Inteligência artificial decifra alguns mistérios do antigo manuscrito de Voynich

Por , em 30.01.2018

Usando inteligência artificial, pesquisadores da Universidade de Alberta (Canadá) deram um grande passo para desvendar o significado de um documento que vem sendo indecifrável há cem anos: o manuscrito de Voynich.

Nomeado em homenagem a Wilfrid Voynich, um comerciante de livros que colocou suas mãos no texto em 1912, o manuscrito de 240 páginas tem 600 anos e está preenchido com uma linguagem aparentemente codificada e ilustrações esquisitas, confundindo linguistas e criptógrafos há décadas.

Criptograma mais importante do mundo

O manuscrito de Voynich contém centenas de páginas frágeis, sendo que algumas estão faltando. Escrito à mão, o texto vai da esquerda para a direita e a maioria das páginas também possui desenhos, como plantas, figuras humanas nuas e símbolos astronômicos.

É difícil decifrar o seu significado porque o documento está escrito em um código desconhecido para disfarçar uma linguagem que não sabemos qual é – uma dupla incógnita que se revelou, até agora, impossível de se resolver.

Considerado o criptograma mais importante do mundo, foi examinado por incontáveis mentes profissionais e amadoras, inclusive criptógrafos que trabalharam decifrando comunicações inimigas na Segunda Guerra Mundial.

Várias teorias foram levantadas ao longo dos anos, incluindo que o documento foi criado usando esquemas de criptografia semialeatórios; anagramas; ou sistemas de escrita em que as vogais foram removidas. Alguns até sugeriram que o manuscrito é uma “pegadinha” altamente elaborada.

A primeira batalha foi ganha

Já que as máquinas estão aí para dominar o mundo mesmo, pelo menos podemos usá-las a nosso favor. Tendo em vista que muitos seres humanos falharam na tarefa, estava na hora de recorrer a um cérebro que poderia processar esse texto com o escrutínio necessário: a inteligência artificial.

Os cientistas da computação Greg Kondrak, especialista em processamento de linguagem natural, e Bradley Hauer, seu estudante de pós-graduação, decidiram fazer o teste. O primeiro passo era descobrir o idioma do manucristo criptografado. Para esse fim, uma inteligência artificial (IA) estudou o texto da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, escrito em 380 línguas diferentes, procurando por padrões.

Em seguida, a IA passou para o Voynich, concluindo com uma alta taxa de certeza que o texto foi escrito em hebraico codificado. Kondrak e Hauer ficaram surpresos, uma vez que entraram no projeto pensando que ele havia sido elaborado a partir do árabe.

A segunda batalha está em curso

Ótimo, está em hebraico. Mas como esse hebraico foi codificado? O segundo passo da pesquisa foi testar hipóteses de criptografia propostas por cientistas ao longo do tempo. A principal delas é que o texto havia sido criado com alfagramas, ou seja, a palavra é substituída por um anagrama ordenado alfabeticamente (por exemplo, MANUSCRITO seria ACIMNORSTU).

Armados com o conhecimento de que o texto foi originalmente codificado em hebraico, os pesquisadores desenvolveram um algoritmo que poderia levar esses anagramas a criar palavras hebraicas reais. “Mais de 80% das palavras existiam em um dicionário hebreu, mas não sabíamos se faziam sentido juntas”, contou Kondrak.

Para o passo final, os pesquisadores decifraram a frase de abertura do manuscrito, apresentando-a a um colega cientista da computação e falante nativo de hebraico, Moshe Koppel. Decepcionantemente, Koppel disse que ela não formava uma frase coerente em hebraico.

Novamente com a ajuda do computador, no entanto, depois de algumas correções ortográficas, a frase foi convertida em uma sentença em hebraico que pode ser traduzida para o inglês (e agora para o português): “She made recommendations to the priest, man of the house and me and people” ou “Ela fez recomendações para o padre, o homem da casa, eu e as pessoas”.

Vencendo a guerra

Essa é uma maneira muito bizarra de se abrir um manuscrito de 240 páginas, mas pelo menos faz algum sentido.

De acordo com Kondrak, o significado completo do texto não será conhecido até que historiadores de hebraico antigo tenham a chance de estudar o texto decifrado.

Além disso, a equipe está planejando aplicar o seu algoritmo a outros manuscritos antigos, destacando o potencial da IA nesse campo de estudo. [Gizmodo]

2 comentários

  • Paulo Roberto:

    Engraçado, mas parece que alguns desenhos possuem imagens bem claras.

  • Abelanarco Carpen Die:

    Já era, não voltaremos mais, a IA irá dominar o mundo não por ser melhor que os humanos, mas sim por preguiça e facilidades,

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