Por quem os sinos dobram?

Por , em 2.09.2013

 

Por quem os sinos dobram?

Fui convidado recentemente a proferir uma palestra na Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, aqui em Curitiba, como parte do Programa Comunidade Escola.

O principal objetivo do evento foi de efetuar essa aproximação entre professores e escritores, com foco na implantação de Oficinas de Criação Literária, sempre com o intuito de incentivar o despertar do talento literário bem como o do destacar a importância do voluntariado.

Foi com muita alegria que aceitei o gentil convite da coordenadora de área do Programa na Regional, a educadora Raquel Mello.

Fiquei muito feliz em participar da atividade mesmo realizando-se numa fria noite de sexta-feira.

E também fiquei muito honrado de compartilhar a tribuna com o escritor brasileiro Engelbert Schlögel cujo belíssimo trabalho de incentivo ao voluntariado é notadamente inspirador.

Tema principal desse artigo.

Usando as palavras de Engelbert posso traduzir o evento:

“Os educadores têm em suas mãos a chance de trabalhar desde cedo com a ideia e a importância do voluntariado”.

Doutor em  Estudos Transdisciplinares em Filosofia, Sociologia e  Mundialização, pela Universidade de Coimbra,  mestre em  Educação  e graduado em Letras Português-Inglês, ambos pela PUCPR, Engelbert identificou sua vida em suas ações no voluntariado.

Laureado com diversos prêmios, tais como Prêmio Paraná de Educação,  Prêmio Pinheiro do Paraná e Prêmio Montemor-O-Velho e Prêmio Marcelino Champagnat, tem se dedicado às atividades literárias e educacionais, sempre tendo como objetivo principal o de despertar a participação do voluntariado no Brasil.

Por esta razão se dispõe a ministrar palestras e conferências em programas de formação continuada de professores e principalmente atividades de leitura destinadas em especial aos estudantes do ensino fundamental e ao público infanto-juvenil, em geral.

engelbert e mustafa

Em seu livro “Uma elefanta e um homem em Chitwan, no Nepal” (Base Editorial, 2012) ele relata sua jornada num berçário de elefantes, onde cuidou por algum tempo da elefanta Lumna desde o entendimento de suas necessidades vitais até o enfrentamento das adversidades da vida na selva.

Sem ser panfletário o escritor Engelbert, pontua que esse tempo que passou no Parque Nacional de Chitwan foi pleno de significados, principalmente ao apreender a importância de se cultuar o respeito pela  vida em suas mais diversas formas de manifestação.

O Parque Nacional de Chitwan fica no Reino do Nepal, a Sudoeste da capital Katmandu, ao longo de sua linha de  fronteira com a Índia e é um dos últimos redutos de selva asiática para animais ameaçados de extinção – tais como  urso indiano e o tigre de Bengala, e é infelizmente o último para o rinoceronte.

Em seu projeto de conservação, integrado ao Patrimônio Mundial da Humanidade,  o parque , além de incluir orfanatos para elefantes, também inclui centros de criação de crocodilos palustres para tentar afastar por vez o fantasma da extinção desses e de outros patrimônios biológicos.

Depois de prestar serviços voluntários em diversas localidades, tanto no Brasil quanto no exterior (tais como Nepal, Índia, Bangladesh, Quênia, Polônia, só para citar alguns) o professor Engelbert reconheceu o amadurecimento de sua ideia do que seria o voluntariado e assim pôde definir, com maior nitidez, o seu sentimento acerca  do sofrimento, tanto da humanidade quanto da natureza.

Assim ele reitera:

“Hoje compreendo que voluntariar é permitir-se abrir os olhos e deixar que o coração perceba quanta diferença podemos fazer neste mundo!”

Ele que não  apenas falou, mas que também materializou sua ação com vários exemplos.

Um dos mais pungentes:

O professor Engelbert vendeu todos os seus bens para construir, com esses recursos, um poço artesiano que resolvesse de vez o problema da sede e da miséria que assolava comunidades carentes abaixo do limite da extrema pobreza.

Eu me perguntei se eu seria capaz de fazer isso?

Em sua voz:

“Se cada um pudesse abrir mão de um pouquinho do muito que têm talvez as grandes questões viscerais que impactam a humanidade, e em consequência a natureza,  tivessem outro encaminhamento”.

engelbert - voluntariado

Enfim:

Como eu disse no início desse artigo, foi uma honra conhecer pessoalmente esse notável brasileiro que tornou concreto para mim o que é realmente estender a mão àquele que precisa.

Não simplesmente repetindo o assistencialismo politiqueiro, que tende a perpetuar os contrastes à medida que incute a acomodação e incentiva a inércia, mas aquela ajuda justa de quem ensina a pensar. De quem é capaz de acender no coração do outro a tênue chama de esperança – principalmente no coração daqueles que já perderam tudo.

Essa noite de sexta-feira, cercado por educadores, que em sua prática diária não medem esforços em prodigalizar o bem ao semelhante, em sua forma mais inteligente – que é a de ensinar – fez com eu sentisse, pela primeira vez em muitos anos, orgulho de ser brasileiro.

Quando o escritor e professor Engel encerrou sua palestra com a frase que,  ao meu ver, traduziu a essência do voluntariado:

“A dor existente na vida do outro é também minha.”

Recordei de imediato da verdade eterna impressa no poema de John Donne:

“A morte de cada homem nos diminui, porque somos parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”

-o-

[FOTO 1 – Church bell – de Paula Mc Cabbe ]

[ FOTOS 2 E 3 – do acervo dos autores]

Post-Scriptum

Aos muitos leitores que, por e-mail, têm me solicitado o texto completo do poema de John Donne, cuja célebre citação intitula o presente artigo, ei-lo no original e logo a seguir ouso uma singela tradução de minha autoria, que poderia ser aperfeiçoada pelos meus queridos leitores.

“No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main.

If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”.

 

“Nenhum homem é uma ilha, plena em si mesmo; cada homem é uma parte do continente, uma parte do todo.

Se um seixo for levado pelo mar, a Europa é diminuída, como se perdesse um promontório, ou uma parte de teus amigos ou mesmo uma parte de ti mesmo.

A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

-o-

 

 

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.

Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”

Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

11 comentários

  • Moyses Zane:

    fala sério!

  • João Antônio Marmo:

    Congratulações a todos que participaram desse programa. A solução para grande maioria de problemas, deste planeta terráqueo, é: união, cooperativismo e altruísmo; vivemos num colectivo e quando muitos perceberem que nossa própria felicidade depende da felicidade de outros, este mundo evoluirá assombrosa-mente! Saudações a todos vós, amigos!!!…

    • Mustafá Ali Kanso:

      Caro leitor,

      Terei a honra de estender suas congratulações aos nossos colaboradores dos diversos programas de voluntariado que tenho participado e eles realmente fazem por merecer.

      O voluntariado é coisa séria e merece toda a visibilidade e divulgação que vocês como leitores puderem oferecer.

      Recomendo que cada um pense com muito carinho sobre isso e decida de coração a doar um pouco do seu tempo com o simples intuito de fazer o bem.

      Grato pela audiência e pelo incentivo.

  • Alberio Gomes:

    Sinceramente: que artigo tolo e sem sentido, para um site que costuma publicar assuntos tão úteis, informativos e sérios…
    Foi falta de assunto?

    • Mustafá Ali Kanso:

      Caro leitor,

      Releia o texto mais atentamente e depois me responda se um artigo que tem em seu tema central o voluntariado é tolo, sem sentido ou inútil.

      Se mesmo depois de uma leitura mais atenta ficar com a mesma opinião, sugiro que busque mais informações do que seja o voluntariado acessando:

      http://voluntariosonline.org.br/publica/participacao.jsf?gclid=CK7Zp8zZr7kCFUhk7AodX0AAOQ

      http://www.acaovoluntaria.org.br/

      http://www.cruzverde.org.br/como_ajudar/voluntariado.php?gclid=CMel5prbr7kCFepZ7AodLlcA8A

      E esse tema foi escolhido não porque faltasse assunto. Pelo contrário, por achar esse conteúdo de extrema importância e lembrar ao leitor que cada um de nós pode doar algumas poucas horas do mês para realizar um trabalho voluntário com o único intuito de fazer o bem e contribuir para que o mundo fique um pouquinho melhor.

      Tente participar.

      Você verá que o voluntariado é útil, informativo e sério.

      Grato pela audiência.

    • Felipe Corrêa:

      Mustafá, não se importe com comentários do tipo. Parabéns pelo programa e força de vontade.

  • Keven bressan:

    Não entendi o que isso tem a ver com o titulo da metéria.

    • JCarlos Dias:

      Pegadinha ? Não gosto de perder o meu tempo com brincadeiras de mau-gosto. Não gostei. Por favor, coloquem títulos referentes ao assunto indicado.

    • 655321:

      Keven bressan, então você não leu a matéria até o fim.

    • JOTAGAR:

      …nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

      Leia o artigo até o final.

    • Mustafá Ali Kanso:

      Caros leitores Kevan Bressan e JCarlos Dias

      E também para outros leitores que eventualmente não tenham entendido o porque do título.

      A expressão “Por quem os sinos dobram” foi imortalizada a partir da obra do Poeta Inglês John Donne, que inspirou o romance de mesmo nome do escritor norte americano Ernest Hemigway, além de obras cinematográficas,peças teatrais, músicas, etc (incluindo aí uma música de Raul Seixas).

      Essa expressão se refere ao fato de que os sinos das igrejas soam (sinos dobram) para anunciar um funeral (anunciando solenemente que alguém morreu).

      Ao perguntar por quem os sinos dobram estou perguntando, indiretamente, quem morreu.

      Usei a expressão em meu artigo para enfatizar que o atuarmos no voluntariado, abandonamos o egoísmo a ponto de entendermos que a humanidade é uma humana unidade e assim quando um ser humano sofre toda a humanidade sofre um pouco com ele. Quando um ser humano morre toda a humanidade também morre um pouco com ele.

      Em destaque na poética de Donne o verso:

      Não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.

      Quer significar, entre outras coisas, essa verdade, de que se realmente formos humanos de verdade, morremos um pouco também, a cada vez que alguém entre nós fechar os olhos à luz desse mundo, sendo que o sofrimento do outro também é o meu sofrimento.

      Ficou um pouco mais claro?

      Não é pegadinha e nem propaganda enganosa do artigo.

      Se vocês relerem o artigo agora, tenho certeza que o entenderão.

      No entanto se a dúvida ainda persistir ficarei honrado em lhes enviar farta bibliografia que os ajudarão no entendimento deste e de outros textos de minha coluna hipercrônicas. Basta enviar-me um e-mail.

      Grato pela audiência.

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