Atenção: o verdadeiro afogamento não se parece com o da TV

Por , em 10.06.2013

O capitão pulou na água totalmente vestido. Ex-salva-vidas, ele manteve os olhos em sua vítima conforme nadou com pressa em direção a ela.

“Eu acho que ele pensa que você está se afogando”, o marido disse para a esposa. Eles estavam espirrando água um no outro, e ela havia gritado, mas agora eles estavam de pé, conversando. “Nós estamos bem! O que ele está fazendo?”, ela se perguntou, um pouco irritada. “Estamos bem!”, o marido gritou, acenando para o capitão, que continuou a nadar rapidamente.

“Saiam da frente!”, ele gritou, enquanto passava pelo casal atordoado. Logo atrás deles, a cerca de 3 metros de distância, a filha de 9 anos da dupla estava se afogando. Seguramente acima da superfície nos braços do capitão, ela explodiu em lágrimas: “Papai!”.

Como é que este capitão notou, a 15 metros de distância, o que o pai da menina não percebeu a apenas 3?

A história pode parecer surpreendente para muitos, mas não deveria ser. Afogamento é quase sempre um evento aparentemente tranquilo. O acontecimento dramático de pessoas acenando, espirrando água e gritando que geralmente é mostrado na televisão e no cinema nos “desprepara” para identificar o que raramente ocorre na vida real.

O afogamento não é a cena violenta que a maioria das pessoas espera. O capitão, ex-membro da equipe de resgate da Guarda Costeira, foi treinado para reconhecer o verdadeiro afogamento por especialistas e tinha anos de experiência. O pai, por outro lado, havia “aprendido” (erroneamente) o que era afogamento assistindo televisão.

Para se ter uma ideia de quão tranquilo e não dramático o afogamento pode ser, considere esses dados chocantes: o afogamento é a segunda principal causa de morte acidental em crianças, com idade de 15 para baixo (apenas atrás de acidentes de veículos). Das cerca de 750 crianças que vão se afogar no próximo ano, 375 vão fazer isso a cerca de 20 metros de um dos pais ou outro adulto. Em alguns desses afogamentos, o adulto não terá nem ideia do que está acontecendo.

Quer aprender a identificar um afogamento? Então, é preciso entender o que é a chamada “Resposta Instintiva ao Afogamento”, nomeada por Francesco A. Pia. Ela é o que as pessoas fazem para evitar o sufocamento real ou percebido na água, e não se parece com o que a maioria das pessoas acha. Há muito pouco espirro de água, e nenhum aceno, grito ou pedido de ajuda de qualquer espécie.

Confira a descrição da resposta instintiva:

  • Exceto em raras circunstâncias, pessoas se afogando são fisiologicamente incapazes de pedir ajuda. O sistema respiratório foi projetado para respirar. A fala é uma função secundária ou sobreposta. A respiração deve ser cumprida antes que ocorra o discurso;
  • A boca das pessoas afogando afunda e reaparece acima da superfície da água alternadamente. Ela não fica acima da superfície da água tempo suficiente para chamar por ajuda. Quando a boca das pessoas se afogando fica acima da superfície, elas inalam e exalam rapidamente até afundarem novamente;
  • Pessoas afogando não podem acenar para pedir ajuda. A natureza instintivamente as obriga a estender os braços lateralmente e pressionar para baixo sobre a superfície da água, o que permite que alavanquem seus corpos para que possam levantar a boca para fora da água para respirar;
  • Durante a resposta instintiva, as pessoas não conseguem controlar voluntariamente seus movimentos do braço. Fisiologicamente, pessoas afogando não podem realizar movimentos como acenar por ajuda, mover-se em direção a um salvador, ou estender a mão para uma peça de equipamento de resgate;
  • O corpo das pessoas se afogando permanece na posição vertical na água, sem evidência de um pontapé de apoio. A não ser que resgatadas por um salva-vidas treinado, essas pessoas podem aguentar na superfície da água de 20 a 60 segundos antes da submersão ocorrer.

As dicas acima não querem dizer que uma pessoa gritando por ajuda não está tendo problemas. Essa pessoa está provavelmente experimentando estresse ou dificuldade aquática.

Nem sempre presente antes da resposta instintiva de afogamento, a dificuldade aquática não dura muito tempo, e, ao contrário do verdadeiro afogamento, essas vítimas podem ajudar em seu próprio resgate. Elas podem segurar objetos, se apoiar em salva-vidas, etc.
Procure outros sinais do verdadeiro afogamento quando as pessoas estão na água:

  • Cabeça baixa na água, boca ao nível ou abaixo da água;
  • Cabeça inclinada para trás com a boca aberta;
  • Olhos vidrados e vazios, sem foco;
  • Olhos fechados;
  • Cabelo sobre a testa e/ou olhos;
  • Posição vertical na água, sem usar as pernas para propulsão;
  • Hiperventilação, ofegos, engasgos;
  • Tentativa de nadar em uma determinada direção, sem fazer progresso;
  • Tentativa de se virar de costas para a água;
  • Movimento que as faz parecer estar subindo uma escada invisível.

Às vezes, a indicação mais comum que alguém está se afogando é que elas não parecem estar se afogando. Uma maneira de ter a certeza? Pergunte-lhes: “Você está bem?”. Se a pessoa puder responder, provavelmente está. Se apenas lhe voltar um olhar vazio, você pode ter menos de 30 segundos para chegar até ela.

Já uma dica valiosa para os pais é: filhos brincando na água fazem barulho. Quando eles ficam quieto demais, é melhor ir descobrir por quê.[Slate]

15 comentários

  • Paulo Felix:

    Um guarda-vidas aposentado veio da areia e me tirou da água. Minutos depois, ele me fez entrar no mar novamente e me ensinou a boiar.

  • Paulo Felix:

    Eu tinha 10 anos e não sabia nadar. Estava numa praia lotada, me afogando, e dezenas de pessoas a minha volta não perceberam.

    • Paulo Felix:

      Minha mãe quis bater no homem, mas depois que eles conversaram, ela aceitou. Devo minha vida a esse homem. Hoje respeito, mas não temo o mar

  • Pedro Paulo Fonseca:

    Quase morri afogado uma vez também em um Rio. Foi horrível!

  • Eloyr:

    Já passei apuros num rio profundo e de forte correnteza. Isto ocorreu, sem que eu inalasse ou bebesse água. Fui percebido por dois nadadores melhores que eu, acostumados àquele setor do rio. Ambos vieram rápido em minha direção. Lembrei agora, da: “ESCADA INVISÍVEL”. Saí por conta própria; MANTENDO a CALMA e lembrando da minha filha que ainda era pequena.

  • magoado:

    já salvei duas criança mais ou menos de dez anos cada ,elas deram sorte que eu estava atento as brincadeiras delas na água …mas foi difícil visto que ambas se agarraram em mim de uma maneira que achei que ia morrer junto,só não aconteceu por que consegui me manter de pé com a cabeça acima dágua..

  • 4nderson_hiago:

    Muito importante a matéria. Pra alguem q nao sabe nadar como eu, a parte do “Olhos vidrados e vazios, sem foco;” foi sufocante kkkk.

  • Dinho01:

    Como seria um filme de Hollywood sem todas esses mitos exagerado e melodramáticos que eles colocam para chamar a atenção do público?

    • 4nderson_hiago:

      Seria útil, mas chato pra caramba! Os filmes sao assim msm, tanto nos afogamentos como nos sons q acontecem no vacuo em filmes de ficção cientifica (essa doi). Os diretores gostam de impressionar colocar efeitos e mais efeitos. 😉

  • Jeferson Victoriano:

    “á uma dica valiosa para os pais é: filhos brincando na água fazem barulho. Quando eles ficam quieto demais, é melhor ir descobrir por quê”

    Se não for travessura, é caso grave!
    Acho que foi uma das postagens mais interessante que vi aqui D: É bom acabar com esse mito, porque uma vez eu quase me afoguei (digo QUASE, porque até hoje não sei dizer se tava nesse estágio de afogamento mesmo, mas que eu não tinha o pé no chão e tava indo pra baixo, sendo puxado, ah eu tava. kkkkk) e a única coisa que conseguia fazer era pegar ar mesmo ‘-‘ Não consegui chamar meu pai, nem acenar ‘-‘ Sorte que ele veio preocupado ver o quê deu e me tirou de lá {a melhor parte é que não tinha salva-vidas) depois disso, praias e piscinas meio que perderam a magia da coisa. kkkkkkk

  • ROC:

    Excelente e esclarecedora matéria Natasha. Parabéns.

  • Rudolf:

    Uma vez vi um pano no fundo da piscina. Só quando cheguei perto é que vi que era uma criança que tinha caído. Sorte que deu tempo de reanimá-la.

    A piscina estava cheia de gente e ninguém reparou. Nenhum grito, nenhuma agitação. Nada!

  • kid redman:

    Boas dicas ! Faço surfe há muuuitos anos e já salvei 3 pessoas – duas de morte certa.
    A diferença de “dificuldade” para “se afogando” foi muito bem colocada e, quem perceber a diferença, vai ter mais condição de ajudar e influenciar o resultado.
    Agora, todo cuidado na hora do salvamento no mar, pois quem está em dificuldade pode por a vida de quem está salvando em risco por causa do descontrole emocional . O ideal nesse caso é ter algo que flutue ou ser um profissional da área. Uma pessoa mais pesada e mais forte que vc em pânico vai te agarrar e dificultar seus movimentos… num mar com corrente e ondas é uma situação bastante difícil.

    • Rudolf:

      Uma dica interessante é chegar na pessoa por trás. Pela frente ela vai tentar subir em você (e você pode se afogar também), pois está desesperada.

  • PHAS:

    Talvez a reportagem mais importante que já li no HypeScience. Já resgatei uma criança em estágios iniciais de afogamento uma vez, e é exatamente assim mesmo. Sem estardalhaço, sem barulho. Tudo se resume a uma tentativa desesperada de fazer uma simples respiração.

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