Engenharia genética em embriões humanos é essencial

Por , em 14.09.2015

Um relatório do Grupo Hinxton, uma entidade que se autodefine como um consórcio internacional sobre células-tronco, ética e direito, e reúne pesquisadores, bioeticistas e especialistas em políticas de todo o mundo, afirma que a modificação de engenharia genética de embriões em estágio inicial é de “grande valor” e “essencial” para as pesquisas.

O texto acrescenta ainda que bebês geneticamente modificados não devem ser autorizados a nascer por enquanto, mas que podem ser “moralmente aceitáveis” em algumas circunstâncias no futuro.

O relatório foi divulgado em um momento de inovação no campo da genética. Uma gama de novas técnicas têm combinado um “GPS molecular” que viaja para um local preciso em nosso DNA com um par de “tesouras moleculares”, que podem cortar as partes indesejadas.

Isso tem transformado as pesquisas de modificação genética em uma ampla gama de campos, mas o progresso significa que bebês geneticamente modificados estão deixando de ser uma perspectiva e estão rapidamente se tornando uma possibilidade real.

No início deste ano, uma equipe da Sun Yat-sen University, na China, mostrou que erros no DNA que levaram a uma doença do sangue poderiam ser corrigidos em embriões em estágio inicial. No futuro, as tecnologias podem ser utilizadas para impedir que as crianças nasçam com fibrose cística ou genes que aumentam o risco de câncer.

Análise

A modificação genética embrionária domina o debate em torno das novas ferramentas de edição de genes. Mas enquanto as crianças sem doenças e os “bebês projetados” podem estar ainda longe no horizonte, os usos mais imediatos são muito menos controversos.

Eles podem inclusive restaurar a reputação do campo da terapia genética em adultos e crianças.

Este tipo de técnica foi quase bem-sucedida em crianças sem sistema imunológico. Os sintomas melhoraram, mas a técnica conduziu ao câncer, em alguns casos.

Essas ferramentas mais precisas podem ser capazes de ajustar nosso código genético, sem os efeitos colaterais. Houve até mesmo tentativas bem-sucedidas de dar a pacientes com HIV imunidade ao vírus.

E uma vez que estas mudanças não seriam passadas ​​para a próxima geração, elas são muito menos controversas.

Procurando um limite para a engenharia genética

Houve apelos para uma moratória sobre as pesquisas embrionárias, o que deixou muitos perguntando onde traçar a linha – qualquer pesquisa com embriões deveria ser proibida, elas deveriam ser permitidas, mas apenas para pesquisa, ou deveriam ser permitidos bebês geneticamente modificados?

Uma reunião do influente Grupo Hinxton, em Manchester, reconheceu que a taxa de progresso significava que havia uma “pressão para tomar decisões” e argumentou que a modificação embrionária deve ser permitida.

No comunicado, eles disseram: “Nós acreditamos que, embora esta tecnologia tenha um enorme valor para a pesquisa básica e um enorme potencial, ela não é suficientemente desenvolvida para considerarmos modificações no genoma humano para fins reprodutivos clínicos neste momento”.

Isto está em contraste gritante com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA, que já se recusou a financiar qualquer modificação de embriões.

O diretor do Instituto, Dr. Francis Collins, que também era uma peça-chave no Projeto Genoma Humano, afirma: “O conceito de alterar a linha germinal humana [DNA herdado] em embriões para fins clínicos tem sido debatida ao longo de muitos anos de muitas perspectivas diferentes, e foi visto quase universalmente como uma linha que não deve ser ultrapassada”.

No entanto, o relatório completo do Grupo Hinxton reconhece que “pode ​​haver usos moralmente aceitáveis ​​desta tecnologia em reprodução humana, embora uma discussão mais substancial seja exigida”.

Mesmo uma das principais figuras na descoberta e desenvolvimento do CRISPR (um dos métodos mais fáceis de edição de DNA) tem dúvidas.

“Pessoalmente, eu não acho que seja aceitável manipular a linha germinal humana com o propósito de mudar alguns traços genéticos que serão transmitidos ao longo de gerações”, afirma a professora Emmanuelle Charpentier.

Peter Mills, do Nuffield Council on Bioethics, acrescenta: “Temos visto esses usos chegando no horizonte, mas precisamos decidir se vamos aceitá-los quando baterem na nossa porta”. [BBC]

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