Produtos de cabelo e pele expõem crianças a produtos químicos que interferem nos hormônios: estudo
Um novo estudo aponta que alguns produtos de beleza, como loções, pomadas e condicionadores de cabelo, podem estar expondo crianças a uma desagradável surpresa: produtos químicos que mexem com os hormônios. Sim, parece que aqueles cremes fofos que prometem cuidar da pele podem, na verdade, estar colocando ftalatos no mix — um grupo de químicos conhecidos por transformar plásticos em material flexível e durável, e, por algum motivo, também estão se infiltrando em produtos de cuidados pessoais.
Esses tais ftalatos são disruptores endócrinos, ou seja, eles podem interferir na produção e regulação dos hormônios do corpo. E para as crianças, isso pode ser especialmente problemático, considerando que elas estão crescendo e desenvolvendo rápido. Exposição regular a esses compostos pode, segundo pesquisas anteriores, prejudicar o desenvolvimento cerebral e causar alguns problemas comportamentais. Não é exatamente o tipo de “brilho” que queremos adicionar ao nosso dia.
Mas a diversão não acaba aí. Além dos riscos para o cérebro, pesquisadores suspeitam que esses disruptores químicos podem estar antecipando a chegada da puberdade, especialmente entre as meninas. Para quem não estava com pressa de lidar com essa fase, fica o aviso: o ambiente está cheio de produtos químicos que não pedem licença.
E aqui entra um dado curioso (e um tanto preocupante): parece que crianças de diferentes grupos raciais e étnicos têm níveis variados de exposição a esses químicos. No novo estudo, publicado na revista Environmental Health Perspectives, os pesquisadores analisaram amostras de urina de 630 crianças, de 4 a 8 anos, e encontraram variações significativas. Nos EUA, por exemplo, o uso de óleos capilares estava fortemente associado a níveis elevados de ftalatos entre crianças hispânicas, asiáticas e do Pacífico. Enquanto isso, a loção corporal parecia ser o maior vilão para as crianças brancas. Uma loteria dos ftalatos!
E, adivinhem só? As crianças negras apresentaram os níveis mais altos desses químicos no corpo. Talvez isso tenha algo a ver com a miríade de produtos de beleza direcionados a comunidades de cor, muitos deles carregados desses compostos.
Para a Dra. Lynn Goldman, que já trabalhou com substâncias tóxicas na Agência de Proteção Ambiental, EUA, esse estudo joga uma luz importante sobre o fato de que, até então, a preocupação com os ftalatos estava mais focada em dietas. Os ftalatos podem vazar de embalagens plásticas para os alimentos, mas, aparentemente, os produtos de beleza também estão fazendo a sua parte nessa exposição.
Se você está começando a ficar nervoso sobre qual produto usar, não entre em pânico ainda. Para alguns pais, como a Dra. Shruthi Mahalingaiah, que tem três adolescentes em casa, a solução foi baixar o aplicativo YUKA, que escaneia produtos e sinaliza qualquer ingrediente suspeito. Afinal, como diz Goldman, “não cabe aos pais se transformarem em químicos amadores para proteger seus filhos.” Essa tarefa deveria estar nas mãos da FDA (a Anvisa dos EUA) e da EPA (Agência de Proteção Ambiental).
Mas, enquanto os reguladores não aceleram o passo, talvez seja uma boa ideia dar uma olhada nos rótulos ou usar menos produtos sempre que possível. Afinal, um pouco menos de loção ou condicionador não vai matar ninguém. E, quem sabe, vai manter os ftalatos bem longe de nossos pequenos, onde eles pertencem.