Museu Nacional do Brasil: itens históricos e científicos raríssimos são perdidos em incêndio
Um incêndio destruiu o Museu Nacional do Brasil no Rio de Janeiro, a instituição científica mais antiga do país. A maioria dos 20 milhões de itens que continha, incluindo os restos mortais mais antigos já encontrados nas Américas, foram destruídos.
A causa do incêndio ainda não é conhecida. Ele começou no domingo (2) à noite, depois que a instalação fechou. Nenhuma vítima foi relatada. O fogo foi controlado na madrugada de segunda-feira, e a extensão dos danos e motivo do incidente serão investigados a partir de agora.
O museu, localizado em um prédio que já serviu de residência para a família real portuguesa, comemorou seu 200º aniversário este ano.
O presidente do Brasil, Michel Temer, disse em um tweet que este era um “dia triste para todos os brasileiros”, pois “200 anos de trabalho, pesquisa e conhecimento foram perdidos”. No entanto, Luiz Duarte, vice-diretor do museu, disse à TV Globo que a organização lutou “por muitos anos” para garantir recursos adicionais e financiamento para o museu. “Meu sentimento é de total desânimo e imensa raiva”, disse Duarte.
Sou museóloga do Museu Nacional e te digo: tinham cartas de diretor do Museu reclamando de descaso e falta de verbas desde o século XIX. São 200 anos de abandono. A gente sempre soube, nossa tragédia é mais do que anunciada https://t.co/lmEYYehqSc
— M de Mayumi (@thaismayumi) 3 de setembro de 2018
Um funcionário do museu também afirmou que os gerentes de projeto tiveram “tremenda dificuldade” em tentar garantir o financiamento de recursos “suficientes” para o palácio. Com a crise política e econômica que afetou o país, o museu sofria cada vez mais com cortes no financiamento e o estado degradado das suas instalações.
Problema com a água
Além do péssimo estado de conservação do museu, outro problema atrapalhou muito o trabalho dos bombeiros para impedir o prédio de ser tomado pelas chamas.
De acordo com a agência de notícias Associated Press, os hidrantes mais próximos não estavam funcionando. Roberto Robadey, porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio, contou que eles precisaram buscar água em um lago próximo.
Na manhã de segunda-feira, o fogo finalmente ficou sob controle e algumas das peças do museu foram resgatadas.
O que tinha no Museu Nacional?
O museu foi criado em 1818, com o objetivo de promover a pesquisa científica, disponibilizando sua coleção para especialistas. Em 1892, passou para o endereço atual, o Palácio de São Cristóvão, que serviu de residência à família real portuguesa ao longo do século 19. Em 1946, passou a ser vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e hoje abrigava seis cursos de pós-graduação, entre eles os de Antropologia Social, Arqueologia e Zoologia.
“A perda maior de todas são as grandes relíquias antigas. Coisas que não existem mais”, explicou o professor Paulo Buckup à BBC, citando um peixe-serra de cerca de 5 metros que estava sendo preparado para ser exposto ao público. Encontrar um no mundo hoje é raríssimo. A espécie está ameaçada de extinção.
O Museu Nacional, que muitos viram por tanto tempo ignorado e subfinanciado, é destruído com consequências devastadoras para a herança do Brasil. Seus milhões de artefatos incluíam:
- fósseis, incluindo um esqueleto de 12 mil anos de uma mulher conhecida como “Luzia”, a mais antiga já encontrada nas Américas;
- o maior meteorito do Brasil (este sobreviveu ao incêndio);
- ossos de dinossauros;
- itens históricos que cobriam os séculos desde a chegada dos portugueses nos anos 1500 até a declaração da república em 1889;
- uma coleção de etnologia que continha peças únicas da era pré-colombiana e artefatos de culturas indígenas;
- peças da época greco-romana e do Egito.
Metáfora para um país em chamas?
Esta não é apenas a história brasileira que está em chamas. Muitos veem o incêndio como uma metáfora para a cidade e para o país como um todo.
A violência crescente no Rio de Janeiro, um profundo declínio econômico e a corrupção política se combinaram para tornar a cidade uma sombra do que já foi um dia. Acrescente a isso o fato de que os gastos federais foram reduzidos, e os números do turismo também diminuíram.
Além disso, as atuais políticas governamentais querem congelar gastos com Educação e Cultura, e o financiamento para as Universidades e os cursos de pós-graduação – que já vem sendo cortado – pode alcançar níveis catastróficos.
Embora sejam de extrema importância para o Brasil crescer, a ciência, a educação e a cultura no país vêm sofrendo descaso há algum tempo. Com novas eleições na esquina, talvez seja a hora dos brasileiros cobrarem dos candidatos um posicionamento quanto ao orçamento dessas áreas para evitar perdas maiores. O que você acha? [ScienceAlert, Cnet, G1, BBC, BBCBR]
2 comentários
As normas brasileiras, por serem cópia de normas internacionais, são de excelente qualidade, porém, precisam ser seguidas para evitar desastres, senão vejamos: a NR-10 (Norma regulamentadora número 10 do MTE) exige que todos os sistemas elétricos atendam as normas nacionais e internacionais aplicáveis. Assim, ocorrendo sobrecargas ou curtos-circuitos os dispositivos de proteção (disjuntores e relés) atuam antes do defeito se transformar num incêndio. Logo, basta seguir as normas que o risco de incêndio por problema elétrico fica quase que totalmente tratado. Porém, mesmo com a exigência do atendimento das normas, muitos sistemas elétricos ainda são precários, sem estudos de curto-circuito e seletividade da proteção, sem aplicação adequada das proteções, etc. Não foi por falta de normas que ocorreu o incêndio da boate Kiss, do Aeroporto Santos Dumont e agora do Museu Nacional – é por falta de responsabilidade e por falta de fiscalização das autoridades que as normas não são seguidas. Todos os sistemas elétricos deveriam passar por fiscalização do MTE para verificar se existem os estudos do sistema elétrico e os estudos das proteções, pois não apenas patrimônio está em risco, mas também vidas humanas…
CAUSA FOI ABADONO PUBLICO