Tudo o que sabíamos sobre a sexualidade feminina está provavelmente errado

Por , em 22.06.2016

Muito do que nós assumimos sobre a sexualidade feminina vem de pesquisas da década de 1990 que estão aos poucos sendo disputadas em favor de novas descobertas.

Por quê? Bom, tais afirmações parecem ser mais culturais do que científicas. Com as mulheres tomando a frente para analisar o seu próprio desejo, as percepções estão se transformando.

É o que concluiu o jornalista Daniel Bergner, que passou grande parte da última década investigando este tema para artigos e outras publicações, incluindo o seu livro “O que Realmente as Mulheres Querem?” (Editora Agir, 2013).

Velhas noções

Em uma conferência TEDMED em 2015, Bergner falou sobre os equívocos comuns e explicou como a sexualidade feminina não é naturalmente predisposta a ser contida, monogâmica, inativa e dependente como pensávamos.

Por exemplo, existe uma velha teoria aparentemente científica de que, enquanto os homens são geneticamente programados para espalhar suas sementes e ser promíscuos, as mulheres, pelo contrário, são geneticamente programadas pela evolução para buscar um bom homem, um bom provedor, de modo que são um pouco mais adequadas para a monogamia e tem um desejo sexual menos “selvagem” e animalesco do que a libido masculina.

Tal hipótese parece fazer sentido quando levamos em conta que os homens possuem muitos espermatozoides os quais podem gastar à vontade, ao passo que a mulher ovula uma vez por mês e não pode desperdiçar seu único óvulo em um parceiro que não vai ser um bom pai ou ajudá-la com sua prole.

Não é bem assim. Os trabalhos acadêmicos originais que colocaram isso em nossa consciência nos anos 90 têm muito pouca substância. A maioria tem apenas raciocínio circular e poucas evidências que o corroboram.

Cultura x ciência

Talvez essa noção tenha grudado em nossas mentes por uma questão de cultura, diz Bergner. Estamos ansiosos para ter teorias simples para explicar quem somos, especialmente quando se trata de sexo.

No entanto, o jornalista afirma que as pesquisas mais recentes estão nos levando a outra direção, mostrando-nos algo muito diferente sobre o desejo feminino, muito mais orientado, muito mais como estamos habituados a considerar o desejo masculino: ou seja, uma força cheia de agência e nada passiva.

Isso é sexy!

Bergner entrevistou Meredith Chivers, uma pesquisadora canadense que coloca as mulheres na frente de cenas pornográficas ou as faz ouvir histórias eróticas, enquanto mede suas respostas de duas maneiras.

Uma delas é a auto avaliação: as mulheres dizem se ficaram excitadas com o que viram/ouviram, o quanto ficaram excitadas, etc. Ao mesmo tempo, um pequeno dispositivo chamado pletismógrafo mede o fluxo sanguíneo na vagina para ver como seus corpos reagiram aos cenários.

Curiosamente, de vez em quando, o que as mulheres dizem que querem contrasta com o que este pequeno dispositivo diz sobre sua resposta corporal. Para dar um exemplo, em um cenário com um amigo próximo bonitão contra um cenário com um total estranho bonitão, consistentemente as mulheres dizem que preferem o amigo próximo. No entanto, consistentemente seus corpos preferem o desconhecido.

O que isso significa? De acordo com Bergner, o dispositivo não pode dizer tudo o que há para ser dito sobre o desejo feminino. Mas ele mostra uma ideia que está em contraste com a história sendo contada por psicólogos evolucionistas de que o que as mulheres realmente querem sexualmente falando é um bom homem, uma relação orientada para a intimidade. Elas também querem a noite louca de sexo com a qual achamos que só eles sonhavam.

Monogamia

Isso nos traz ao assunto muito complicado da monogamia. Nós, como uma cultura, investimos muito em relações monogâmicas. Bergner crê que, se formos honestos com nós mesmos, todos temos algum nível de medo consciente ou inconsciente de abandonar essa monogamia, como se a sociedade fosse se tornar pior sem ela.

A monogamia define nossos sonhos românticos; ela define o que pensamos que devemos ser como pais; define um ideal para nós. E isso é muito conveniente. É relaxante.

Os homens podem ser animalescos e anárquicos quando se trata de sexualidade, mas as mulheres não. Elas são a força coerente que mantém a sociedade intacta. Essa ideia é agradável, é claro, para os homens. Mas não para as mulheres, que têm tantos desejos carnais quanto eles.

O que vamos fazer a respeito disso? Só o tempo dirá. [BigThink]

11 comentários

  • Rua:

    Aos poucos (e óbvio, c/ muita resistência) vamos removendo as camadas de preconceitos e distorções legados por milhares de anos.

  • rnalim:

    Pelo Darwinismo, o entendimento é este… homem procriador e mulher criadora. O nosso organismo nos mostra isso.

    • Cesar Grossmann:

      Pelo Darwinismo?

    • rnalim:

      Quero dizer que a seleção natural propiciou que homens tenham milhões de espermatozoides e mulheres ovulem uma vez ao mês.

    • Cesar Grossmann:

      Tem mais coisa aí, rnalim. As fêmeas de outras espécies só são receptivas/tem interesse em sexo quando estão férteis, mas a fêmea da nossa espécie é receptiva e tem interesse a qualquer momento. Tem que ter cuidado para não cair nos argumentos pseudo-científicos que tem por aí…

    • rnalim:

      Perfeito. Mas… reforço, isso o que você disse não é nada mais do que parte do processo evolutivo. Os comportamentos também evoluem.

    • rnalim:

      O que quero dizer é que A ciência é “f*da”! Por isso amo tanto.

    • João Carlos Agostini:

      Sem mais, há darwinistas que pensam como o que se espera que pensem, e como os fatos podem ser interpretados, interpretam como se pede.

    • João Carlos Agostini:

      E mais, pelo evolucionismo, o excesso de espermas, 99% deles, servem para combater espermas de outros parceiros que foram introduzidos!!!

    • Cesar Grossmann:

      Adoro quando dizem “pelo evolucionismo”. Evolucionismo não existe! O que existe é ciência, e conversa-fiada. Se não é ciência, é conversa-fiada.

  • rnalim:

    Bom dia,

    Natasha, parabéns pela matéria. Só acredito que ela (a matéria) foi tão circular quanto os estudos que ela critica.

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