A miopia está atingindo níveis epidêmicos em todo o mundo, mas em nenhum lugar seu crescimento é mais prevalente do que na Ásia Oriental, onde até 90% dos adolescentes e jovens adultos sofrem de visão embaçada à distância. No Brasil, a prevalência da miopia varia de 11 a 36% população. Por que o pico repentino? A leitura excessiva tem sido responsabilizada há algum tempo, mas descobertas recentes apontam para outra coisa.
A ideia de que o chamado “trabalhar de perto”, como ler e fazer trabalhos de casa, seja responsável pelo aumento da miopia é uma atraente – assim como antiga. Quando os olhos do astrônomo alemão Johannes Kepler começaram a lhe deixar na mão, mais de quatro séculos atrás, ele culpou todo o tempo que passou envolvido em estudos cuidadosos como o culpado por sua visão miserável à distância.
Brincar fora de casa
Mas, de acordo com um estudo publicado na semana passada na revista “Nature”, a hipótese do trabalho de perto, ainda que tentadora, não conseguiu suportar o escrutínio científico.
No início de 2000, quando os pesquisadores começaram a analisar comportamentos específicos, tais como livros lidos por semana, horas gastas lendo ou a utilização do computador, nenhuma destas opções parecia ser um dos principais contribuintes para o risco de miopia. Mas outro fator fazia diferença.
Em 2007, Donald Mutti e seus colegas da Faculdade de Oftalmologia da Universidade Estadual de Ohio, em Columbus, relataram os resultados de um estudo que acompanhou mais de 500 crianças de oito e de nove anos na Califórnia, que, à princípio, tinham uma visão saudável. A equipe examinou como as crianças passavam os dias e as questionaram sobre esportes ao ar livre e outras coisas.
Depois de cinco anos, uma em cada cinco das crianças tinha desenvolvido miopia e o único fator ambiental que foi fortemente associado com o risco foi o tempo passado ao ar livre. “Nós achamos que era uma descoberta estranha, mas ela não parava de aparecer conforme fazíamos as análises”, lembra Mutti. Um ano mais tarde, outros pesquisadores chegaram à mesma conclusão na Austrália. Depois de estudar mais de 4 mil crianças de escolas primárias e secundárias de Sydney por três anos, eles descobriram que as crianças que passaram menos tempo do lado de fora estavam em maior risco de desenvolver miopia.
Níveis de iluminação
Com base em estudos epidemiológicos, Ian Morgan, pesquisador de miopia na Universidade Nacional da Austrália em Canberra, estima que as crianças precisam passar cerca de três horas por dia sob níveis de luz de pelo menos 10 mil lux para serem protegidas contra a miopia. Isto é mais ou menos o nível experimentado por alguém sob uma árvore frondosa, de óculos escuros, em um dia de verão radiante.
Um dia nublado pode fornecer menos de 10 mil lux e um escritório ou sala de aula bem iluminados geralmente não tem mais de 500 lux. Três ou mais horas ao ar livre diariamente já é a norma para crianças na Austrália, terra natal de Morgan, onde apenas cerca de 30% dos jovens de 17 anos são míopes. Mas, em muitas partes do mundo – incluindo os Estados Unidos, Europa e Ásia Oriental – as crianças muitas vezes brincam fora de casa apenas uma ou duas horas. [io9, Sociedade Brasileira de Oftalmologia]