Conheça o “Indicador indicador”, o pássaro que guia humanos até colmeias com mel

Por , em 24.07.2016

Zoólogos documentaram pela primeira vez a incrível cooperação entre pássaros selvagens e um grupo humano em Moçambique. Juntos, os Indicador indicador e o povo de Yao procuram por mel, e dividem o que encontram.

Usando uma série de cantos especiais, os humanos e pássaros conseguem trocar informações para encontrar colmeias carregadas de mel. Enquanto o interesse dos humanos é no mel, os pássaros querem mesmo é comer a cera das colmeias, mas não conseguem romper suas paredes externas sozinhos. Por isso, pedem ajuda aos seres humanos.

A comunicação entre pássaro e pessoa acontece de forma recíproca. Algumas vezes são os pássaros que encontram a colmeia e em seguida procuram uma pessoa para guiar até o local; outras vezes são as pessoas em busca das colmeias que reproduzem o canto especial para chamar os pássaros, que em seguida os direcionam para o ponto correto.

Esta é uma bela relação mutualística que acontece há pelo menos 500 anos, mas que só agora chamou atenção de pesquisadores. O canto especial, que soa mais ou menos como “brr-hm”, tem sido passado de geração para geração através dos anos.

Comunicação especial

indicador indicador 2 passaro mutualismo conversa
Enquanto não é incomum para os seres humanos se comunicarem com pássaros domesticados ou outros animais de estimação, é mais difícil encontrar seres humanos que conseguem “conversar” com animais selvagens. O mais raro, porém, é encontrar animais selvagens que respondam voluntariamente.

Outro fator que impressiona é que esses pássaros não foram treinados pelo povo Yao. A pesquisadora envolvida no estudo, Claire Spottiswoode, acredita que pássaros com essa habilidade provavelmente foram selecionados naturalmente através dos séculos. Afinal de contas, os animais que conseguem se comunicar têm mais acesso ao alimento, e conseguem ter vidas mais longas e se reproduzir mais vezes, passando o comportamento adiante.

Experimento

indicador indicador 3
Para entender melhor essa troca de favores, Spottiswoode tentou descobrir se o canto produzido pelas pessoas realmente faz diferença no comportamento dos pássaros.

Para verificar essa informação, ela pediu à comunidade Yao que saísse para procurar mel, mas usando três cantos diferentes: o “br-hm”, uma palavra aleatória e um canto de pássaro não relacionado ao Indicador indicador.

Os três sons foram reproduzidos por uma pequena caixa de som a cada sete segundos enquanto o grupo procurava por colmeias.

Os resultados foram impressionantes. “O tradicional ‘brr-hm’ aumentou a chance de ser guiado por um Indicador indicador de 33% para 66% quando comparado com os outros sons-controle”, diz a pesquisadora.

Mistério

Uma questão que tem dado dor de cabeça aos pesquisadores é: como os pássaros aprendem o comportamento se não são criados por suas mães? Isso acontece porque o Indicador indicador não cria seus próprios filhotes. Assim como o famoso cuco, as mães botam os ovos nos ninhos de outros pássaros, que cuidam dos filhotes.

Outra informação curiosa é que em outras regiões da África, comunidades diferentes usam cantos diferentes para chamar pássaros da mesma espécie. “Por exemplo, o trabalho do nosso colega Brian Woods mostra que os coletores de mel Hadza, na Tanzânia, produzem um assobio com mais melodia para recrutar o mesmo pássaro”, diz Spottiswoode.

Comunicação consciente

A pesquisa foi publicada na revista Science, e a conclusão é que existe um claro sinal de que a comunicação entre os pássaros e os seres humanos é consciente.

“Esses resultados mostram que um animal selvagem relaciona corretamente o significado do sinal humano e consegue responder apropriadamente. Este é um comportamento associado anteriormente apenas com animais domésticos, como cães”, diz a publicação.

Golfinhos brasileiros

A mesma relação de cooperação entre animais selvagens e seres humanos foi observada apenas em uma outra situação: entre os pescadores e golfinhos do sul do Brasil, da espécie Tursiops truncatus, que “pastoreiam” peixes na direção dos homens. [Science Alert]

2 comentários

  • José Eduardo:

    A necessidade é a alma do negócio.

    • SCassamo:

      Meu pai conta ter seguido um passaro até uma colmeia. Ele tirou os favos. Noutra vez seguiu o passaro. Só que tinha uma mamba (vingaça?).

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