A mãe de todas as cobras

Por , em 28.05.2015

Cerca de 110 milhões de anos atrás, muito antes dos dinossauros morrerem, o mais recente ancestral comum de todas as cobras que vivem hoje deslizou através das selvas densas de Gondwana, perseguindo pequenos mamíferos e besouros.

Essa é a conclusão de uma análise recente de pesquisadores da Universidade de Yale (EUA), que conduziu o primeiro estudo em profundidade genética e anatômica de dezenas de espécies de serpentes, vivas e extintas, para chegar ao melhor palpite para os traços de comportamento e físicos da primeira cobra. Com três metros de comprimento e dois membros insignificantes se arrastando perto de sua cauda, ​​ela provavelmente daria os mesmos calafrios que uma parente mais recente.

Os resultados sublinham o grande sucesso evolutivo da estrutura do corpo das cobras. Existem mais de 3.000 espécies em todos os continentes, exceto na Antártida, mas as cobras não mudaram muito em mais de 100 milhões de anos. “Apesar de não ter pernas, as cobras são hábeis em sobreviver em uma variedade de habitats como desertos, florestas, ambientes aquáticos, árvores, subterrâneos. Elas são incrivelmente adaptáveis”, diz Daniel J. Field, biólogo evolucionista de Yale.

De onde vêm as cobras?

Várias questões inquietantes sobre a evolução das cobras persistem há décadas: elas se originaram na terra ou nos oceanos? Por que elas não possuem membros? O que as primeiras cobras comiam? “Historicamente, tem havido uma falta de fósseis de cobras que possam ser informativos, e esse tem sido um fator limitante para a compreensão de como e quando as cobras modernas surgiram”, diz Field.

Trabalhando com 73 espécies de serpentes vivas e extintas, ele e seus colegas compararam o DNA através de 18.000 pares de bases, bem como 766 características anatômicas. Descobertas recentes de fósseis – incluindo três espécimes bem preservados recuperados na última década, dois na Argentina e um nos EUA – ofereceram um olhar mais abrangente do início da existência das cobras.

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Os resultados apontam para uma criatura que era noturna, não tinha as mandíbulas flexíveis das cobras atuais, provavelmente viveu e caçou acima do solo (em vez de ter construído galerias subterrâneas, como alguns cientistas já haviam sugerido), e se originou no que é a América do Sul hoje. A serpente, como era esperado, parece ter tido pernas traseiras vestigiais.

As pernas são uma das principais características que os cientistas se basearam na construção das relações possíveis. As jiboias, que se pensava estarem fora da linhagem moderna de serpentes porque seus antecessores tinham membros posteriores, são, de acordo com esta análise, mais intimamente relacionadas com as primeiras cobras do que se acreditava.

Por que as cobras perderam completamente as pernas ao longo do tempo, bem como por que elas permaneceram praticamente as mesmas por tanto tempo, ainda são questões em aberto. Alguns especialistas pensam que a falta de pernas deu às cobras uma vantagem na hora da caça ou para se esconderem embaixo da terra. Outra pesquisa recente sugere algo totalmente diferente: a de que o corpo da cobra é o projeto original, e outros répteis de quatro patas, como os lagartos, evoluíram suas pernas a partir delas. Os debates, sem dúvida, evoluirão à medida que novos fósseis forem descobertos.

Projeções

Mas e as cobras que existiam mesmo antes desta? A análise oferece algumas novas pistas: sugere uma nova data para quando as cobras se diferenciaram do resto dos répteis, 130 milhões de anos atrás. Isso difere da maioria das estimativas aceitas para esta divisão, que imaginava-se ter acontecido em torno de 100 milhões de anos atrás. A pesquisa também sugere que as cobras evoluíram inteiramente em terra, apesar das semelhanças anatômicas chaves com répteis que habitavam o oceano extintos chamados mosassauros.

“Este é o estudo mais abrangente e rigoroso da origem das cobras até agora”, afirma Michael Lee, especialista em genética da Universidade de Adelaide, na Austrália, que estuda a origem dos répteis. Mas isso está longe de terminar. A nova pesquisa observou apenas algumas dezenas de cobras entre as milhares de espécies que existem no mundo. “A reconstrução é plausível, mas outras interpretações também são”, diz Lee. “O ancestral comum mais recente das cobras vivas vai ser algo difícil de reconstruir”, prevê. [Smithsonian]

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