mais em educação, saúde e segurança, só que não existe nada mais óbvio e simples do que isto, quem discordaria? Só não falam o quanto isto custa ao contribuinte ou cliente em valor de dinheiro nos países onde todos tem acesso, quer seja pública, privada ou mista. Ao questionar sobre os custos ai usam outra falácia simplista, ou seja, “pagamos altos impostos” No Reino Unido, por exemplo, com um terço de nossa população ou 132 milhões de habitantes a menos conseguem uma arrecadação federal 3 vezes maior que a nossa apesar de terem o PIB semelhante, os EUA com 50% a mais de habitantes, em 2012, conseguiu uma arrecadação total 600% maior que nossa arrecadação federal. Ao citar isto, ai justificam com outro modelo simplista, mas desta vez claramente enganoso. Falam que lá pagam mais, mas o retorno é melhor; óbvio que tem que ser melhor pagando mais. Esperar que se tenha o mesmo retorno que me países onde se paga mais valor de moeda em tributos do que a maioria aqui ganha de salário é tão fantasioso quanto esperar que R$ 244 que é 36% de nosso salário mínimo compre o mesmo que US$ 886 ou R$ 1950 que é 26% do salário médio americano ou europeu. Fazer um índice de retorno baseado em carga tributária e não em impostos per capita é ilusionismo. Só usei lógica científica e matemática básica, em minha opinião este ponto de vista suscita a ciências, porque só poderemos ter mais investimento em tecnologia, educação e ciências se investigarmos sem simplismos e descobrirmos como em outros países conseguem ter mais verbas para isto e cientistas são mais valorizados. Na minha opinião tudo parte de povo com bom poder de compra e melhor distribuição de renda; sem isto primeiro nada é possível.

    • Cesar Grossmann:

      Acho que não se trata de ser perfeito, mas de estar consciente do viés causado pelas imperfeições. E não em nada a ver com “gênios loucos”, a meu ver.

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