Além da Memória: Revelações Surpreendentes sobre o Impacto do Alzheimer no Cérebro
Em um estudo recente, cientistas descobriram que a doença de Alzheimer afeta mais regiões do cérebro do que se pensava anteriormente, estendendo-se além das áreas relacionadas à memória. Esse impacto também é visto como separado de indicadores comuns da doença, como os níveis de beta-amiloide.
Há mais de um século, especialistas têm categorizado áreas cerebrais com base em suas funções. Eles acreditam que a doença de Alzheimer resulta do colapso de vários sistemas cerebrais interconectados dentro de uma rede mais ampla. A extensão em que essas mudanças na rede se correlacionam com a gravidade da demência e como elas diferem do envelhecimento cerebral normal ainda estão sendo exploradas. Compreender isso é crucial para identificar as causas subjacentes dos problemas cerebrais e cognitivos relacionados ao Alzheimer.
Uma equipe da Universidade do Texas em Dallas realizou um estudo para determinar se existem diferenças distintas na organização da rede cerebral entre indivíduos de diferentes idades e estágios de demência. Gagan Wig, o principal pesquisador do estudo, observou que o Alzheimer pode causar disfunções cerebrais além da memória e atenção, potencialmente identificáveis nos estágios iniciais de declínio cognitivo.
O estudo envolveu 601 participantes com idades entre 55 e 96 anos, inscritos através da Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer. Desses, 326 eram cognitivamente normais, enquanto 275 mostraram sinais de comprometimento. Os pesquisadores avaliaram sua memória, estado mental, gravidade da demência e a presença de beta-amiloide, um marcador-chave do Alzheimer.
Eles usaram a imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) para estudar como as áreas cerebrais se comunicam. A equipe avaliou a separação dos sistemas cerebrais, incluindo sistemas sensoriais-motores e sistemas de associação, que gerenciam o processamento de informações, atenção, memória e linguagem.
Os resultados indicaram interrupções únicas nas redes cerebrais para Alzheimer e envelhecimento normal. O Alzheimer afetou tanto as redes de associação quanto as sensoriais-motoras, ao contrário do envelhecimento, que principalmente perturbou redes cognitivas. Wig observou que no envelhecimento normal, os sistemas de associação mudam, mas os sistemas sensoriais e motores permanecem em grande parte inalterados. No entanto, no agravamento da demência, tanto os sistemas de associação quanto os sensoriais-motores mostram alterações.
A autora principal, Ziwei Zhang, observou que em adultos mais velhos cognitivamente normais, as interações cerebrais ocorrem principalmente dentro de áreas de funções semelhantes. Em contraste, pacientes com Alzheimer mostram interações alteradas entre funções diferentes, como processamento visual e memória.
O estudo também revelou que as mudanças na rede cerebral relacionadas ao Alzheimer são independentes dos níveis de beta-amiloide, sugerindo outros fatores em jogo na doença. Esse achado desafia o foco no beta-amiloide como a principal causa do Alzheimer.
Wig enfatizou que este estudo poderia redefinir a compreensão do comprometimento cognitivo relacionado ao Alzheimer, oferecendo potencialmente novos alvos de tratamento. Essas percepções podem ajudar a identificar déficits comportamentais nos estágios iniciais do Alzheimer e de outras demências, auxiliando no diagnóstico e na avaliação do risco da doença em indivíduos saudáveis.
A pesquisa sugere uma nova maneira de caracterizar o comprometimento cognitivo relacionado ao Alzheimer, com foco na disfunção da rede cerebral, em vez de apenas em marcadores biológicos como as placas de beta-amiloide. Isso abre caminho para abordagens de tratamento que visam a restauração e manutenção das conexões cerebrais, ao invés de se concentrar unicamente na eliminação dos marcadores físicos da doença.
Além disso, a pesquisa ressalta a importância de avaliar o impacto do Alzheimer não apenas em termos de perda de memória, mas também na maneira como afeta a comunicação entre diferentes áreas do cérebro. Essa compreensão ampliada da doença pode levar a diagnósticos mais precisos e intervenções mais eficazes.
Em última análise, o estudo oferece uma visão promissora de que, ao entender melhor a complexidade da doença de Alzheimer e sua influência sobre o cérebro, poderemos avançar no desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas para combater essa doença devastadora. [New Atlas]