Por que os padres católicos não podem se casar?

Por , em 29.09.2013

A Igreja Católica Apostólica Romana não permite que homens casados se tornem sacerdotes, mas essa regra poderia, em teoria, ser alterada. O celibato sacerdotal tem suas raízes na tradição da igreja – e não em uma dogma católico –, o que significa que o papa poderia alterar esta regra da noite para o dia.

Até agora, o Papa Francisco deu pouca indicação de que o celibato dos padres esteja no fim. No entanto, o arcebispo Pietro Parolin, novo secretário de Estado do Vaticano e homem número 2 do papa, já afirmou publicamente que o assunto está aberto para discussão, embora ainda seja uma tradição católica firmemente enraizada.

Aqueles que estão satisfeitos com as regras atuais da igreja argumentam que o celibato sacerdotal permite que os padres dediquem seu tempo e sua energia completamente em seu rebanho e em seguir mais fielmente os passos de Jesus, que também nunca casou.

Entretanto, há quem gostaria de que os sacerdotes pudessem ter a escolha de se casarem. De acordo com eles, o celibato é tão difícil para muitos homens que consegue, sozinho, dissuadir muito deles de seguirem a vida na igreja. Outro argumento comum é o de que essa proibição faz com que pessoas sexualmente imaturas guiem sua comunidade.

As raízes da exigência do celibato remontam à época de Jesus Cristo: segundo a Bíblia, ele era virgem e solteiro. No livro sagrado, Jesus é muitas vezes comparado a um noivo cuja noiva é a Igreja. Muitos dos mártires e primeiros seguidores da religião também viviam em castidade.

O primeiro chefe da Igreja Católica (efetivamente, o primeiro papa), Pedro, era casado, assim como muitos dos outros apóstolos durante o tempo de Jesus. Mas no Novo Testamento, o casamento era visto como uma opção santa para aqueles que, de outra forma, teriam dificuldade para controlar seus impulsos sexuais.

“O que você encontra logo no início da Igreja é que, por um lado, o casamento era visto como um bem enquanto a virgindade era considerada um bem ainda maior”, conta Mark Shea, blogueiro e católico, autor do livro “Fazendo Sentido a Partir das Escrituras: Lendo a Bíblia como os Primeiros Cristãos”, de 1999.

Na Idade Média, entretanto, muitos sacerdotes passaram a tratar sua vocação como um “negócio de família”, e começaram a dar preferência a seus filhos para cargos importantes e tentar sabotar a competição entre os sacerdotes para proteger o seu próprio legado. “Devido à prática que havia se tornado relativamente comum na época, a Igreja proibiu formalmente o casamento para os padres cerca de mil anos atrás”, explica Shea.

Do ponto de vista espiritual, os sacerdotes são chamados a agir como Cristo, o que inclui seu estilo de vida celibatário. Mesmo assim, ainda há alguns casos em que padres católicos podem ser casados: os sacerdotes de Igrejas Episcopal ou Luterana que se casaram e, em seguida, se converteram ao catolicismo romano podem ser ordenados. Os padres nos ritos orientais, como a Igreja Ucraniana, podem se casar antes de serem ordenados.

Alguns críticos dizem que o celibato sacerdotal obrigatório deve ser banido. “Na Igreja Católica, temos uma história de 2 mil anos que atesta sua impossibilidade para muitas pessoas”, afirma A.W. Richard Sipe, sociólogo e ex-monge beneditino que está casado há 43 anos. “Muita gente simplesmente não consegue fazer isso”.

Em um estudo de 2012, publicado na revista Journal of Prevention & Intervention in the Community, os pesquisadores descobriram que uma quantidade considerável de sacerdotes – mesmo que ainda representassem a minoria dos padres consultados – mantinha relações sexuais. Alguns o faziam com homens, outros com mulheres. Cerca de 30% deles admitiu praticar a masturbação.

Segundo Sipe, há outros problemas em proibir o matrimônio para os padres. “O sacerdócio católico, em certo sentido, promove uma imaturidade psicossexual ao impor o celibato”, opina. “Isso poderia tornar mais difícil para os sacerdotes oferecerem conselhos sábios e maduros sobre essas questões aos seus paroquianos”.

Outras pesquisas sugerem que mais homens estariam interessados no sacerdócio caso o celibato se tornasse opcional. Com a escassez de padres que vive a Igreja neste momento, muitos enxergam na eliminação da exigência do celibato uma possível solução.

No entanto, Shea é cético. Os protestantes, cujos pastores e ministros estão autorizados a se casar, também observam a quantidade de clérigos caírem assustadoramente. “As pessoas que se sentem atraídas para as vocações sacerdotais normalmente estão interessadas em servir a Jesus e à comunidade. Não imagino como a eliminação da exigência do celibato no rito latino vá mudar muita coisa”.

Ao contrário da regra que impede as mulheres de seguirem o sacerdócio, o celibato sacerdotal é considerada uma tradição, e não um dogma oficial da Igreja. Por isso, pelo menos na teoria, o papa poderia mudar esta regra a qualquer momento. No entanto, esta decisão teria consequências práticas. Atualmente, os sacerdotes se mantêm por meio das doações que as pessoas oferecem à paróquia que frequentam.

“Se os padres puderem casar, logo haverá filhos, mais despesas de saúde, haverá gastos extra com o jardim de infância, escola, faculdade…”, ressalta Shea. Ele considera que devemos ter isso em mente também.

Shead também considera que os padres muitas vezes servem a milhares de fiéis, e são os únicos que podem oferecer o sacramento na missa, onde os cristãos acreditam que a hóstia e o vinho se tornam o corpo e o sangue de Cristo. “Ter uma família poderia realmente tirar o tempo e a energia dos sacerdotes que agora se concentram exclusivamente nas necessidades espirituais de seu rebanho”, comenta.

Shea finaliza dizendo que outras denominações cristãs tiveram 500 anos para descobrir como apoiar o casamento em união com o trabalho espiritual para a comunidade, mas a Igreja Católica precisaria fazer todo esse trabalho a partir do zero. [Live Science]

15 comentários

  • Delizete Damasceno:

    A igreja nao obriga ninguem a ser Padre, se quizer casar nao seja Padre! Simples assim.

  • Dinho01:

    Não sou contra nem a favor,muito pelo contrário…mas se uma pessoa se coloca acima dos demais mortais como intercessor entre Deus e nós, perdoa pecados e tem um canal aberto com a divindade,por que essa pessoa se ligaria em algo tão carnal como o sexo?

  • pmahrs:

    Sim! A questão dos bens e responsabilidades familiares é uma das coisas a qual faz não combinar com vida de monge e dedicação total ao próximo e á comunidade. Lembrando que padres de origem familiar mais ricas normalmente abrem mão de suas heranças familiares em favor de seus seus irmãos biológicos ou legais; a igreja não tem direito de bens da família do padre, mesmo se este morrer antes da partilha. Alias quase tudo que a maioria dos padre tem é da igreja. Se quiser ficar rico e arrumar a vida material de familiares é melhor não ser padre. Mas existe várias fundações filantrópicas mantidas pelas igrejas e formação de padre é longa e exige estudos em psicologia, filosofia teologia relacionadas com várias outras religiões e não apenas palestras e cursinho de uma semana que outros fazem e dizem que estão estudando teologia. Mas monges de outras religiões também já praticavam o celibato já antes do cristianismo. Algumas religiões evangélicas não pode falar da ganancia da igreja católica, e sonegar ganância individual de alguns de seus líderes.

    • pmahrs:

      Não há muito que algumas igrejas falar do dinheiro e ganância da católica. Imagina projetar em 2000 anos, no mundo inteiro e somar a habilidade de “alguns” pastores em atrair dinheiro e formar fortunas numa só geração e numa só região, as vezes numa só igreja. comprariam Roma inteira com Vaticano e tudo. Monges dificilmente arrumam vida de familiares, compram sítios, formam filhos com dinheiro de fieis ou deixam heranças

      A igreja mudou muito, não podemos eternamente culpar todos por erros de alguns nem, muito menos, os de hoje por erros dos que já morreu a séculos ou julgar com a visão de hoje. Talvez num futuro considerem muitas coisas de hoje, sobre nossa sociedade, como errado e condenável. Da mesma forma não podemos culpar todos cientistas pela ciência nas guerras, bomba atômica ou eugenia.

  • Ana Suzuki:

    Sou favorável ao celibato, pois uma família torna a pessoa refém de muitos compromissos. Todavia, isso deveria ser opcional, dependendo principalmente da quantidade de testosterona que circula no corpo de cada um. Para alguns homens, a castidade é impossível, mesmo que ele seja muito dedicado à sua vocação. E
    também pode ser que se apaixone por alguém. Não acho justo que ele tenha que deixar de ser padre para poder casar-se, como tem
    acontecido. O celibato é melhor, só não devia ser obrigatório.

  • Rafael Cerdeira:

    O que sei sobre o celibato é o que ouvi de um amigo muito religioso. Segundo ele o celibato é imposto para que os bens dos padres sejam da Igreja depois de sua morte. Caso ele se casasse, provavelmente teria filhos, o que resultaria numa herança voltada aos seus descendentes.

    • pmahrs:

      Normalmente tudo que padre tem pertence a igreja, como uniforme e equipamentos de soldados pertencem ao exercito. Os padres normalmente abrem mão de sua parte de heranças para familiares formais. Se ele já ter bens pessoais a igreja só fica com a igreja, se o padre fazer doação em vida e estando em plena faculdade mental. Caso contrario é de herdeiros naturais. A igreja, forças armadas, mosteiros de qualquer etc.. Não são herdeiros naturais.

  • Róbison Santos:

    Outra questão é a da herança.

  • pmahrs:

    Eu, particularmente falando acho que ter filhos e famílias exige responsabilidades e atenção que não combina muito bem com sacerdócio de monges, além de não ser justo esperar que familiares participem das mesmas obrigações de se dedicar ao próximo e à igreja de corpo, alma e material. Muito raramente monges arrumam a vida de familiares, deixam heranças ou formam filhos em faculdades com dinheiro de fieis. Sobre imaturidade sexual é besteira falar tem gente que casa 10 vezes e não aprende e Padres estudam psicologia, filosofia, além de teologia inclusive de outras religiões e não apenas uma semana. Desvios compulsivos sexuais existem em qualquer profissão e independente de crença ou sem crença, de ser casado, solteiro, hétero ou gay.

  • Rodrigo Piedade:

    E eu apostaria que o Papa vai fazer isso no próximo ano, vejo como algo positivo, muitos fiéis inclusive apoiam a ideia, pois com o casamento o próprio sacerdote como bem citado na matéria ganha uma maturidade maior e assim consegue ajudar de forma mais concisa seus fiéis. por outro lado a parte dos gastos é uma preocupação ao passo que se o padre vir a trabalhar ( o próprio Cristo era carpinteiro né ) ele também pode contribuir financeiramente a igreja, ou seja, uma renda extra pra ela o que a ajudaria também.

  • Tibulace:

    Por mais que o Vaticano tente dourar a pílula, o motivo RAIZ de exigir o celibato dos padres, é pura e simplesmente a AVAREZA de Roma, que não quer, de maneira alguma, permitir que as DESPESAS do sacerdote com sua FAMÍLIA, o IMPEÇAM de enviar dinheiro para a Administração da Igreja.O GRANDE PROBLEMA, é que, no mundo de hoje, nas GRANDES EMPRESAS,há uma frase, que permeia TODO o universo dos negócios, que diz o seguinte:” O FREGUÊS sempre tem razão”.Nessa TENTATIVA de adaptação aos novos tempos, bem que a ICAR gostaria de se livrar de uma GRANDE QUANTIDADE de baboseiras bíblicas totalmente obsoletas e sem sentido.Iria aumentar o NÚMERO dos padres, a ARRECADAÇÃO e o PRESTÍGIO, que anda muito em baixa.Há um grande perigo, porém:No universo religioso, onde TUDO é puramente ficcional, se a Igreja fizer muitas concessões, adotar uma postura acentuadamente DIFERENTE, da prescrita naquela droga de livro velho, cheio de ódios e de mentiras, pode acontecer, de o OTÁRIO ( digo católico ) perceber que foi ENGANADO por todo esse tempo.ESSA é GRANDE DIFICULDADE da ICAR, modernizar-se, SEM perder o rebanho de trouxas, digo fiéis.

    • pmahrs:

      De fato o mundo é otário, acreditamos que precisamos de tantas coisas supérfluas, as vezes de tal marca de roupa refrigerante, partido tal posição superior que deixamos centenas de corporações bilionárias ou saímos quebrando nas ruas enfrentando monstros para consertar o mundo e salvar a humanidade como Dom Quixote. Quando o mostro é de nossa própria imaginário e de nossa própria criação é até compreensível por ser loucura; o duro é quando o monstro é criação de outra pessoa pois entramos na loucura alheia, pior ainda se monstros são baseados em informações midiáticas ou de grupos de interesses. Mas por outro lado como definir o que é de nós mesmo e tudo que nos fizeram acreditar ou desacreditar sem provas, só com frases de efeito, força de expressão, bordões e outras figuras de linguagem. Não creio que me afeta muito se alguém acredita que o Presidente americano é um reptiliano ou que sua vida, fracasso, frustrações, alegria ou sucesso dependa deste ou daquele político. Somos todos fruto de tudo que nos rodeia com um ou outro ponto que sobre sai incluindo religiosos, políticos, amigos, familiares, jornalistas, vendedor de carro e professores, que nos falam o que acreditam ou nos induz por algum interesse.

    • engvictorh_10:

      Tibulace.. tipico revoltado com o mundo, e que pensa que LIGANDO O CAPS LOCK vai chamar atenção das pessoas para a revolta dele.
      Acha que de alguma maneira decifrar algo que ele chama de “um livro velho”, descobrirá uma ‘teoria da conspiração’ da qual a igreja católica participa.

      Realmente, dentro da igreja católica (assim como outras), há pessoas em que agem de má fé. Mas lembre-se, a igreja é divina, já o Homem é feito de carne, ou seja, é pecador. Então, quem peca não é a igreja e sim o Homem dentro dela.

      A igreja católica é sim rica. Mas os sacerdotes se mantêm por meio das doações. E pessoas que não são católicas ou até mesmo não religiosas, podem falar o que quiser em que as igrejas são ‘negócios’, ‘empresas’ em que somente se fatura dinheiro. Mas há de se pensar sim nos gastos em que a igreja terá com a família do padre. E a partir daí sim, se tornará uma empresa. O que não é a essência da religião.
      Eu como já dito (num comentário abaixo), ainda não tenho uma opinião concreta sobre este assunto. Portanto tenho muito ao que aprender, escutar e ler.

      Mas da maneira que você indaga o assunto, querendo se mostrar mais esperto do que os outros (religiosos), faz você se perder na sua ignorância.

      Portanto respeite para ser respeitado.

      *Ah, e pmahrs, disse tudo!

  • engvictorh_10:

    Sou Católico Apostólico Romano, e realmente, esse assunto é muito delicado. Como já dito na matéria, até mesmo dentro da igreja não há exatamente votos contra ou a favor. Porque realmente temos de certo modo um empate em pontos positivos e negativos pros dois lados.

    Há de se pensar sobre o caso. Mas não existe maneira melhor de se testar, a não ser na prática.

  • Victor Sampaio:

    A verdade é que: Os padres católicos podiam se casar na idade média, só que como os padres ganhavam um pedaço de terra da igreja, qdo os filhos dos padres ficavam mais velhos, acabavam herdando parte dessa terra, então a igreja viu suas terras divididas em pessoas que não necessariamente seguiriam os caminhos de Deus e etc, e perdendo terras, a igreja proibiu o casamento e inventou essa anedota que diz que jesus era virgem, alterando o texto da bíblia inclusive ;p

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