O tamanho de cada um – Ética para um mundo sem fronteiras

Por , em 23.07.2014

EPISÓDIOS E METÁFORAS

Existem acontecimentos corriqueiros que ultrapassam o casual e se transformam em metáforas, essa forma poética de conduzimos o nosso aprendizado. E obviamente conseguirmos sobreviver nessa loucura organizada que chamamos vida.

Vou narrar dois episódios por mim vividos recentemente e deixar que o leitor julgue, tanto os acontecimentos em si, quanto minhas conclusões.

Vamos ao primeiro episódio

Desde a publicação da primeira edição de meu livro de contos “A Cor da Tempestade” tenho vivido uma verdadeira maratona nos eventos de divulgação que geralmente ocorrem nos fim de semana.

Eu me desdobro em mil, seja em palestras de lançamento, seja em encontros, feiras e congressos, como aquele vivido recentemente aqui em Curitiba, o nosso célebre MEGACON.

Porém, numa dessas feiras geeks que ocorreram no ano passado deixei o meu livro no estande da livraria principal da feira, que casualmente estava sendo tocada por um amigo escritor aqui de Curitiba.

Diga-se de passagem, um escritor que eu nutria grande admiração e respeito.

Surpreendentemente não vendi um exemplar sequer durante a feira inteira.

Foi apenas no final que uma delegação vinda de Salvador e outra do Rio, salvaram o meu dia.

Eram antigos conhecidos, donos de livraria, que encontrei casualmente na saída do prédio. Comentei minha frustração ante ao meu fracasso nas vendas. Eles não se fizeram de rogados e como bons comerciantes que eram acabaram levando em sociedade todo o meu estoque daquele dia para revender em suas respectivas redes.

Foi como marcar o gol da vitória aos 45 minutos do segundo tempo.

Em virtude desse sucesso providencial, não dei importância a esse aparente fracasso nas vendas, até que para meu desapontamento fiquei sabendo que eu sofrera uma sabotagem – e das grandes – naquela feira.

Testemunhas fidedignas me contaram que o tal “amigo” escritor responsável pelas vendas praticava propaganda negativa sempre que  algum comprador em potencial aproximava-se de meu livro e obviamente fazia de tudo para “empurrar” os livros de sua autoria.

Confesso que fiquei sem chão. Eu não esperava essa conduta dele.

Muitos colegas que trabalham no comércio me dizem que isso é o que mais tem no Brasil. Uma concorrência desleal, fundamentada no engodo, na hipocrisia e na sabotagem.

O que na literatura é um grande desperdício de energia.

Não precisamos apagar a estrela do outro para que a nossa brilhe ou diminuir o mérito de um colega para ilusoriamente nos agigantarmos.

Quem gosta de ler gosta de ler. Não é como o consumidor de coca-cola que não curte pepsi ou vice-versa.

Na minha análise destaca-se uma obviedade: esse jovem escritor, desesperado por resultados e pela pressão de vender e vender, não pensou duas vezes antes de puxar o tapete de uma colega .

Aliás, um colega que sempre o incentivou e o prestigiou.

Um ex-aluno que presenciou uma dessas cenas lamentáveis usou a expressão:

“Esse amigo traíra te apunhalou pelas costas, professor”.

Mas era algo bem pior que isso. Ele estava negociando sua alma.

Dói pensar que é isso “o que mais tem no Brasil” – falsos amigos e pessoas que se vendem fácil, fácil.

Será?

Vamos ao segundo episódio

Recebi nesse mesmo ano pelo correio dezenas de pacotes oriundos de vários lugares do Brasil e do mundo, tais como:

  • Campo formoso, Xique-xique, Rio Real e Esplanada na Bahia;
  • Cambuci, Carmo e Duas Barras no Rio de Janeiro;
  • São Luís e Imperatriz no Maranhão
  • Luanda e Huambo em Angola;
  • Díli em Timor Leste;
  • Maputo e Beira em Moçambique

E assim por diante.

Em cada pacote encontrei basicamente o mesmo:

Um exemplar do meu livro, uma carta e alguns selos.

Todas as correspondências pediam a mesma coisa.

— Que eu autografasse o livro e o enviasse de volta.

Que demonstração simples de confiança na honestidade alheia.

Claro que essa prática não é nenhuma surpresa e tampouco é exclusiva.

A internet fez o mundo tornar-se pequeno; virtualmente do tamanho de uma aldeia.

A nossa aldeia.

E todos esses meus queridos e especiais leitores são amigos virtuais e também irmãos em armas de anos, nessa árdua teimosia de ser escritor no Brasil.

Pessoas queridas que eu “encontro” nas comunidades e redes sociais quase todos os dias e que graças a esse convívio aprendemos a confiar um no outro.

Então vamos à conclusão

Muito bem,

Eu trago aqui essas duas histórias, com intuito de fazer um contraponto.

De amigos “próximos” que de repente se revelam “tão distantes”.

E de amigos tão distantes que se mostram cada vez mais próximos.

E eu acho que você querido leitor está vivendo também, à sua maneira, esse novo paradigma.

Tudo por que construímos uma ética capaz de derrubar as fronteiras, usando a velha e a nova tecnologia de comunicação para estendermos nossa vida na vida do outro.

E com isso, conseguir também estender o bem ao outro. De uma forma pura, descompromissada e incondicional. Apenas pela alegria de poder fazer o bem.

É esse mundo que realmente existe para mim. Esse mundo pequenino, cheio de pessoas tão grandes.

Pessoas cuja grandeza moral me fazem todos os dias renovar a esperança no amanhã. Reafirmar minha fé na humanidade.

E é por essa razão que eu não citei aqui o nome desse meu colega traíra.

Não quero envergonhá-lo perante a comunidade. Tampouco desapontar seus leitores.

No fundo eu tenho a esperança que um dia ele saia desse mundo tão falsamente grande e tão desumanamente competitivo. Abandone esse mundo que agride e corrompe e venha morar em nossa singela aldeia.

Uma aldeia que nos ensina todos os dias que quando conhecermos o nosso próprio tamanho estaremos prontos para crescer de verdade!

-o-

Eu dedico esse artigo à minha querida leitora e também extraordinária escritora Núrya Ramos (autora da sinopse que eu posto aí embaixo) e hoje uma grande amiga – que tem me ensinado, com seu luminoso exemplo, o poder da amizade e  a relatividade das distâncias.

Nunca o sul e o nordeste do Brasil ficaram tão próximos.

Obrigado por você existir!

-o-

[Leia meus outros artigos  publicados aqui no Hypescience e comente também no FACEBOOK ]

 -o-

LEIA A SINOPSE DE MEU LIVRO A COR DA TEMPESTADE  feita pela escritora Núrya Ramos

[O LIVRO ENCONTRA-SE À VENDA NAS LIVRARIAS CURITIBA E SPACE CASTLE BOOKSTORE].

Ciência, ficção científica, valores morais, história e uma dose generosa de romantismo – eis a receita de sucesso de A Cor da Tempestade.

Trata-se de uma coletânea de contos do escritor e professor paranaense Mustafá Ali Kanso (premiado em 2004 com o primeiro lugar pelo conto “Propriedade Intelectual” e o sexto lugar pelo conto “A Teoria” (Singularis Verita) no II Concurso Nacional de Contos promovido pela revista Scarium).

Publicado em 2011 pela Editora Multifoco, A Cor da Tempestade já está em sua 2ª edição – tendo sido a obra mais vendida no MEGACON 2014 (encontro da comunidade nerd, geek, otaku, de ficção científica, fantasia e terror fantástico) ocorrido em 5 de julho, na cidade de Curitiba.

Entre os contos publicados nessa coletânea destacam-se: “Herdeiro dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” que juntamente com obras de Clarice Lispector foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Prefaciada pelo renomado escritor e cineasta brasileiro André Carneiro, esta obra não é apenas fruto da imaginação fértil do autor, trata-se também de uma mostra do ser humano em suas várias faces; uma viagem que permeia dois mundos surreais e desconhecidos – aquele que há dentro e o que há fora de nós.

Em sua obra, Mustafá Ali Kanso contempla o leitor com uma literatura de linguagem simples e acessível a todos os públicos.

É possível sentir-se como um espectador numa sala reservada, testemunha ocular de algo maravilhoso e até mesmo uma personagem parte do enredo.

A ficção mistura-se com a realidade rotineira de modo que o improvável parece perfeitamente possível.

Ao leitor um conselho: ao abrir as páginas deste livro, esteja atento a todo e qualquer detalhe; você irá se surpreender ao descobrir o significado da cor da tempestade.

Núrya Ramos em Oráculo de Cassandra

1 comentário

  • Marcelo Ribeiro:

    Eu observo que a maioria das pessoas é boa ou tenta ser boa. As demais são exceção. Mas quando esbarramos nelas causam uma impressão tão forte que a misantropia toma conta da mente como aquela micose na unha do dedão que nunca vai embora. Se valorizássemos mais as pessoas boas que cruzam nosso caminho observaríamos que elas superam colossalmente aquelas em volume.

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