Vida social das abelhas: questão genética

Por , em 9.05.2011

Elas podem até parecer todas meio iguais, mas são muito diferentes. As abelhas são insetos bem conhecidos por seu estilo de viver, ou, em senso comum, por sua hierarquia (com a abelha-rainha no topo dela).

Mas a vida social das abelhas, assim como os próprios insetos, é tão variada quanto o palácio de um monarca ou uma comunidade hippie.

Um novo estudo oferece um olhar sobre as bases genéticas das diferenças do estilo de vida desses fascinantes insetos.

O estudo centra-se na evolução da “eusocialidade”, um sistema de vida coletiva em que a maioria dos membros de uma colônia (centrada no sexo feminino) renuncia seus direitos reprodutivos, e ao invés disso se dedica a tarefas especializadas, como caça para alimentação, defesa do ninho ou cuidado dos jovens, ações que melhoram a sobrevivência do grupo.

Eusocialidade é uma raridade no mundo animal. Formigas, cupins, algumas abelhas e vespas, outros artrópodes e algumas espécies de ratos-toupeira são os únicos animais conhecidos como eussociais.

Entre as abelhas “altamente eussociais”, existem as do tipo produtoras de mel e as sem ferrão, que tem uma casta de operárias estéreis, e uma rainha que funciona basicamente como uma “máquina de reprodução”.

Há outros tipos de sistema, chamados “primitivamente eussociais”, que geralmente envolvem uma mãe solteira que começa um ninho a partir do zero e, depois de criar trabalhadores suficientes, retrocede e torna-se uma rainha.

Alguns especialistas não gostam do termo “primitivamente eussociais”, porque sugere que estas abelhas estão buscando avançar, ou seja, estão a caminho de se tornar como as abelhas “altamente eussociais”. A eusocialidade não é uma evolução progressiva do “primitivo” para o “altamente”.

Os pesquisadores enfatizam que os eventos evolutivos são independentes, e o objetivo do estudo é traçar essas histórias independentes.

Para isso, eles sequenciaram os genes ativos (usados para transcrever proteína) de nove espécies de abelhas que representam cada estilo de vida; das solitárias abelhas cortadoras-de-folhas (Megachile rotundata) até as altamente eussociais abelhas- anãs (Apis florea).

Então, eles usaram o único genoma disponível, da abelha Apis mellifera, como um guia para reunir e identificar os genes sequenciados de outras espécies. A equipe procurou padrões de mudança genética que coincidiam com a evolução dos sistemas sociais diferentes.

Há genes que são únicos em abelhas primitivamente eussociais? E em abelhas altamente eussociais? Ou há genes em comum para abelhas eussociais em conjunto, diferentes das solitárias? Os dois.

A análise encontrou diferenças significativas na sequência genética entre as abelhas eussociais e solitárias. Os pesquisadores também observaram padrões de mudança genética únicos entre abelhas altamente eussociais e primitivamente eussociais. A frequência e o padrão destas alterações sugerem “sinais de evolução acelerada” específicos para cada tipo de eusocialidade, e para a eusocialidade em geral.

A principal conclusão do estudo é que existem alguns genes que “selecionam” abelhas em todas as diferentes e independentes evoluções eussociais. Esses genes podem ser os mais comuns, ou seja, genes necessários para evoluir para a eusocialidade, ou outros genes de linhagens específicas. [ScienceDaily]

3 comentários

  • kevin:

    A preservação e conservação da entomofauna de ecossistemas naturais é de fundamental importância para a manutenção da biodiversidade. Quando tratamos de um agroecossistema é essencial tanto para a produtividade quanto para a qualidade dos frutos que as abelhas estejam sempre presentes.
    Existem culturas de mercado que não necessitam da interação com abelhas para que haja polinização e consequente formação do fruto. Contudo, estudos mostram que 73% das culturas cultivadas no mundo dependem da interação com as abelhas. Isso se dá porque as abelhas evoluiram junto com o aparecimento das angiospermas (plantas com sementes protegidas pelo fruto) há 1,5 milhões de anos atrás.
    A aplicação demasiada de defensivos agrícoolas vem interferindo drasticamente na fisiologia destes insetos, minimizando suas populações, que há muito tempo sofrem com o crescimento demasiado das cidades. Dessa forma é de extrema importância que presevemos as colônias encontradas naturalmente e se estas estiverem causando incomodos para a vida de humanos e animais, procure ajuda técnica para que seja feita a trânsferencia desta colônia de forma que minimize os impactos na sua organização.

  • Kalhil:

    Só quem realmente conhece bem as abelhas sabe o valor que elas tem para todos nós, a especialidade das abelhas chegam a tanto que há abelhas para todas as atividades de seu ninho, há até, por mais absurdo que possa parecer, abelhas que só fazem limpeza nas colônias, seriam os garis do mundo moderno.

    att,

    Kalhil P França
    http://www.meliponariodosertao.blogspot.com

    • Apolo:

      Mas mesmo que cada uma tenha uma função diferente na colônica, todas desfrutam do que produzem. Ou não?

      Aí seria diferente dos garis do mundo moderno, já que apesar deles limparem as sujeiras dos outros, e as próprias, eles não têm os alcances que muitos têm, como alimentação e saúde minimamente decente.

      Talvez devêssemos viver estabelecidos na economia baseada em recursos. E as abelhas também. rs

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