Metade da Amazônia pode ser levada ao ponto de virada climática até 2050

Por , em 17.02.2024

Grandes partes da floresta amazônica estão sob risco devido a uma combinação de fatores como secas prolongadas, altas temperaturas e desmatamento extensivo. Esses elementos podem levar certas áreas além de um limite crítico, conhecido como ponto de inflexão. Contudo, ainda não está clara a probabilidade de um colapso ecológico mais amplo na região.

Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina no Brasil, ressalta a resiliência da floresta como um todo, apontando que ainda existe uma janela de oportunidade para ações preventivas.

Cientistas alertam há anos que o aumento das temperaturas e o desmatamento podem empurrar a Amazônia para além de um ponto crítico, resultando em uma transição rápida de floresta para savana. As preocupações atuais são intensificadas pelo fenômeno El Niño e pelo aumento das temperaturas devido ao aquecimento global.

No entanto, as previsões sobre quando ou onde esse ponto de inflexão pode ocorrer na Amazônia são inconsistentes, dada a complexidade dos modelos climáticos e ecológicos.

Para identificar quais partes da Amazônia estão mais vulneráveis, Hirota e sua equipe analisaram imagens de satélite para avaliar como várias pressões ambientais podem se desenvolver ao longo do tempo. Os fatores analisados incluíam temperaturas elevadas em períodos de seca, susceptibilidade à seca e a probabilidade de incêndios e desmatamento. Eles descobriram que até 2050, cerca de 10% da bacia amazônica poderia enfrentar pelo menos dois desses fatores, aumentando as chances de a área se transformar em uma floresta degradada ou se assemelhar a uma savana. Além disso, até 47% da bacia poderia ser afetada por pelo menos um desses fatores, indicando um nível de risco.

Hirota observa que, embora a perda de algumas áreas florestais seja inevitável devido às mudanças ambientais em andamento, áreas significativas podem ser preservadas. Ela nota que a maioria das áreas florestais não afetadas por essas pressões está dentro de zonas protegidas e terras indígenas, que geralmente apresentam taxas mais baixas de desmatamento. Sob a administração do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, as taxas de desmatamento caíram significativamente, embora tenham aumentado em outras regiões da Amazônia.

Dominick Spracklen, da Universidade de Leeds no Reino Unido, reconhece o estudo como uma análise abrangente das diversas ameaças enfrentadas pela Amazônia. No entanto, ele ressalta que o estudo não resolve as discrepâncias entre os modelos que preveem um possível ponto de inflexão.

Por exemplo, alguns modelos sugerem que os efeitos negativos do aquecimento podem ser atenuados por níveis mais altos de CO2 na atmosfera, o que poderia potencializar o crescimento das plantas. No entanto, a variabilidade na disponibilidade de nutrientes e água em toda a Amazônia adiciona incerteza à previsão de seu futuro.

Spracklen expressa preocupação com o destino incerto de um ecossistema tão vital.

A situação na Amazônia é complexa e multifacetada. O desmatamento, impulsionado principalmente pela agricultura, pecuária e exploração madeireira, continua a ser uma das maiores ameaças à floresta. Este processo não só reduz a cobertura florestal mas também afeta a biodiversidade, altera ciclos hidrológicos e contribui para as mudanças climáticas.

As políticas de conservação e os esforços de reflorestamento são cruciais para mitigar os efeitos do desmatamento. Iniciativas como a criação de áreas protegidas e a implementação de práticas de manejo florestal sustentável têm mostrado ser eficazes na preservação da biodiversidade e na manutenção dos serviços ecossistêmicos.

Além disso, a colaboração internacional e o compromisso dos governos locais e nacionais são fundamentais para garantir a proteção a longo prazo da Amazônia. O envolvimento das comunidades locais, incluindo povos indígenas, que têm um conhecimento profundo e uma relação intrínseca com a floresta, também é essencial.

A Amazônia desempenha um papel crucial no equilíbrio ecológico global, atuando como um grande reservatório de carbono e influenciando padrões climáticos regionais e globais. Por isso, a preservação da Amazônia não é apenas uma questão local ou nacional, mas um desafio global que requer ação imediata e colaboração internacional para garantir um futuro sustentável para a floresta e para o planeta como um todo. [New Scientist]

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