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Intervenção artístico-urbana em shopping brasileiro critica o consumismo

Se você conhece ou é alguém nunca comprou algo do qual não precisava, parabéns. Você é um item verdadeiramente raro no mundo de hoje.

“Consumismo”. Essa palavra tão batida pode ter mais de uma definição, mas geralmente se refere a uma compulsão que leva o indivíduo a comprar itens de forma ilimitada e sem necessidade.

O mais engraçado é que, conforme o comportamento se torna mais comum na sociedade, as pessoas parecem também o encarar como mais “normal”. Não é difícil observar consumidores esbravejando que “compraram tal coisa com seu próprio dinheiro”, que “trabalharam para isso”, e que “merecem ter o que quiserem”.

Espertos mesmo são os que vendem porcarias que os outros não precisam, mas “querem ter porque podem pagar com seu próprio dinheiro”. As lojas de fato usam todo o tipo de truques que podem para nos fazer gastar mais, porém, analisando a fundo, nem precisariam.

Psicologicamente falando, o consumista se deixa influenciar excessivamente pela mídia, o que é comum em um sistema dominado pelas preocupações de ordem material – ah, o temido/amado capitalismo.

A ilusória concepção de que o consumo alienado conduz ao bem-estar e é sinônimo de civilização é o que leva milhares de pessoas a tentar preencher com coisas materiais um vazio que não poderia nunca ser preenchido com coisas materiais.

Tendo em vista esse quadro triste e assustador (mais triste do que assustador, justamente por sua “normalidade”), a cena inusitada e monocromática vista no Shopping Midway Mall, em Natal, no Rio Grande do Norte, na última segunda-feira (9), adquire uma importância enorme.

A performance “Cegos”, parte da programação do Seminário Internacional Corpos Diferenciados na Arte Contemporânea, é uma intervenção artístico-urbana criada por Marcos Bulhões e Marcelo Denny, professores de teatro na Escola de Comunicação e Artes da USP, que pretendia causar uma reflexão nos clientes que passeavam por aquele espaço de compras: eles estavam lá por vontade própria, ou eram escravizados pelo mercado?

Apesar de destoar do colorido da decoração natalina, a ação estava em perfeita sintonia com o contexto de aquisições de fim do ano: uma representação crítica e contundente do padrão de comportamento da sociedade e a cegueira que o consumo provoca nas pessoas.

40 pessoas, homens e mulheres, devidamente vendadas e munidas com suas sacolas de compras passearam durante mais de duas horas entre pedestres, carros e clientes do centro comercial, sempre perseguidos por um batalhão de fotógrafos e curiosos. Alguns não estavam entendendo nada; outros acharam que se tratava de uma pegadinha, ou de um protesto. Muitos, no entanto, entenderam que a performance “devia ter alguma coisa a ver com o consumismo”. Estas pessoas deram o primeiro passo para entrar uma belíssima relação com a felicidade verdadeira, abandonando as amarras infinitas da inalcançável realização material. Afinal, sempre vai ter mais alguma coisa para comprar, mas aquele segundo em que seu filho aprende a andar não volta nunca mais. [TribunadoNorte, InfoEscola]

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