Mistérios Cósmicos: Descobrindo as Emissões de Raios Gama do Coração da Via Láctea

Por , em 29.11.2023
Uma imagem de Sagittarius A*, o buraco negro no coração da Via Láctea, capturada pelo Telescópio do Horizonte de Eventos. (Crédito da imagem: Colaboração EHT)

No coração da nossa galáxia, um fenômeno intrigante tem capturado a atenção dos astrônomos: emissões intensas de raios gama, direcionadas à Terra, originárias das proximidades do buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea. Uma pesquisa recente, ainda não revisada por pares e publicada na plataforma de pré-impressão arXiv, apresenta uma hipótese para a origem dessas emissões.

Especialistas da Universidade Nacional Autônoma do México propõem que esses raios gama são produzidos por uma nuvem de gás em órbita ao redor do buraco negro, movendo-se a quase um terço da velocidade da luz. Essa descoberta pode esclarecer um mistério que rodeia o Sagittarius A* (Sgr A*), o buraco negro no centro da nossa galáxia, situado a aproximadamente 26.700 anos-luz da Terra, que tem confundido os astrônomos há mais de dois anos.

A observação inicial das pulsações de raios gama provenientes das proximidades do Sgr A* foi feita em 2021, quando cientistas detectaram esses pulsos chegando à Terra. Eles compreenderam que esses raios não poderiam ser originados dentro do próprio buraco negro, devido à natureza dos buracos negros, que são delimitados por uma fronteira conhecida como horizonte de eventos. Neste limite, nem mesmo a luz possui velocidade suficiente para escapar da intensa gravidade do buraco negro, o que significa que eles não emitem radiação por si mesmos.

Normalmente, os buracos negros supermassivos emitem radiação intensa a partir de áreas próximas devido aos efeitos gravitacionais em gases e poeiras circundantes, formando um disco de acreção. Este disco emite luz em várias frequências, abrangendo desde ondas de rádio de baixa energia até raios gama de alta energia. Contudo, a situação com o Sgr A* é distinta, pois este buraco negro é relativamente inativo, semelhante a um humano que sobrevive com um grão de arroz a cada milhão de anos, conforme apontado por Chris Impey, astrônomo da Universidade do Arizona, que não participou do estudo.

Para desvendar esse enigma, os pesquisadores analisaram dados do Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi, coletados entre junho e dezembro de 2022. Eles examinaram os dados do Fermi em busca de padrões nas emissões de raios gama e descobriram que esses pulsos ocorrem aproximadamente a cada 76,32 minutos, perto do Sgr A*. Curiosamente, essa frequência é a metade do intervalo dos pulsos de radiação de raios X também observados na mesma região, sugerindo uma relação entre os dois tipos de emissões.

Uma visão das misteriosas emissões de raios-X avistadas perto do buraco negro central da Via Láctea. Estas podem estar relacionadas a novas detecções de raios gama da mesma região. (Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech)

Os pesquisadores teorizam que tanto os raios gama quanto os raios X são produzidos por uma “gota” de gás orbitando o Sgr A* a cerca de 30% da velocidade da luz, o que equivale a aproximadamente 200 milhões de milhas por hora (320 milhões de km/h). Eles acreditam que essa gota emite luz em vários comprimentos de onda à medida que orbita o buraco negro, criando flares periódicos.

Essa descoberta ilumina o comportamento dos buracos negros supermassivos, especialmente aqueles que são menos ativos, como o Sgr A* no centro da Via Láctea. A compreensão desses fenômenos é crucial para a astrofísica, pois fornece insights valiosos sobre a natureza dos buracos negros e os processos físicos que ocorrem em suas proximidades.

Adicionalmente, essas observações contribuem para o campo da astrofísica de alta energia, um ramo que estuda os componentes mais energéticos do universo, como raios gama e raios X. A detecção e análise dessas emissões permitem aos cientistas investigar as condições extremas e os ambientes dinâmicos que cercam os buracos negros, proporcionando uma janela única para processos cósmicos que, de outra forma, seriam invisíveis.

Além disso, o estudo de raios gama de buracos negros supermassivos pode oferecer pistas sobre a evolução e a atividade galáctica ao longo do tempo. À medida que os buracos negros se alimentam de matéria, eles influenciam a dinâmica galáctica de formas que ainda estamos começando a entender. Essas interações entre buracos negros e seu ambiente galáctico são fundamentais para o entendimento da formação e evolução das galáxias, incluindo a nossa própria Via Láctea.

Portanto, os esforços para desvendar os mistérios de Sagittarius A* não são apenas um exercício de curiosidade científica. Eles são vitais para a compreensão do universo como um todo, revelando as complexas interações que moldam o cosmos e oferecendo novas perspectivas sobre as forças fundamentais em ação. À medida que a pesquisa continua e novas descobertas são feitas, podemos esperar que nossa compreensão desses fenômenos extraordinários se aprofunde, abrindo novos caminhos para exploração e descoberta no vasto universo. [Live Science]

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