Vida no cometa 67P? O debate que aqueceu o mundo da ciência essa semana

Por , em 7.07.2015

Quando enviamos a sonda Rosetta para vasculhar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, muitos especularam sobre as incríveis descobertas que estariam por vir. Por exemplo, o cientista Bill Nye sugeriu que poderíamos aprender como evitar que um asteroide colidisse com a Terra, além de obter mais informações sobre elementos e minerais.

No entanto, outros cientistas estão fazendo afirmações muito mais ousadas.

Os astrobiólogos Max Wallis e Chandra Wickramasinghe, da Universidade de Cardiff, reivindicaram esta semana, no Encontro Nacional de Astronomia em Llandudno, no País de Gales, que certas características do cometa 67P – incluindo sua crosta negra de hidrocarbonetos, subsuperfície congelada, crateras fundas e “mares gelados” – são o resultado de organismos microbianos vivendo abaixo da sua superfície.

A grande revelação…

O cometa 67P é relativamente pequeno, com cerca de 4 km, e se desloca a uma velocidade de até 135.000 km por hora. Ele faz suas voltas em torno do sol entre as órbitas de Júpiter e da Terra, isto é, entre cerca de 800 milhões e 186 milhões de km do astro-rei.

“Apesar da crosta muito preta do cometa, imagens marcantes da Rosetta mostram vários indicadores de uma morfologia de gelo subjacente. O cometa mostra ‘mares’ planares e crateras fundas e chatas, ambas características vistas também no cometa Tempel-1”, dizem os cientistas.

Segundo a dupla, os recursos do cometa são consistentes com uma mistura de gelo e material orgânico que se consolida sob o aquecimento do sol durante a órbita do objeto no espaço, quando microrganismos ativos podem ser suportados.

Em resumo, Wallis e Wickramasinghe creem que a explicação mais provável para certas características do 67P é a presença de organismos vivos; seu modelo indica que microrganismos alienígenas (como bactérias extremófilas) poderiam habitar rachaduras no gelo do cometa.

…que pode ser só especulação

O famoso astrônomo Phil Plait, que tem alimentado um blog de muita credibilidade durante os últimos oito anos, dedicou nove posts para desbancar hipóteses que considera absurdas formuladas por Wickramasinghe (incluindo alegações de que fósseis exóticos têm sido encontrados em meteoritos e que a NASA está escondendo evidência de vida em Marte). Nem preciso dizer que ele não concorda com a afirmação sobre a existência de vida em 67P, né?

Outros cientistas têm sido mais diplomáticos em suas críticas, mas também acham improvável a interpretação de Wallis e Wickramasinghe. O jornal The Telegraph publicou um artigo no qual os cientistas filiados com a missão Rosetta dizem que a vida alienígena no cometa é “pura especulação”.

A astrofísica Jillian Scudder, que estava presente na apresentação de Wallis e Wickramasinghe no Encontro Nacional de Astronomia, acrescenta que os pesquisadores não ofereceram “nenhuma evidência extraordinária” para apoiar sua alegação.

Sarah M. Horst, da Universidade Johns Hopkins, especialista em moléculas orgânicas complexas, ecoa as censuras de seus colegas. “O comunicado de imprensa [de Wallis e Wickramasinghe] basicamente diz que o cometa tem água e produtos orgânicos. Nenhuma destas observações é disputada, mas orgânicos complexos são fáceis de criar se você tem os blocos de construção necessários (metano, formol, amônia e monóxido de carbono, para citar alguns), e você não precisa de vida para fazer isto”, explica.

O grande porém

As sondas Philae e Rosetta carregam espectrômetros de massa para identificar e inventariar o conteúdo orgânico do 67P. Enquanto os cientistas estão fascinados com a ideia de analisar a composição de um objeto no espaço, dizer que a vida deve ser responsável pelos produtos orgânicos complexos que eles estão vendo é fundamentalmente falso – ainda não temos conhecimento suficiente para afirmar isso.

O pesquisador da NASA Thomas Gautier, que trabalha em espectrometria de massa para a missão Rosetta, concorda com a avaliação de Horst. “Isso é pura conjectura e pessoalmente acho que é altamente improvável”, diz ele. “As moléculas orgânicas não são de forma alguma uma prova de vida, já que podem muito facilmente ser formadas por vários processos abióticos”.

Para concluir: é possível que a vida seja responsável por algumas das características do 67P? Sim. Mas isso é pouco provável. Alguns cientistas acreditam que essa afirmação só é possível da mesma forma que qualquer alegação é, tecnicamente, hipoteticamente possível. Por enquanto, a ideia de que há microrganismos em 67P é especulação e não ciência. [BigThink, SciNews, io9]

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