10 ideias erradas que você tem sobre a vida medieval

Por , em 25.02.2015

Muitos livros, seriados, filmes e jogos são inspirados na história medieval e é tentador pensar que eles representam aspectos reais dessa vida na antiguidade. Não é o caso. Muitas vezes, eles apenas reforçam mitos e equívocos.

Romances de fantasia certamente não precisam ser historicamente precisos, mas quando tantos são tão equivocados, as pessoas podem ficar com uma impressão errada de que sabem como a vida na Idade Média era.

Outra coisa que é importante lembrar é que o período medieval se estende por um longo tempo – desde o século 5 dC ao século 15 dC – e envolve um grande número de países europeus. Assim, algumas coisas podem ser verdade para um certo tempo e local, mas não para todos.

Conheça algumas afirmações comuns sobre essa época que estão erradas:

1. Os camponeses eram uma única classe de pessoas mais ou menos iguais entre si

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É fácil pensar que as pessoas na Idade Média eram divididas apenas em grandes classes: reais, nobres, cavaleiros, clérigos e camponeses. Não é bem assim. Há vastas classes de pessoas que, hoje, podemos nos referir como “camponeses”.

Por exemplo, Ian Mortimer, autor do livro “The Time Traveler’s Guide to Medieval England”, aponta que na Inglaterra do século 14 haviam “vilões”, pessoas ligadas à terra de um determinado senhor. Vilões não eram considerados povo livre, e podiam ser vendidos com a terra do senhor.

Aliás, o povo livre em si também era de uma variedade de classes sociais e econômicas. Alguns podiam se tornar bem sucedidos o suficiente para alugar a mansão de um senhor, essencialmente agindo ele mesmo como um senhor. Outros podiam deter a maioria do poder político, atendendo todos os oficiais locais. Podemos pensar em todas essas pessoas como “camponeses”, mas eles certamente não eram iguais entre si.

2. Pousadas eram casas públicas com grandes salões comuns e quartos individuais

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Há poucas imagens tão firmemente enraizadas na fantasia pseudomedieval quanto a “taberna pousada”. Você podia ir a uma delas, desfrutar de alguns garrafões de cerveja na sala comum, ouvir todas as fofocas locais e depois ir até seu quarto alugado privado, onde dormiria sozinho ou com um amante.

Essa imagem não é totalmente ficção, mas a verdade é um pouco mais complicada. Na Inglaterra medieval, se você combinasse uma pousada com uma cervejaria, você provavelmente teria algo parecido com a fantasia acima. Havia estalagens onde era possível alugar uma cama (não um quarto) que também possuíam salões para comer e beber. Nelas, Mortimer explica que você provavelmente iria encontrar um único quarto com várias camas, camas que poderiam caber até três pessoas. Só nas pousadas mais luxuosas seria possível encontrar quartos com apenas uma ou duas camas.

Já estabelecimentos só para beber podiam ser tabernas para vinho ou cerveja. Dos dois, a cervejaria tem mais chances de funcionar como sua fantasia medieval. Mas cerveja e cidra eram feitas muitas vezes em casa também; um marido poderia esperar que sua esposa tivesse a habilidade de fabricação de cerveja. Assim, em uma vila medieval, uma taberna em uma aldeia era muitas vezes a casa de alguém. Se seu vizinho abrisse um novo lote de cerveja, você podia ir até a sua casa, pagar alguns centavos e sentar e beber com ele.

Por fim, havia outras opções de acomodações sem ser pousadas. Os viajantes podiam esperar a hospitalidade de pessoas de classe social igual ou menor, desfrutando de sua comida e cama em troca de contos sobre estrada e uma gorjeta. Ou você podia ir a um hospital, que não era apenas para a cura, mas também para a hospitalidade.

3. Você nunca veria uma mulher envolvida em comércio

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Certamente, algumas histórias de fantasia colocam mulheres em posições iguais (ou relativamente iguais) aos homens, realizando os mesmos tipos de comércios. Em outras ficções, no entanto, uma mulher em uma armadura ou vendendo produtos parece fora do lugar, embora isso não reflita a realidade medieval.

Na Inglaterra, uma viúva podia tocar o comércio de seu marido morto – e Mortimer cita especificamente profissões como alfaiate, armeira e comerciante como abertas às viúvas. Algumas comerciantes foram realmente muito bem-sucedidas, gerindo empreendimentos internacionais com capital impressionante.

Mulheres também se envolviam em atividade criminosa, incluindo o banditismo. Muitas gangues medievais consistiam de famílias, incluindo esposas com seus maridos e irmãs com seus irmãos.

4. As pessoas tinham péssimas maneiras à mesa, jogando ossos e pedaços de comida no chão

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Mesmo na Idade Média, os membros da sociedade educada, de reis a vilões, seguiam certa etiqueta, e essa etiqueta envolvia boas maneiras à mesa. Na verdade, dependendo de quando, onde e com quem você estava comendo, era preciso seguir regras muito exigentes.

Aqui vai uma dica: se um senhor passar-lhe seu copo na mesa de jantar, é um sinal de que você deve aceitá-lo, tomar um gole e passá-lo de volta para ele depois.

5. As pessoas desconfiavam de todas as formas de magia e bruxas eram frequentemente queimadas

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Na maioria dos casos de histórias medievais, a magia é tratada com desconfiança na melhor das hipóteses, ou como blasfêmia na pior. Mas nem todas as reivindicações de magia na Idade Média eram tratadas como heresia.

No livro “Misconceptions About the Middle Ages”, Anita Obermeier elucida que, durante o século 10, a Igreja Católica não estava interessada em julgar bruxas por heresia; estava mais interessada em erradicar superstições heréticas sobre “criaturas noturnas voadoras”. E no século 14 na Inglaterra, era possível consultar um mago ou uma bruxa para resolver problemas pequenos, como encontrar um objeto perdido.

No geral, na Inglaterra medieval, a magia sem quaisquer componentes heréticos era tolerada. Eventualmente, o final do século 15 deu origem a Inquisição Espanhola, e daí sim as bruxas começaram a ser caçadas.

Queima das bruxas não era impossível na Idade Média, mas também não era corriqueira. Obermeier explica que, no século 11, a feitiçaria era tratada como um crime secular, mas a igreja emitia várias reprimendas antes de recorrer a queima. Ela coloca a primeira queima por heresia em 1022 em Orleans e a segunda em 1028 em Monforte. Rara nos séculos 11 e 12, torna-se uma punição um pouco mais comum no século 13 para os hereges recorrentes.

Por fim, a queima também era uma punição que dependia de onde você estava. No século 14, você provavelmente não seria queimado como bruxa na Inglaterra, mas poderia muito bem ser na Irlanda.

6. As roupas eram sempre práticas e funcionais

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Pessoas medievais de várias classes eram interessadas em moda, assim como hoje. Em alguns casos, particularmente a moda masculina ficou muito absurda. Roupas mais antigas eram mais funcionais, mas durante o século 14, os homens na Inglaterra usavam coisas bastante elaboradas e experimentais. Espartilhos e ligas eram comuns para homens, e ficou cada vez mais popular mostrar a forma de seus quadris e pernas. Alguns aristocráticos usavam vestidos com mangas tão longas que dava para tropeçar nelas. Também virou moda sapatos com dedos extraordinariamente longos – um importado da Bohemia alemã tinha 50 centímetros. Houve até mesmo um modismo de usar um manto com o rosto passando pelo buraco do braço em vez da cabeça, com as mangas funcionando como um colar volumoso.

É também importante notar que a moda era hierárquica, passando da realeza a aristocracia até o povo comum. Nas estações seguintes, após uma moda aparecer entre a nobreza, uma versão menos cara aparecia para as classes abaixo. Na verdade, leis existiam em Londres impedindo as pessoas de se vestir acima de sua classe e estação. Por exemplo, uma mulher comum na Londres de 1330 não podia ter capuz de qualquer coisa que não fosse pele de cordeiro ou coelho, sob o risco de perder sua peça de roupa.

7. Servos eram todos pessoas de classe baixa

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Na verdade, se você fosse um indivíduo de alto escalão, você provavelmente teria um servo de alto escalão. Um senhor podia enviar seu filho para servir a outro senhor – talvez na mansão do irmão de sua esposa, por exemplo. O filho não receberia nada, mas ainda assim seria tratado como o filho de um lorde. O mordomo de um senhor podia ser ele mesmo um senhor. O status de alguém na sociedade não vinha apenas do fato de ser ou não um servo, mas também de seu status familiar, de quem ele serve e de qual trabalho desempenha.

Além disso, nas famílias inglesas no final da Idade Média, os servos eram predominantemente masculinos. Mortimer aponta para o conde da casa de Devon, que tinha 135 servos, apenas três mulheres. No geral, com exceção de uma lavadeira (que não vivia na casa), os funcionários eram todos homens, mesmo em famílias chefiadas por mulheres.

8. Medicina era baseada em pura superstição

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Sim, muitas vezes a cura vinha “dos deuses”, e um monte de coisas na medicina medieval era baseado no que poderíamos considerar hoje besteira mística. Uma grande quantidade de diagnóstico envolvia astrologia e teoria humoral. A sangria era um método respeitado de tratamento, e muitos dos curativos não eram apenas inúteis – eram francamente perigosos.

Ainda assim, alguns aspectos da medicina medieval eram lógicos mesmo para os padrões modernos. Envolver pacientes de varíola em pano de carmesim, o tratamento da gota com plantas do gênero Colchicum, usar óleo de camomila para dor de ouvido – todos esses eram tratamentos eficazes. E, enquanto a noção de um cirurgião-barbeiro é horrível para muitos de nós, alguns desses cirurgiões eram realmente talentosos. John Arderne, por exemplo, já empregava anestésicos em sua prática, e muitos médicos eram hábeis em tratar catarata, costurar abscessos e reposicionar ossos deslocados.

9. A mais poderosa força militar era composta de cavaleiros em armaduras

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James G. Patterson em “Misconceptions About the Middle Ages” afirma que, embora a imagem do cavaleiro montado possa ter sido popular durante a época medieval, não corresponde à realidade da guerra na época. A cavalaria podia ser extremamente útil contra revolucionários não treinados, mas era muito menos eficaz contra a infantaria estrangeira treinada. Em vez disso, as forças terrestres, incluindo cavaleiros a pé que frequentemente serviam como oficiais, eram de extrema importância na batalha. Mesmo durante as Cruzadas, quando a imagem do cavaleiro parecia sinônimo de glória, a maioria das batalhas reais envolviam cercos.

No século 14, a guerra inglesa focou cada vez mais no tiro com arco. Na verdade, Eduardo III proibiu a prática de futebol em 1331 e novamente em 1363, em parte porque as pessoas estavam gastando muito tempo jogando bola ao invés de praticar arco e flecha. Os arqueiros ingleses eram muito dinâmicos e foram capazes de repelir uma força da cavalaria francesa.

10. Apenas o prazer sexual dos homens era importante

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É fato que a mulher não tinha exatamente um papel elevado na Idade Média, mas pelo menos era reconhecido que elas também podiam gostar da coisa.

Uma crença comum durante a Idade Média era de que as mulheres eram mais lascivas do que os homens. Muito mais, na verdade. O estupro era um crime na Inglaterra Medieval do século 14, mas não entre os cônjuges. A esposa não podia legalmente recusar os avanços de seu marido, mas o marido também não podia recusar os avanços de sua esposa. A crença popular era que as mulheres estavam sempre ansiando por sexo, e que era ruim para a sua saúde não ter relações sexuais regularmente.

O orgasmo de uma mulher também era importante; outra crença comum era de que uma mulher não podia engravidar sem um orgasmo. Infelizmente, isso tornava impossível para vítimas de estupro grávidas condenarem seu atacante. [io9]

1 comentário

  • Felipe Silva:

    Muito interessante, um livro bom sobre o tema é luz da idade média de regine pernoud aonde a autora esclarece diversos mitos

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